domingo, 24 de abril de 2016

Moore e Page em drama sobre direitos LGBTT

No centro da discussão esta o direito à igualdade.
O isolamento e invisibilidade delas são quebrados pelo advogado de direitos humanos.
O isolamento e invisibilidade delas são quebrados pelo advogado de direitos humanos.
Por Rodrigo Zavala
Um dos marcos mais tocantes na luta pela igualdade de direitos da comunidade LGBTT dos Estados Unidos é, sem dúvida, o caso de Laurel Hester contra a cidade de Ocean County, Nova Jersey, em 2005, mostrado no filme "Amor Por Direito".
Condecorada detetive de polícia, com 23 anos de experiência, ela foi diagnosticada com câncer terminal e teve que lutar, não apenas contra o próprio destino, mas contra o conservadorismo local para deixar sua pensão à companheira, Stacie Andree.
No centro da discussão estava o direito à igualdade. Laurel e Stacie moravam juntas, reconstruíram uma casa onde viviam e eram legalmente "domestic partners" (companheiras domésticas), a união estável americana. Quando se viu à beira da morte, quis colocar sua companheira como beneficiária da pensão proveniente dos anos de polícia, mas o caso foi julgado improcedente por ser um casal homoafetivo. Era o início de uma longa batalha.
Essa luta foi o foco do filme "Freeheld" (de Cynthia Wade), que recebeu o Oscar de melhor documentário curta-metragem em 2008, pela sensibilidade com que tratou o tema. Um prêmio que evidenciava a força de uma narrativa bem montada, mas também um senso de justiça, o que motivou o roteirista Ron Nyswaner, de "Filadélfia" (1993), indicado ao Oscar de melhor roteiro original, a levar mais uma vez este drama humano às telas.
Dirigido por Peter Sollett, conhecido pela celebração indie adolescente "Uma Noite de Amor e Música" (2008), o drama "Amor por Direito" tenta se ater aos fatos. Laurel (Julianne Moore) e Stacie (Ellen Page) vivem o casal, que se mantém às escondidas com receio de que assumir o relacionamento prejudicaria na carreira policial. Posição, aliás, unilateral da detetive.
Nas cenas tratadas supostamente como fatos, Nyswaner e Sollett, em um primeiro momento, tentam fazer quem assiste identificar-se com Laurel. Uma excepcional detetive, ela vive para defender a comunidade de traficantes e assassinos, ao lado do parceiro Dane (Michael Shannon).
Com o envolvimento cada vez maior com Stacie (19 anos mais nova)  tratado de maneira bastante frágil, a trama ganha seu real significado e volta-se para o casal. Elas constroem um lar, sujeitam-se às restrições da lei (não podem casar, mas celebram uma união legalmente capenga), até a saúde de Laurel ditar o futuro.
O isolamento e invisibilidade delas são quebrados pelo advogado de direitos humanos Steven Goldstein (Steve Carell), personagem um tanto caricato, tendo em vista a postura de quem o inspirou. De um caso particular (e isso o filme mostra), a comunidade LGBTT o transforma em ícone. Não se trata mais de uma luta por igualdade, mas também sobre a legalidade do casamento entre pessoas do mesmo dito gênero.
No drama tirado da vida real, Julianne Moore mais uma vez emociona. Ellen Page, que atribuiu à experiência em trabalhar neste filme a de assumir a própria sexualidade, também invade a tela com sua interpretação reservada de Stacie. E Shannon, no papel daquele que jamais se pensa como aliado, dá coesão a este trio em busca de justiça.
Neste quarteto talentoso, que inclui Steve Carell, falta, no entanto, uma perspectiva mais envolvente. O diretor Peter Sollett não lida com os conflitos, públicos sobre a questão, mesmo entre os protagonistas, usando uma lógica binária entre quem quer justiça e os conservadores.
Laurel quis apenas equidade na polícia. Transformou-se num exemplo pelos direitos civis. E Sollett não consegue levar esse contexto adiante, tal como Ron Nyswaner, com um roteiro bastante conservador. Em uma era em que direitos estão cada vez mais em pauta, o filme poderia ser mais icônico.

Reuters

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