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Quem quer dominar o outro costuma usar de violência
O que nos fragmenta, aponta para o nosso fim e, com isso, gera medo.
Por Gilmar Pereira*
A gente quer continuar. Um fim, assim, abrupto, deixa na boca o gosto amargo das dores vividas, os amores deixados, os sofrimentos sentidos. Muita luta, bastantes alegrias, abundância de normalidade e tédio; tudo isso pra que? Se tudo acabar num de repente, melhor seria fazer a vida valer a pena (ou as penas que nela se sofre).
Querer viver faz com que se sonhe com a continuidade após o fim. Por isso o mistério da vida põe a questão da morte. Soa absurdo algo começar do nada e, do nada, terminar. Talvez daí surja a célebre pergunta filosófica: Porque o ser e não o nada? Se não tem nada depois, porque começamos a existir? A complexidade da vida sugere que há algo mais do que nossa realidade finita.
O problema é que não se pode ter certeza do que tem depois. E mesmo se houver algo, trata-se de outro tipo de realidade. Aliás, a única coisa que temos é o agora. O passado e o futuro só os temos na memória e no desejo, não na factualidade do presente, esse instante que teima em nos fugir. Então, a eternidade que se quer depois tem que vir no presente da vida. Crendo ou não que haverá sempre um amanhã, o prolongamento da existência, essa mais vida, queremos e buscamos para o hoje de nossas existências.
O medo trata justamente da experiência que se tem diante de algo que nos ameaça, um sentimento que alerta para a possibilidade de uma degradação física ou moral e que, de algum modo, representa uma forma de fim. A morte é a desagregação da unidade da pessoa. Assim, tudo o que nos fragmenta, aponta para o nosso fim e, com isso, gera medo. Como consequência, quem tem medo acaba por viver em vista daquilo que o ameaça, tentando escapar de seu perigo.
Por isso quem quer dominar o outro costuma usar de violência. Esta, em si, já é uma forma de desagregar a unidade da pessoa, de mata-la aos poucos. O que pode ocorrer das mais diversas formas e não só fisicamente. Há uma violência simbólica, quando não física ou psicológica, que exclui e marginaliza os indivíduos que não se enquadram nos padrões sociais tidos como “padrão”. Por medo do fim que isso implica, o ameaçado costuma sofrer tentando se enquadrar ao grupo e, com frequência, acaba exercendo violência para consigo por assumir a visão dominadora e opressiva como a verdade sobre si.
Comumente mulheres deixam de usar as roupas que querem ou de sair para determinados lugares por medo de estupro. Não raro homossexuais se suicidam pela negação do próprio afeto e sexualidade. Indígenas mal dormem pela ameaça de ruralistas. Negros temem serem tomados por bandidos e apanharem para confessar crimes que não cometeram. E isso é só para citar algumas possibilidades.
A gente quer continuar, mas continuar a viver. A gente quer viver e viver para além. A gente quer mais vida. A gente que viver bem.
Pela diversidade
Os LGBTs fazem parte do grupo daqueles que vivem marcados pelo medo da violência e discriminação. Dar visibilidade a suas questões é urgente para que possam ter mais vida. Uma das melhores formas de gerar sensibilidade para tal causa está na arte. Por isso as Secretarias de Estado de Cultura e de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania realizam a I Mostra Internacional de Cinema em Cores, nos dias 15 a 19 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, BH-MG), integrante do Circuito Liberdade. A entrada é gratuida e está sujeita a lotação do espaço. Serão exibidos filmes de oito países com a temática LGBT. Confira programação abaixo.
Além disso, há uma forma mais direta de combater a violência por conta da sexualidade. O Senado Federal abriu consulta pública sobre o projeto que criminaliza a LGBTfobia no Brasil, equiparando ao crime de racismo. Acesse e vote "A Favor"!
Programação Cinema em Cores
Dia 15 (quinta-feira)
17h às 18h40 - Filme: North SEA Texas (2011) - Bélgica. Direção: Bavo Defurne
20h30 às 21h10 - Curtas: A Ala (2014) - Brasil. Direção: Fred Bottrel / One of Them (2000) - Canadá. Direção: Elise Swerhone
Dia 16 (sexta-feira)
17h às 18h40 - Filme: Mixed Kebab (2012) - Bélgica,Turquia. Direção: Guy Lee Thys
20h20 às 21h30 - Documentário: Katia (2012) - Brasil. Direção: Karla Holanda
Dia 17 (sábado)
14h às 16h - Filme: Cássia Eller (2008) - Brasil. Direção: Paulo Henrique Fontenelle
17h às 18h30 - Curtas: Out and About (2016) - Países Baixos. Direção: Koen Suidgeest / Bald Guy (2011) - Noruega.Direção: Maria Bock
20h10 às 21h30 - Filme: Brotherhood (2010) - Dinamarca. Direção: Nicolo Donato
Dia 18 (domingo)
14h às 15h30 Filme: Back on board: Greg Louganis (2014) - EUA. Direção: Cheryl Furjanic
16H ás 18h - Filme: The Man Who loved Yngve (2008) - Noruega. Direção: Stian Kristiansen
19H Às 20H20 - Filme: O meu nome é Jacque (2016) - Brasil. Direção: Angela Zoé
Dia 19 (segunda-feira)
17h ás 18h50 - Filme: The case against 8 (2014) - EUA. Direção: Ben Cotner e Ryan White
20h30 às 21h - Curtas: On suffocation (2013) - Suécia. Direção: - Jenifer Malmqvist / Reel (2016) - Suécia. Direção: Jens Choong / Ladyboy (2012) - Suècia. Direção: David Sandberg e Claes Lundin
*Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, graduado em Filosofia pelo CES-JF, graduando em Teologia pela FAJE. Apaixonado por arte, cultura, filosofia, religião, psicologia, comunicação, ciências sociais... enfim, um "cara de humanas".
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