terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Raça humana: conceito furado!

A divisão de pessoas por raça nunca foi um processo natural, mas um subproduto do iluminismo.
Por Lev Chaim*
Quando se ouve um pianista tocar, presta-se atenção na música; quando se ouve um cantor, na voz. Por que, então, quando se depara com uma pessoa de cor, associa-se imediatamente ao rótulo ‘raça negra’? É uma coisa científica ou apreendida com o tempo, numa rotulação pela aparência, sem qualquer embasamento mais forte? Não se coloca rótulos apenas pela cor da pele, não é mesmo?
A divisão de pessoas por raça nunca foi um processo natural, mas um subproduto do iluminismo do século 18. O filósofo Bento de Spinoza e o matemático Isaac Newton foram dois intelectuais geniais que deram os primeiros passos rumo a essa nova época, onde a ‘razão’ era a mola mestra. Foi um movimento da elite cultural europeia do século 18, para a reforma da sociedade e das velhas tradições medievais. Mas, em alguns pontos, destemperou-se.
Foi o que afirmou o Filósofo Justin Smith (americano e canadense) em uma entrevista, por ocasião do lançamento de seu livro na Holanda, “Nature, Human Nature, and Human Difference: race in Early Modern Philosophy. Quando perguntado se ele acreditava na divisão dos homens por raças, a sua resposta foi contundente: “os biólogos não gostam nada disto, tão pouco os filósofos”. Em seu livro, ele conta que a rotulação de pessoas por raça nasceu no século 18, para aparentar a superioridade dos Europeus de ‘raça branca’, para mais tarde, ser sedimentada pela escravidão.
Para Smith e outros cientistas, fatores políticos, históricos e econômicos foram os responsáveis pela catalogação dos seres humanos através da cor da pele. As pessoas estavam tão entusiasmadas em catalogar diferentes espécies de plantas e animais, que acabaram fazendo o mesmo com os homens. Assim, pela primeira vez, nas últimas edições do livro ‘de Linnaeus Systema Naturae’, apareceram 4 categorias de raças: Branca (europeus), vermelha (índios), amarela (asiáticos) e negros (africanos).
Mas, desde os anos 70, esse conceito ‘furado’ já havia sido contestado pelo geneticista Richard Lewontin com o seguinte argumento: aleatoriamente, se for separado duas pessoas de uma mesma cor de pele para exames detalhados, nota-se que as diferenças genéticas são tão grandes quanto as existentes entre duas pessoas de peles distintas. Raça é um fenômeno cultural, sedimentado pela repetição constante do processo, sem qualquer embasamento científico.  
Fala-se que os afrodescendentes norte-americanos têm uma categoria específica de anemia no sangue. Não é uma doença da raça negra, mas de um grupo de uma determinada tribo de uma região africana, que forneceu escravos aos Estados Unidos. E dai? Existem outras tribos com outros problemas!
Portanto, necessita-se reavaliar o (pre)conceito e parar de rotular as pessoas em raças. Foi um costume que teve início por acidente no iluminismo e acabou sedimentado pelo processo da escravidão. Aqui, vale a seguinte frase: “Perante Deus ou a Natureza, somos todos  iguais”. Ou se quiserem: ‘não julguem as pessoas pela cor da pele, pois pele não é um rótulo de identificação’.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o DomTotal.

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