Por mais que não se esteja no Brasil ele está na gente
Por Ricardo Soares*
Paris - Aí, Brasil, faz calor. Aqui, Paris, faz frio. Aí ,Brasil, afundam reputações, esquecem das notícias para dar manchete às fofocas. Aqui, Paris, Sarkozy, o ex, tem solução para tudo. Aécio da mesma moeda. Aqui Hollande titubeia tal qual Dilma cuja nau deriva, corcoveia. Aí, Brasil, a polícia paulista se ufana em ser brutal. Aqui, desconfiam de todos , fazem revista para entrar em museus, lojas e outros estabelecimentos.
É curioso operar ao mesmo tempo em duas frequências. Por mais que não se esteja no Brasil ele está na gente.Por mais que nos afastemos das notícias, das imprecisões , das nefastas toxinas midiáticas que nos são lançadas via Globo, Veja, Folha e demais quejandos elas acabam chegando. Não há fronteiras no mundo internético, que, coitado, imagina-se livre. Na verdade nunca fomos tão presos.
Dizer daqui que não amo mais meu país seria uma tremenda falácia. Sou brasileiro até a mais profunda raiz dos meus desacertos . Até por isso gostaria que ele desse certo nesse momento em que parece andar tão para trás. Procuro daqui ver também nossos acertos e qualidades mas , confesso, está difícil vislumbrar país alvissareiro diante de tanta neblina fétida. Impressionante como a ignorância grassa, cria raízes, transforma suposições em fatos. Realmente estamos na era das mentiras repetidas que viram verdades.
Ontem um jovem turco entrou doidaço no vagão do metrô parisiense onde eu estava. Cambaleava de um lado para o outro e quase desaba em cima de mim. “Excuse moi, monsieur”, pronunciou com seu francês arrevesado. Falou alto no seu idioma nativo durante uns dez minutos. Um monólogo de indignação, pelo tom que se expressava, que não foi compreendido por ninguém. Por fim sentou-se , olhos turvos , e contemplou ,entre cínico e divertido , um africano que começou a tocar sua flauta doce em busca de uns trocados. Na verdade o jovem turco queria entender. Me faço como ele. Inebriado por um país onde não vivo mas estou , faço um discurso interno de indignação que ninguém escuta. Na verdade só quero entender, assim como o jovem turco, que música chega aos meus ouvidos desde o Brasil. Estamos ouvindo um requiem para uma nação que poderia ter sido ou há chances de voltarmos a ser um samba exaltação?
Paris - Aí, Brasil, faz calor. Aqui, Paris, faz frio. Aí ,Brasil, afundam reputações, esquecem das notícias para dar manchete às fofocas. Aqui, Paris, Sarkozy, o ex, tem solução para tudo. Aécio da mesma moeda. Aqui Hollande titubeia tal qual Dilma cuja nau deriva, corcoveia. Aí, Brasil, a polícia paulista se ufana em ser brutal. Aqui, desconfiam de todos , fazem revista para entrar em museus, lojas e outros estabelecimentos.
É curioso operar ao mesmo tempo em duas frequências. Por mais que não se esteja no Brasil ele está na gente.Por mais que nos afastemos das notícias, das imprecisões , das nefastas toxinas midiáticas que nos são lançadas via Globo, Veja, Folha e demais quejandos elas acabam chegando. Não há fronteiras no mundo internético, que, coitado, imagina-se livre. Na verdade nunca fomos tão presos.
Dizer daqui que não amo mais meu país seria uma tremenda falácia. Sou brasileiro até a mais profunda raiz dos meus desacertos . Até por isso gostaria que ele desse certo nesse momento em que parece andar tão para trás. Procuro daqui ver também nossos acertos e qualidades mas , confesso, está difícil vislumbrar país alvissareiro diante de tanta neblina fétida. Impressionante como a ignorância grassa, cria raízes, transforma suposições em fatos. Realmente estamos na era das mentiras repetidas que viram verdades.
Ontem um jovem turco entrou doidaço no vagão do metrô parisiense onde eu estava. Cambaleava de um lado para o outro e quase desaba em cima de mim. “Excuse moi, monsieur”, pronunciou com seu francês arrevesado. Falou alto no seu idioma nativo durante uns dez minutos. Um monólogo de indignação, pelo tom que se expressava, que não foi compreendido por ninguém. Por fim sentou-se , olhos turvos , e contemplou ,entre cínico e divertido , um africano que começou a tocar sua flauta doce em busca de uns trocados. Na verdade o jovem turco queria entender. Me faço como ele. Inebriado por um país onde não vivo mas estou , faço um discurso interno de indignação que ninguém escuta. Na verdade só quero entender, assim como o jovem turco, que música chega aos meus ouvidos desde o Brasil. Estamos ouvindo um requiem para uma nação que poderia ter sido ou há chances de voltarmos a ser um samba exaltação?
*Ricardo Soares é escritor, roteirista, diretor de tv e jornalista. Autor de sete livros foi cronista do "Estadão" e outros jornais. Dirigiu as revistas Trip, HV e Raiz e foi diretor de conteúdo e programação da EBC.
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