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Se depender do portugueses, os Duques de Bragança jamais voltarão ao trono de Portugal.
Ilustração de Marguerita Bornstein
Por Lev Chaim*
Quando partimos de Lisboa para o norte do Alentejo, na altura da cidade de Portoalegre (não me enganei não, em Portugal escreve-se tudo junto), a minha cabeça ainda estava matutando os acontecimentos do dia anterior. Chegamos à capital portuguesa às 10 da manhã e havíamos marcado um lanche com minha irmã Ana Tereza e sobrinhos, num restaurante no Chiado, ao lado do teatro São Carlos, para as 12 horas. Nesta mesma tarde, às 16 horas, eles partiriam para o Porto, no norte do país.
O encontro mesmo seria em frente ao Café a Brasileira (rua Garret), onde tem uma estátua de Fernando Pessoa, sentado em uma das mesas e é conhecido de todos eles que já estavam na cidade há alguns dias. E o lanche seria num restaurante ali bem próximo. Ariel disse que ficaria ali a espera e pediu para que fosse ao restaurante, junto com a nossa amiga Ellen, para já pegarmos uma mesa no terraço. Assim foi feito. Não foi problema, pois àquela hora ainda era cedo e havia muitas mesas livres. Pegamos duas juntas à sombra.
Não é que neste instante, levantou-se de uma das mesas do terraço, para entrar no restaurante, um casal muito conhecido através das revistas, mas nunca o havia encontrado pessoalmente. Eram os duques de Bragança, Dom Duarte e Dona Isabel, pretendentes ao trono de Portugal, caso o país voltasse a ser monarquia. Eles estavam em todas as festas da aristocracia reinante europeia, como representantes de Portugal.
Levantei-me e fui ao encontro do casal já dizendo que estava encantado de encontra-los ali. Eles sorriram e pelo meu sotaque já notaram que vinha do Brasil. Perguntei se eles ainda tinham contato com os príncipes brasileiros e mais do que depressa disseram que sim. Perguntei se podia fazer uma foto com eles e a resposta simpática veio logo a seguir: “É claro, e a sua amiga, não quer também fazer uma foto junto contigo?”. Foi neste momento que chamei a Ellen, que posou ao lado dos príncipes, junto comigo, para uma foto feita pelo senhor que os acompanhava.
Depois da foto, Dom Duarte ainda pediu um cartão meu para enviar noticias da monarquia portuguesa e eu lhe dei imediatamente. Naquele momento, confrontei-me com a pergunta curiosa da Ellen: “Lev, quem são? Parentes seus?” Rindo, eu lhe expliquei que eles eram os duques de Bragança, pretendentes ao trono do pais. Neste momento, ela arregalou os olhos, estufou o peito e falou: “Por que não me disse, tirei a foto toda desleixada, sem entender nada porque falavam em português!”. Tive que rir com a preocupação da Ellen.
Neste meio tempo, apareceu o Ariel, minha irmã e os sobrinhos todos. Eles haviam ido ao museu Oceanógrafo e tinham se atrasado um pouco. Ainda tinham que voltar, fechar as malas, pegar dois taxis e partirem para a estação ferroviária de onde seguiriam para o Porto. Resolvemos comer algo rápido, leve, como bolinhos de carne e bacalhau, refrigerantes e cerveja.
Quando contei para a minha irmã, ela ficou também encantada com a notícia de que os príncipes de Orleans e Bragança estavam ali dentro do restaurante naquele momento. Os outros conheciam o sobrenome mas não faziam a mínima ideia de quem seriam eles. A juventude. Conversamos rápido, comemos rápido, curtimos e logo eles se foram para recolher as malas.
Nós ainda ficamos ali, comemos um lanche mais substancial, com um copo de vinho branco seco. Ao perguntar à garçonete portuguesa se ela sabia que os duques de Bragança estavam ali, ela me respondeu com uma pergunta: “Quem são eles?” Que os jovens brasileiros não soubessem direito, tudo bem, mas uma portuguesa! Não é que depois, conversando com mais gente, percebi que eles também não sabiam. Conclusão: se depender do povo português, os Duques de Bragança jamais voltarão ao trono de Portugal.
Quando olhei no relógio, eram vinte para as quatro da tarde. Perguntei a Ellen e ao Ariel se eles estavam dispostos a ir de taxi até a estação para nos despedirmos da minha família mais uma vez. E não é que fomos. Eles, que já estavam sentadinhos dentro do trem, ficaram surpresos e alegres. Ainda tínhamos uns dez minutos antes da partida do comboio (como os portugueses denominam o trem). Eles desceram e fizemos uma festa. Quando o trem começou a partir devagarinho, corremos pela plataforma acenando. Que delícia de encontro!!!
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.
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