sexta-feira, 22 de julho de 2016

Maria Madalena, Apóstola do Ressuscitado

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A experiência feita no encontro com Jesus a tornou decidida em continuar no Caminho.
As atitudes de Madalena revelam o que acontece em quem ama e não mede esforços pela Libertação.
As atitudes de Madalena revelam o que acontece em quem ama e não mede esforços pela Libertação.

Por Ir. Ana Maria de Castro*

“Ressuscitado na madrugada do primeiro dia depois do sábado, Jesus aparece primeiramente a Madalena” (Mc 16,9). É de se notar que, nesse texto e em outros nos quais aparece Maria Madalena, os evangelistas insistem em dizer que o Ressuscitado aparece primeiro a essa mulher; é ela, então, a primeira testemunha da Ressurreição.  Madalena era conhecida como a mulher a quem Jesus tinha expulsado sete demônios e que, após ser libertada, teve aberto o horizonte de sua vida, tornando-se a ‘discípula’, a seguidora fiel do Mestre. Imagina-se não ter sido fácil para Madalena, uma mulher que recebeu a libertação do espírito mal, receber a confiança dos Apóstolos, numa realidade social na qual a mulher sofria tantos preconceitos e discriminações. A coragem e a determinação de Madalena a transformou de discípula em ‘apostola’ do Ressuscitado. Esta transformação foi um processo, vivido no grupo do Mestre, fazendo todos os dias o Caminho com Jesus.  Foi no cotidiano, como diz o ditado popular: “comendo sal todos os dias”, que Madalena tomou sempre mais consciência de que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus! Ela enfrentou dificuldades em ser acolhida e valorizada, mas a experiência feita no encontro com Jesus a tornou firme e decidida em continuar no Caminho. As atitudes de Madalena revelam o que acontece em quem ama e não mede esforços para conseguir a Libertação, transformando-se assim de escrava e oprimida em Apóstola. O que transformou Maria Madalena foi seu encontro com o Ressuscitado; ela não vê a ressurreição, não precisa ver o fato; importante e fundamental é viver as exigências do Ressuscitado, o que o encontro com Ele provoca nela. O que Madalena, a apóstola do Ressuscitado anuncia é que não é mais possível ficar fechados no egoísmo, presos em casa, somente lamentando desafios, mortes, dores, o que não foi possível realizar, queixando da hodierna sociedade. O Ressuscitado ensina a Madalena que precisa ir ao encontro daqueles que sofrem e anunciar para os mesmos a certeza de que não estão sozinhos, pois Cristo Vive, está presente e não abandona quem sonha e enfrenta desafios para construir o Novo Reino. A Missão da apóstola do Ressuscitado está em sintonia com o anuncio que a Igreja hoje transmite na figura do papa Francisco, que grita em várias formas e convida a todos a abraçarem a cultura do encontro, da proximidade, da solidariedade, da partilha, da humanidade, da alegria; testemunhar o Evangelho, saindo dos confortos e abraçando aqueles que esperam atenção e ternura. Madalena, sentindo-se libertada dos demônios por Jesus, fez a experiência de ser vista, percebida por alguém, de sentir a força de um olhar misericordioso, a segurança de uma mão estendida. Ela sabe o que é ressurgir, ter uma nova oportunidade para viver e servir. O Evangelista, usando a expressão forte de ‘sete demônios’, queria dizer que, para Madalena ter percebido que alguém viu estes seus ‘sete demônios’, foi uma experiência muito forte e cheia de significado, que mudou seu modo de ser. Daquele momento em diante ela não precisaria mais se esconder da sociedade, dos que a olhavam desconfiados, dos que a colocavam à margem, pois, possuir demônios, é algo fora do que Deus deseja para o ser humano, e Madalena carregava sete demônios. Por que tantos assim? O que aconteceu com esta mulher? que demônios são esses? Quem na realidade é esta endemoninhada? O Evangelista faz questão de apresentar a grande fragilidade de Madalena (cf. Mc 16, 9; Lc 8, 2) e no mesmo tempo quer confirmar que sua fragilidade humana, recuperada pela Misericórdia, pode ser transformada em força e determinação na sua missão de apóstola.  O que os trechos dos Evangelhos focalizam em Madalena é principalmente a transformação positiva e vital que aconteceu nela. Madalena assumiu, sobretudo, seu papel apostólico, corajoso e desafiante: anunciar que Aquele a quem mataram não está morto. Ele vive! Venceu as barreiras do mal e da morte. Ele está vivo confirmando a certeza do amor do Pai, no Espírito Santo, para toda a humanidade.

Mateus, no seu Evangelho (28,8), evidencia uma qualidade especial das mulheres, entre elas Madalena, que seguem a Jesus. Elas saem às pressas do jardim onde estava o túmulo de Jesus, para anunciar aos Apóstolos que Jesus ressuscitou. E o Evangelista Lucas apresenta como fator relevante, a capacidade das mulheres de fazerem memória dos atos e das palavras de Jesus: “então as mulheres se lembraram das palavras de Jesus” (Lc 24,8-10). Como é importante fazer memória e tomar, como Madalena e suas amigas, a atitude de anunciar o essencial aos Onze e aos outros discípulos. Porém, a acolhida do anúncio da ressurreição de Jesus, por parte dos amigos de Jesus, não foi muito tranquila. Madalena, no entanto, insiste em anunciar o que tinha visto: ela viu a Jesus Ressuscitado, tinha tocado Nele; ela, não conseguia guardar esta certeza somente para Ela, mesmo correndo o risco de não encontrar credibilidade. Tem consciência que, na sua realidade social, como mulher, não tinha aval para ser testemunha. Diante deste contexto social, pode-se correr o risco de pensar que Jesus tenha escolhido anunciar sua ressurreição de modo errado: aparecer primeiro a uma mulher que não tinha o direito de anunciar e testemunhar. O Ressuscitado, como fez em toda sua vida, não se preocupou com as regras feitas para privilegiar grupos que usavam delas como instrumentos de escravidão e morte. O Ressuscitado, porém, oferece à mulher Madalena sinais inconfundíveis e características que facilitam e ajudam a reconhecê-Lo, sem nenhuma dúvida. O fato de chamá-la pelo nome devolve-lhe a esperança e a certeza que é ELE mesmo! O coração dela explode como em chamas; é a confirmação do que o Amado vive! O Amado que a amou por primeiro devolvendo-lhe a vida. Foi assim que ela viu o Reino acontecer. Ela não se preocupou com as desconfianças do seu testemunho. A apóstola faz sua missão, sabe que recebeu esse mandato, não mede esforços, não desiste pensando se terá ibope, ou se será rejeitada. O que ela tem para anunciar é muito maior destas dobraduras sociais, dos retoques, das maquiagens, que escondem em suas curvas interesses mil. Quem recebeu a missão de anunciar, proclamar e testemunhar a ressurreição de Cristo tem coragem de assumir as consequências.

O Evangelista João descreve os últimos momentos da entrega amorosa do Filho ao Pai, no Espírito Santo, dizendo: “Junto à cruz de Jesus, estavam, sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena” (Jo 19,25). Madalena estava lá de pé, com as outras mulheres, sofrendo as dores de Jesus, na Hora do Filho de Deus. Aparecem neste momento outras atitudes da Apóstola Madalena: a solidariedade e a presença, como que para dizer ao Mestre: “estou aqui, conte com esta pobre pessoa que te reconhece como inocente e Filho de Deus”. O Evangelista João, no capítulo 20 de seu Evangelho, apresenta mais detalhes que ajudam a compreender melhor o perfil de Madalena e quanto foi importante sua presença para confirmar a ressurreição de Jesus. João narra que Madalena vai ao túmulo de Jesus quando ainda estava escuro (cf. Jo 20,1). Isso certifica que realmente naquele lugar tinham deixado o corpo de Jesus. Vê que a pedra foi removida e não fica ali, parada, resmungando; toma providência para poder entender o que pode ter acontecido; procura ajuda, busca soluções, está aberta aos mínimos sinais do momento, chora, porém, permanece querendo conhecer a verdade, abre espaço para o diálogo dizendo o porquê de seu choro, ao que ela acha ser o jardineiro: “levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram” (Jo 20,13); e continua dialogando, mesmo sem entender. Quando escuta a voz do Mestre não tem dúvida: é ELE! E recebe de Jesus a missão, o apostolado para ir e anunciar (cf. Jo 20, 17-18). A partir deste momento anunciará e testemunhará o que viu e o que experimentou: “Eu vi o Senhor!” (cf. Jo 20, 18). A experiência de Madalena, a enviada, a apóstola da ressurreição, confirma que Jesus de Nazaré, aquele que nasceu de Maria por obra do Espírito Santo, o mesmo que tirou dela sete demônios, que a fez discípula, a ponto de ela ter condição de estar presente no caminho dele rumo à Cruz, ressuscitou dos mortos. É Ele mesmo que ela vai anunciar.

Maria Madalena necessitou de muito caminho para ser transformada de endemoninhada em apóstola de Jesus; enfrentou renúncias, insatisfações, humilhações e, sobretudo, vivenciou profundas experiências de vida que lhe deram a certeza de que valeu a pena seguir o Caminho! Madalena, a apóstola, experimentou também a importância de ser missionária sempre acompanhada de outras apóstolas, que também foram afetadas intimamente pela pessoa de Jesus Cristo. Esse grupo de mulheres faz correr o olhar nas fileiras sociais do tempo atual, em que se encontram outras companheiras de Madalena, atingidas pela paixão a Jesus, contribuindo na construção da sociedade. Que Maria Madalena, apóstola do Ressuscitado, seja incentivo para todas as mulheres e homens anunciarem todos os dias que a Ressurreição é a verdade de um Deus de amor, que nunca abandona e abandonará a humanidade. Sim, é para dizer com a Apóstola Madalena: “estamos vendo o Senhor desde nossas Galileias, passando por tantas Jerusaléns, e nos manteremos com Ele, de pé, pois o amor venceu! A ressurreição é o sim definitivo do que Deus quer para todos nós”. 

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*Ir. Ana Maria de Castro, da Congregação Pequenas Filhas de São José, mestra em teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE).

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