sábado, 23 de abril de 2016

Cartografia de si

Gilmar P. da Silva SJ 22/04/2016


/ Créditos: Divulgação
Olhar o passado tem muito a ver com o projetar do futuro. Afinal de contas, acerta o caminho para onde se vai quem sabe de onde veio. Aliás, não só isso, o destino costuma ser consequência do caminho trilhado.

Em determinados momentos da vida faz-se necessário reajustar as rotas. Acontece que as opções que vão sendo tomadas reconfiguram a pessoa de tal forma que aquilo que se apresentava como melhor opção para si passa a não ser mais. Não quer dizer que o primeiro objetivo traçado estava errado, mas que era o melhor para a pessoa que se era, não para a que se é no momento presente.

Com tantas mudanças, vale se perguntar sobre quem se é, quem se foi e o que gerou tais mudanças. Talvez algumas metas já tenham sido alcançadas e constituam apenas pontos pequenos na construção de um modo de vida, de um todo maior. E eis algo que é importante separar: o tipo de pessoa que se quer ser dos elementos que contribuem na construção desse modo de vida. Não obstante, são esses mesmos elementos que vão tornando a pessoa no que ela é.

Quando se olha a própria história, há de se observar elementos que se agrupam compondo uma espécie de desenho, como numa constelação. Há quem olhe o próprio passado e perceba como que um fio alinhavando os fatos da vida e compondo uma espécie de desenho. Daí há quem se leia desde a perspectiva do cuidado e verá que esse princípio marcou sua história. Talvez tenham encarnado o cuidar por meio de uma profissão que o expressasse, como enfermagem, ou tenham gerado filhos motivados pelo mesmo desejo. Outros se lerão pela ótica da mediação, outros da beleza, outros da justiça etc. Cada qual construirá o sentido sobre si segundo um modo muito particular. E assim, as escolhas vão compondo um modo de ser – no exemplo dado, o ser cuidador – ao passo que a centralidade da vida nesse princípio – no exemplo, o cuidado – baliza as escolhas.

Contudo, não é porque alguém seja mãe ou faça enfermagem que sua vida tenha o cuidar como princípio. Há de se olhar a história pessoal como um todo e perceber, nesse horizonte de sentido, aquilo que motiva as escolhas e aquilo que as escolhas apontam, o de onde se veio e para onde se vai, os motivos e os objetivos. Esse trabalho consiste numa cartografia de si mesmo, um situar-se em si.  Ao dar-se conta da própria vida, a pessoa pode escolher os terrenos existenciais que quer explorar.
 
Nós – Grupo Galpão
 
O Grupo Galpão revisita a si no seu novo espetáculo, Nós. Segundo Eduardo Moreira, que assina a dramaturgia da peça com o diretor Marcio Abreu, “NÓS somos nós, esse coletivo que caminha para seus 34 anos de existência e nós, seres humanos e artistas de teatro para lá dos cinquenta, com suas perplexidades, questões, angústias, algumas esperanças e muitos nós.".

Nós é a história de sete pessoas que partilham os nós de suas vidas, com suas angústias e esperanças, enquanto preparam a última sopa. Aliás, a imagem da sopa é muito importante e evoca, de algum modo, a chamada Teoria do Caldo Nutritivo, que explica a origem da vida na Terra. Somos filhos da sopa. E no ferver desse caldo, vão emergindo questões atuais como a violência, a intolerância, a convivência com a diferença, a partir de uma dimensão política.

A temporada vai até o dia 15 de maio. As sessões são de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h, no Teatro Wanda Fernandes do Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3413, Sagrada Família). Ingressos a R$40 e R$20 (meia). Classificação indicativa: 16 anos. Duração: 90 minutos. Gênero: teatro contemporâneo.

Venda antecipada pelo www.sympla.com.br/galpaocinehorto


Gilmar P. da Silva SJ
Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário