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Por Gilmar P. da Silva SJ*
No espaço de mais de 1800m2, pequenos blocos de brinquedo formam esculturas magníficas. Algumas são originais na sua totalidade; outras, releituras de obras conhecidas. The Art of the Brick, exposição do artista Nathan Sawaya, chega ao Brasil e se instala na Oca, no parque do Ibirapuera, em São Paulo – e depois, em 11 de Novembro, no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Com o início no dia 11 de Agosto, na capital paulista, a mostra tem duração até o dia 30 de Outubro.
Sawaya trabalha em seu processo criativo com os famosos bloquinhos da marca Lego, o que demanda números extraordinários de peças em cada uma. Isso lança, de imediato, interesse por suas criações, tanto pela engenhosidade e trabalho demandados, como pelo apreço que fãs do brinquedo lhe dedicam. O impacto de sua arte, contudo, está em outros elementos relacionados a isso. Cada obra, pelo tamanho das peças de Lego, demanda dias ou meses para ser concluída, o que exige determinação do artista. Ao fim de um longo trabalho, resta uma obra efêmera que pode ser desmontada facilmente. Basta um esbarrão e meses de trabalham se estilhaçam em milhares de microblocos. Estão imbricadas a grandiosidade e a fragilidade.
Dentre as releituras de Sawaya, há versões de obras muito conhecidas como O grito, de Munch; O pensador, de Rodin; O beijo, de Klimt. Feitas de Lego, as criações entram no campo da Pop Art. Não só se utiliza de objetos de consumo para fazer arte, mas também questionam a aura de que as obras consagradas se revestem e as aproxima do universo popular. Além disso, a lógica das composições se assemelha a da computação gráfica, fazendo com que cada bloco se organize à maneira de pixel na construção de uma imagem em 3D. De algum modo, materializam a estética digital na qual a curva se compõe de inúmeros quadrados.
O elemento infantil do brinquedo, como a alegria das cores dos blocos, conjuga-se com questões existenciais intensas – particularmente nas obras mais autorais. É o que ocorre com o tema da metamorfose humana em Yellow, o amor e a perda em My boy, os contrastes entre os temas da infância e aqueles que surgem na figura de um crânio em Skulls, entre outras. Não só obras de arte do mundo real são reconstruídas, mas também, e sobretudo, o universo interior, com seus dramas e conflitos. Reconstrução que implica e abriga em si certa desconstrução. Reside na exposição o olhar da criança, esperançoso e alegre, sobre o mundo, e aquele, às vezes desencantado, do adulto. Há melancolia, festa, paixão e inocência.
As diversas camadas compreensivas da exposição faz com que ela possa ser apreciada tanto por adultos como por crianças. Por isso foi desenvolvido um audioguia para os dois públicos e que se encontra disponível para download. A interação com os visitantes também fica por conta de uma sala repleta de peças Lego para cada qual exercer sua criatividade.
The Art of the Brick ou A arte de criar, de Nathan Sawaya. Informações em expo-theartofthebrick.com.br.
*Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.
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