segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A legitimidade da participação das mulheres

domtotal.com
Legitimar o papel das mulheres corresponde a garantir a elas o papel de sujeitos.
O paradigma patriarcal-machista insiste em criar raízes na vida Igreja.
O paradigma patriarcal-machista insiste em criar raízes na vida Igreja.

Por Felipe Magalhães Franscisco*

As mulheres são a maioria nas Igrejas cristãs, não há dúvidas. Nas tradições protestantes e evangélicas, já ocupam papéis de liderança das comunidades, de pregação da Palavra e de direção dos fiéis. No catolicismo, a participação das mulheres é fundamental para a continuidade da Igreja. Uma Igreja dirigida por homens, sabemos. Em relação à participação das mulheres, ainda que fundamental, estamos dando passos muito tímidos para legitimar a força da atuação, não apenas na execução pastoral, mas na articulação e nas decisões das comunidades.

Nos núcleos mais vivos da Igreja, que são as comunidades, as mulheres já ocupam os espaços primordiais da pastoral, mas ainda em uma dimensão bastante androcêntrica, na qual o presbítero tem papel central de delegação dos papéis e de decisão. Na prática, é como se o que as mulheres desempenham na comunidade precisasse do assentimento dos presbíteros. É preciso uma conversão pastoral. Se a vida da comunidade precisa se organizar na perspectiva do protagonismo dos leigos, é urgente que essa organização legitime o papel das mulheres. Legitimar, importa dizer, não significa autorizar, mas garantir que assumam, verdadeiramente, o espaço na ambiência eclesial que nasce como impulso da força batismal.

Há quem pense que quando se defende uma maior possibilidade de real participação das mulheres na vida da Igreja, esteja-se defendendo que as mulheres devam ser ordenadas, para competir com os presbíteros, homens, o espaço. A ordenação das mulheres é apenas um ponto na discussão, e certamente não configura como o central, tampouco significaria tomar dos homens o lugar na direção da Igreja. A conversão pastoral que precisamos, além de legitimar o papel das mulheres, ampliando sua participação, pressupõe uma ressignificação do ministério ordenado, que precisa deixar de ser central na configuração eclesial, possibilitando uma verdadeira eclesiologia de uma Igreja como Povo de Deus. Trata-se de garantir a cidadania eclesial aos leigos e leigas.

De um ponto de vista institucional, legitimar o papel das mulheres corresponde a garantir a elas o papel de sujeitos. Entre outras coisas, significa o reconhecimento da legítima liberdade que as mulheres têm para se pensarem e se assumirem como protagonistas, social e eclesialmente. Socialmente, ainda que o machismo permeie culturalmente as relações, a mudança do paradigma patriarcal tem dados passos, na conquista de direitos, por parte das mulheres, e na busca por igualdade, em todas as dimensões das relações sociais. Eclesialmente, a Igreja-instituição ainda teima em ditar as regras para as mulheres, querendo impor-lhes uma conduta de como educar os filhos, de como comportar-se e de como viver maritalmente, entre outras coisas. Note-se que são homens, separados das relações familiares, a normatizarem sobre a vida das mulheres, idealizando um papel do feminino que excede as possibilidades do humano.

É urgente, pois, que as mulheres ocupem os lugares que lhe são de direito, por força da participação na vida e missão de Jesus, por meio do batismo. Jesus, certamente, foi um inaugurador de um novo olhar para o lugar das mulheres. Para que sejamos fiéis à proposta de humanização que Jesus nos propõe, é preciso romper com o paradigma patriarcal-machista, que ainda insiste em criar raízes na vida Igreja. Que elas, verdadeiramente, tenham voz!

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras.

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