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Transformação ocorrerá quando nos debruçarmos sobre questões de dignidade de todos.
Em meio à crise, devemos lutar por uma Política que tenha por inspiração a busca pelo bem comum.
Por Felipe Magalhães Francisco*
Apesar do real distanciamento das pessoas da reflexão e da participação ativa na vida política, nos últimos anos, desde as eleições de 2014, que ganharam certo aspecto de envolvimento popular por causa das manifestações de 2013, temos percebido que a questão política está na pauta da sociedade. Percebam os leitores e leitoras o uso do pê minúsculo, ao dizer política. A ênfase, como sabemos, permanece na questão partidária e tudo o que a ela diz respeito. Do ponto de vista da articulação por uma Política que tenha por inspiração a busca pelo bem comum, vimos nascer a luta por uma Reforma Política, que não encontrou verdadeiro eco no povo, e que foi tolhida por um Congresso extremamente conservador e movido por aspirações que só corroboram com a injustiça, com a politicagem e com o retrocesso do país, bem como com a manutenção da gritante desigualdade social.
Em meio a uma grave crise política, que denuncia que o sistema político, da maneira como está, já faliu, temos acompanhado uma onda reacionária que, a partir das redes sociais, ganhou espaço nas ruas e que é legitimada por uma consciência de justiciamento que não dá conta das mudanças estruturais pelas quais o país precisa passar. Neste 2016 vimos a fragilização das instituições do país culminar na derrubada de uma presidenta há pouco reeleita e que não teve condições de governar, dada à gravidade das relações políticas já viciadas, além de outros problemas que só nos encaminham para a perda de políticas sociais e de direitos. Tudo isso, no entanto, fez acender uma fagulha, que começa a movimentar as pessoas em todo o país e que pode produzir verdadeiros frutos de participação popular na construção de uma Política que seja condizente com o significado da palavra.
A transformação de todo esse sistema só será possível quando verdadeiramente nos debruçarmos sobre as questões que dizem respeito à qualidade e à dignidade da vida de todos e todas. É preciso, pois, um olhar crítico para a realidade política, de forma que, compreendendo-a, possamos transformá-la. Ajudando-nos a fazer esse caminho, o Cientista Social Robson Sávio Reis Souza nos concedeu uma entrevista, na qual aponta para a importância de que a sociedade alcance “Uma esperança para esperançar-se”.
Compreendendo nossa vida e a realidade que nos cerca, à luz da fé, percebemos que é preciso esperar contra toda a esperança (cf. Rm 4,18)! E a esperança é movimento operoso, que busca transformar a realidade para que se concretize. É nesse horizonte que precisamos compreender a importância da participação dos cristãos e cristãs na Política. Só compreendendo o que dá sentido à fé, desde a revelação do Deus libertador na história do mundo à plenitude da realização salvífica pela Ressurreição de Jesus, é que os cristãos e cristãs poderão viver plenamente seu compromisso com a transformação do mundo, tal como nos impulsiona a vida de Jesus. É o que nos leva a refletir o artigo A importância do engajamento político dos cristãos, proposto pelo Cientista Social Frederico Santana Rick, mestrando em Ciências Sociais e coordenador de políticas sociais do Vicariato Episcopal para a Ação Social, da Arquidiocese de Belo Horizonte.
Urge, nesse sentido, rompermos com qualquer demonização da Política, sobretudo entre os cristãos e cristãs, que devem sentir-se responsáveis pela transformação da sociedade, aliados a todos os homens e mulheres de boa vontade. O resgate da concepção de que A Política é a forma mais perfeita da caridade é imprescindível para que os cristãos e cristãs ocupem os lugares de cidadania, a partir da exigência de servir ao Reino de justiça. Inspirados pelo Evangelho de Jesus, os cristãos e cristãs precisam se envolver na Política para além das questões partidárias – sem excluí-las – tendo como horizonte o Reino em que os pobres e últimos do mundo têm primazia. É o resgate dessa concepção de Política que nos fará romper com os religiosos oportunistas que usam da religião para fazer prosperar a injustiça e o retrocesso.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).
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