“A Série Divergente: Convergente” é a primeira parte, que recebe o nome original da publicação.
Por Nayara Reynaud
Fazendo parte de um grupo crescente de adaptações de sagas literárias juvenis que ganharam a chance de finalizar sua história nas telas, a franquia baseada na trilogia da escritora Verônica Roth segue uma nova prática de suas semelhantes bem-sucedidas, de dividir seu último livro em dois longas.
“A Série Divergente: Convergente” é a primeira parte, que recebe o nome original da publicação, enquanto a segunda e última terá o título de “Ascendente” (2017), talvez para disfarçar o golpe de marketing.
Contudo, o filme de Robert Schwentke, por mais que seja divergente de seu material de origem, não faz o mesmo na tentativa de encontrar soluções narrativas para o conturbado capítulo final da série de Roth.
Se ao fim de “Insurgente” (2015), a protagonista Beatrice “Tris” Prior (Shailene Woodley) conseguiu não apenas derrubar o governo totalitário de Jeanine Matthews (Kate Winslet) e a própria, mas abrir a tal caixa misteriosa contendo uma mensagem dos Fundadores convidando-os para conhecer o mundo além dos muros de uma distópica e futurista Chicago, a garota agora vai explorar essas novas terras.
Para isso, ela tem de enfrentar o cerco criado por Evelyn (Naomi Watts), líder dos Sem-facção – lembre-se que tudo se inicia nessa sociedade dividida em cinco facções definidas pelas características mais aparentes na personalidade de cada indivíduo – e mãe de seu namorado Tobias, o “Quatro” (Theo James), que agora comanda a região, apesar da oposição de Johanna (Octavia Spencer), ex-Amizade e agora guia dos Fiéis, que preferem preservar o antigo sistema.
Com a ajuda de seu parceiro e levando a tiracolo seu irmão Caleb (Ansel Elgort), que a traíra no episódio anterior, o dúbio Peter (Miles Teller) e sua amiga Christina (Zoë Kravitz), Tris descobre um mundo devastado por uma espécie de guerra nuclear e um isolado Departamento de Auxílio Genético, dirigido por David (Jeff Daniels).
É ele quem explica que, após o fracasso de um processo de limpeza genética humana, levando a humanidade a constantes conflitos, foram criadas cidades-bolhas em centros como Chicago para servirem de experimento altamente vigiado para o desenvolvimento de indivíduos “puros” como Beatrice. Mas quem acompanha a série sabe que nada, nem ninguém é o que parece neste ambiente.
Assim, a franquia de ficção científica adolescente cada vez mais assume seu gênero, após a busca da individualidade no essencialmente drama juvenil do primeiro longa e as características de distopia mais aparentes no segundo.
Adotando um discurso e um visual pós-apocalíptico, Schwentke e os novos roteiristas Noah Oppenheim, Adam Cooper e Bill Collage, porém, abusam e subutilizam os clichês sci-fi’s das produções da mesma faixa etária e da própria série.
Com o desbravar deste “admirável mundo novo”, sobram explicações em diálogos expositivos prolongados, em um texto em que a obviedade e a artificialidade dão o tom. Além disso, falta ação efetiva de seus personagens principais, que pouco avançam narrativamente.
Na realidade, é gritante como o roteiro é negligente com sua protagonista feminina, embora isso seja um problema já presente no terceiro livro. A franquia que acompanha essa líder feminina forte demonstrada nos filmes anteriores, interpretada por uma boa atriz como Woodley, fragiliza-a nesta nova produção – não enquanto ser humano complexo, mas como um joguete de duas forças masculinas, sem quase nada questionar.
Com uma Tris conformada e apagada, James se destaca nas cenas de ação de Quatro que despertam a plateia, enquanto Teller carrega o Peter no filme com tanta canastrice que dá a impressão de querer livrar-se do papel.
Resta saber se Lee Toland Krieger, diretor de “A Incrível História de Adaline” que assumirá último capítulo, conseguirá encerrar a série cinematográfica de forma mais memorável.
Reuters
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