terça-feira, 29 de março de 2016

Paquistão: Arcebispo de Lahore encoraja cristãos a «seguirem em frente, apesar do peso da sua cruz»


Agência Ecclesia 29 de Março de 2016, às 11:51 
Foto: European Pressphoto Agency
Foto: European Pressphoto Agency

D. Sebastian Shaw visitou sobreviventes do ataque suicida do último domingo, que matou 72 pessoas, entre elas 30 crianças

Lisboa, 29 mar 2016 (Ecclesia) – O arcebispo de Lahore, no Paquistão, visitou no hospital os sobreviventes do ataque suicida do último domingo à comunidade cristã, que vitimou 72 pessoas, entre elas 30 crianças, e deixou 340 feridos.

Em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), enviadas hoje à Agência ECCLESIA, D. Sebastian Shaw sublinhou o cenário “difícil” com que se deparou e que envolve não apenas cristãos mas também membros da comunidade muçulmana que estavam no parque onde decorreu o atentado, em Gulshan-e-Iqbal.

“Visitei cada cama e cada vítima independentemente da sua fé. Foi muito difícil, porque vi muitas crianças com 4, 5 anos, cristãs e muçulmanas, feridas ou assassinadas neste terrível atentado”, descreveu o prelado.

Aos feridos da comunidade cristã, o arcebispo de Lahore quis sobretudo levar “esperança” diante de um futuro que se adivinha “muito difícil”.

O atentado do último domingo já foi reivindicado por um grupo radical muçulmano ligado aos talibãs, que prometeu entretanto que vai continuar a atacar a comunidade cristã do Paquistão.

Nesta conjuntura, D. Sebastian Shaw encoraja os cristãos a “seguirem em frente” com a sua vida, “apesar do peso da sua cruz”, com a certeza de que “Deus estará sempre com eles”.

Contactada pela Agência ECCLESIA, a diretora da Fundação AIS – Portugal realça que o ataque suicida do último domingo “pode ser visto como um aviso às autoridades de Lahore, que tinham declarado o dia como feriado não só para os cristãos mas também para a comunidade hindu".   

Catarina Martins lembra que na base de toda esta violência poderá estar ainda uma retaliação contra o Governo paquistanês, na sequência da recente execução do homem que assassinou em 2011 o então governador de Punjab, Salman Taseer.

Este responsável político foi morto por defender publicamente alterações à lei da blasfémia e por estar ao lado de casos como o de Asia Bibi, uma mulher cristã que está há vários anos encarcerada por alegadamente ter ofendido Maomé.

“O governo tinha tomado medidas excecionais de segurança para as comunidades cristãs celebrassem a Páscoa mas nunca imaginou que pudesse haver um ataque num parque, como este”, realça a responsável da AIS.

Para Catarina Martins, quer a atribuição do feriado quer a execução do assassino de Salman Taseer podem ser vistos como um sinal de que algo está a mudar no governo paquistanês, já que “até há bem pouco tempo”, os responsáveis políticos no Paquistão “fechavam muitas vezes os olhos a estes ataques, não só aos cristãos mas a outras minorias religiosas”.

“Mas infelizmente o Paquistão é um país onde há muitos grupos radicais e estas decisões do governo não vão ser bem aceites. Daí que tenham ameaçado que continuarão a fazer estes ataques”, aponta Catarina Martins, que sublinha que esta questão vai muito além das diferenças religiosas e de fé.

“A comunidade cristã é vista no Paquistão como o Ocidente, sempre que há alguma coisa que o Ocidente possa fazer contra países de maioria muçulmana, a comunidade cristã é responsabilizada por tudo isto”, conclui.

JCP

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