terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O Papa será exigente com a Igreja em sua viagem ao México


Entrevista com o professor Carriquiry: “O Papa lhes pedirá que não vivam às custas do seu grande patrimônio e que se proponham a fundo a conversão pessoal, pastoral e missionária”.
profesor Carriquiry
2 FEVEREIRO 2016 SERGIO MORA IGREJA E RELIGIÃO
 profesor Carriquiry

O santo padre Francisco viajará ao México a partir da próxima sexta-feira, 12 de fevereiro, até a quarta-feira, 17. Será a quarta viagem apostólica do pontífice argentino ao continente americano: a primeira foi ao Brasil para a JMJ, a segunda para a Bolívia, Equador, Paraguai e a última Cuba e Estados Unidos.

Ainda faltando alguns dias para começar essa viagem, ZENIT teve a oportunidade de conversar com o professor Guzmán Carriquiry, secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL), com o cargo de vice-presidente, que já declarou algumas peculiaridades da viagem.

O professor Carriquirry disse que “é a primeira viagem à América que o Papa Francisco dedica inteiramente a um só país por cinco dias”, no qual será recebido por um grande calor popular. E afirma que “talvez em nenhum outro lugar como no México e Filipinas tenha tal abraço do povo com o pastor Universal”.

Uma viagem que acompanharão com atenção não só todos os mexicanos sem distinção, mas também os povos da América Latina, Estados Unidos e Canadá e toda a catolicidade.

“É como se fosse previsto – assegurou o secretário da CAL – que uma viagem do Papa ao México se transforme sempre em um grande acontecimento”. Acrescentou que “a de João Paulo II, em janeiro de 1979, marcou o seu pontificado e o estilo das cinco viagens apostólicas posteriores” e lembrou que Bento XVI, apesar do pouco que pode viajar para a América Latina, quis ir ao país asteca.

Um ponto importante a considerar, segundo ele, é que “o México é o país com o maior número de católicos depois do Brasil”, não esquecendo que “recebeu muitos presentes da providência de Deus, como foi a primeira gestão missionária realizada pelos membros das ordens mendicantes reformadas segundo a observância. Aqueles ’12 apóstolos’ franciscanos, que estão na origem da primeira evangelização, queriam nada mais e nada menos que implantar a comunidade primitiva segundo o paradigma dos Atos dos Apóstolos entre os indígenas”. “O México recebe também como dom da providência – acrescentou o professor uruguaio – nada menos do que a nova visitação da Mãe de Deus, a Virgem Imaculada, que traz no seu ventre o Filho para gerar um povo de filhos e irmãos em meio à grande violência e lacerações. E que se converte em Mãe dos novos povos e lhes acompanha desde o início, em todas as vicissitudes e momentos fundamentais de sua história”.

Em terceiro lugar destacou “o dom do martírio de muitíssimos dos seus filhos. E o repetimos com Tertuliano: o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”, ao que se acrescenta que “o povo de Deus no México recebeu no século XIX e XX – talvez como nenhum outro – uma multidão de carismas fundacionais, de congregações religiosas e movimentos eclesiais”.

Por todas estas razões, explicou Carriquiry, entende-se “que hoje em dia existam missionários mexicanos ad gentes um pouco por todos os lados. É significativo que exista também, como dom da providência, o seminário da cidade de Puebla com o maior número de seminaristas e sacerdotes do mundo, uns 900”.

Outra característica importante, acrescentou o número dois da Comissão Pontifícia, é que o Papa quer sempre ir para as cidades que não foram visitadas. “Claro, irá à Cidade do México, onde está Nossa Senhora de Guadalupe. Mas irá também a três periferias críticas, cruciais”.

Assim, observou que “no sul o Papa irá a Chiapas, a área mais pobre desse país de grandes contradições e concentrações de riqueza; na diocese que teve como bispo Frei Bartolomé de las Casas e onde passa a peregrinação quaresmal dos migrantes da América Central; Em Michoacan, onde a violência do narcotráfico é impressionante, mas também aquela religiosidade popular que tem suas origens no testemunho e no trabalho formidável do Tata Vasco de Quiroga, o seu primeiro bispo; e depois irá à Ciudad Juarez, que só com nomeá-la recorda o feminicídio prolongado durante anos, a violência do narcotráfico, a sua fronteira com o muro, uma cidade em condições tremendas e terríveis “.

Claro, que essa tradição católica do México, diz, “tem de ser cultivada, e é essencial para que se reanime, se torne carne na vida das pessoas, das famílias e do povo mexicano. E penso que o Papa será e tem que ser muito exigente com a Igreja mexicana, porque um povo que recebeu tantos dons tem, não só que guarda-los, mas também atualizá-los, cultivá-los e fazê-los frutificar, para bem do próprio povo e de toda a catolicidade”.

Carriquiry, entretanto, advertiu que “a Igreja mexicana não pode continuar vivendo às custas do patrimônio que recebeu. Cada mexicano estará chamado a um renovado encontro pessoal com Cristo. Por sua parte, os pastores devem considerar cuidadosamente a conversão pastoral”. Uma conversão pastoral, considerou, que “é olhar para o Papa e aprender como pastor, com essa proximidade misericordiosa, solidária, cheia de ternura e compaixão pelo próprio povo”. Além do mais “os sacerdotes mexicanos estão chamados a uma formação espiritual e cultural muito mais exigente”. Todos estamos chamados sempre a um “mais e melhor”.

Também indicou que torna-se necessário “superar tudo o que existe de clericalismo no México”. Embora reconheceu que “com razão a Igreja mexicana pode lamentar-se de que durante muito tempo foi marginalizada da vida pública, política, cultural, editorial e demais”, não pode esquecer-se que “a presença dos leigos em todos os aspectos da vida pública não foi suficientemente educada, encorajada e sustentada”.

“Por isso acho que – concluiu o secretário da CAL – que a visita do Papa ao santuário de Nossa Senhora de Guadalupe será essencial, porque lá falará com a padroeira do México, e ao mesmo tempo a padroeira da América Latina e a Imperatriz de todo o continente americano”. Zenit

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