quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A sensualidade elegante de Renoir

 domtotal.com
Exposição em Madrid mostra a presença do erotismo na obra do impressionista francês.
Na obra de Renoir os personagens se caracterizam por uma proximidade tangível.

Por Marco Lacerda*

O cineasta Jean Renoir escreveu que seu pai “olhava as flores, as mulheres e as nuves como outros homem tocam e acariciam”. Diante da concepção habitual que reduz o impressionismo à pura visualidade, a exposição ‘Renoir: Intimidade’, a primeira retrospectiva realizada na Espanha em torno da figura do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), destaca o papel central que ocupam as sensações táteis em suas telas e que podem ser percebidas nas distintas etapas de sua trajetória e em uma ampla variedade de gêneros, tanto em cenas de grupo, retratos e nus como em naturezas mortas e paisagens.

Com curadoria de Guillermo Solana, diretor artístico do Museu Thyssen-Bornemisza, de Madrid, a exposição (de 18 de outubro a 22 de janeiro) é um passeio por mais de 75 obras do artista francês, procedentes de museus e coleções de todo o mundo, como o Musée Marmottan Monet de París, Art Institute de Chicago, Museu Pushkin de Moscou, J. Paul Getty de Los Angeles, National Gallery de Londres e o Metropolitan de Nova York e permitirá descobrir como Renoir se servia de sugestões táteis de volume, matéria e textura como veículo para plasmar a intimidade em diversas formas – amistosa, familiar ou erótica – e como esse imaginário vincula obra e espectador com a sensualidade da pincelada e a superfície pictórica. A mostra viaja em seguida para o Museu de Belas Artes de Bilbao, onde permanece de 7 de fevereiro a 15 de maio de 2017.

Enquanto nos retratos de grupo de Manet ou Degas, por exemplo, os protagonistas mantem distância entre eles e o espectador, Renoir dota suas figuras de uma cercania tangível. Em suas cenas com dois ou mais personagens, é comum que estes participem de um jogo de alternância entre o contato visual e contato físico, casais de irmãos ou de mães e filhos nas quais um dos envolvidos olha o outro e este corresponde, tocando-lhe a mão. Em certos casos, esses intercâmbios se estabelecem em torno de uma atividade comum, como a leitura de um livro. Em 1919, Renoir finalmente viu suas obras serem aceitas no Louvre. Em dezembro daquele ano, morreu em sua casa de Cagnes, aos 78 anos.

*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal

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