O filme sustenta com realismo o clima frenético dentro da emissora de TV.
Cena do filme "Conspiração e Poder", de James Vanderbil.
Por Neusa Barbosa
No ano em que um drama jornalístico “Spotlight – Segredos Revelados” conquistou o Oscar de melhor filme, “Conspiração e Poder” aprofunda a discussão, incorporando uma temática ainda mais política.
A história deste novo filme saiu diretamente das páginas de um livro, em que a jornalista Mary Mapes resgata os bastidores de um rumoroso caso, ocorrido em 2004, que abalou sua carreira como produtora e a do veterano âncora, Dan Rather, no canal norte-americano CBS.
O motivo: reportagens envolvendo papeis que provariam que o então presidente, George W. Bush, em plena campanha para sua reeleição, havia sido protegido pelos altos contatos de sua família para não servir na guerra do Vietnã. Além disso, W. Bush teria recebido tratamento preferencial nas fileiras mais seguras da Guarda Nacional, até ali faltando aos seus deveres funcionais, sem consequências.
O diretor estreante, James Vanderbilt, tem larga experiência como roteirista de filmes de ação, como “O Espetacular Homem-Aranha” (2012) – e é ele também quem adapta este roteiro. Neste território estranho à sua experiência anterior, Vanderbilt revela-se um diretor capaz de manter o suspense, mesmo numa história cujo fim muitos podem conhecer, contando com um elenco afinadíssimo, encabeçado por dois atores de carisma acima de qualquer suspeita: Cate Blanchett, como Mary Mapes, e ninguém menos do que o veterano Robert Redford na pele de Rather.
Amparado na legitimidade de quem já interpretou, há exatos 40 anos, o jornalista Bob Woodward num dos mais célebres dramas jornalísticos, “Todos os Homens do Presidente” (1976), Redford é um centro de gravidade ao longo da trama. Com suas perguntas precisas e experiência, o âncora do influente programa “60 Minutes” faz o contraponto à elétrica curiosidade de Mary, uma produtora de TV reconhecida, que acaba de denunciar os abusos de Abu Ghraib (cuja reportagem receberia depois o prêmio Peabody).
Tudo começa com papeis, que seriam depois conhecidos como “os documentos Killian”, cópias de relatórios militares que comprovariam as omissões do jovem Bush no serviço militar – faltando a um exame físico obrigatório e acumulando faltas no serviço ativo especialmente depois de pedir transferência de uma base no Texas para o Alabama, onde se dedicou a uma campanha política.
Os documentos, fornecidos por um coronel aposentado, Bill Buckett (Stacey Keach), são fotocópias – os originais, segundo se acredita, foram destruídos. Mas o conteúdo é bombástico, especialmente no meio de uma campanha à reeleição em que o candidato democrata, John Kerry, está sendo massacrado naquele momento exatamente por acusações de ter mentido sobre seu heroísmo no Vietnã.
O filme sustenta com realismo o clima frenético dentro da emissora de TV, com a produtora lutando para obter entrevistas de militares e peritos, para confirmar a legitimidade dos papeis. Há pressões, também, da direção da CBS para que a matéria vá ao ar rapidamente, antes que sejam furados pela concorrência, que também já tem pistas sobre a história – cujas primeiras matérias, curiosamente, foram publicadas já em 2000, pelo mesmo jornal “The Boston Globe” que denunciou a pedofilia na igreja católica retratada em “Spotlight”.
Com uma equipe dedicada, que conta com um ex-militar (Dennis Quaid), uma professora de jornalismo (Elisabeth Moss) e um jovem pesquisador (Topher Grace), Mary e Dan celebram o que parece ser a consagração das carreiras de todos e da própria CBS. Mas haverá o dia seguinte, em que serão submetidos a uma implacável campanha de desmoralização, por trás da qual se insinuam pressões políticas do alto escalão, ou seja, da Casa Branca.
Equilibrado, o filme oferece elementos para que se discutam prováveis erros na apuração conduzida por Mary e sua equipe. Todos eles, afinal, serão alvo de uma investigação interna, da qual não escaparão imunes. Mas fica no ar o que é principal e não acessório: a veracidade das informações sobre o pouco digno passado militar do presidente, afinal reeleito naquele ano, e que foram investigadas também por outros órgãos de imprensa, como o jornal “Los Angeles Times”.
Reuters
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