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Será que emburrecemos? Porque é tão comum ver as pessoas reproduzindo discursos fáceis e repetindo bordões idiotas de algum posicionamento político? Porque a discussão do destino da nação ganhou o caráter de polarização nas alcunhas grotescas de “coxinhas” e “petralhas”? Porque uma posição que reconhece legalidade no processo de impeachment, mas imoralidade e perversão no uso da jurisprudência, ser execrada como justificadora daquilo a que se opõem os pensamentos binários?
O movimento de contracultura na década de 1960 pretendia abalar as estruturas dominadoras da época, libertando os indivíduos da força da coercividade social. O festival de Woodstock foi símbolo do rompimento de paradigmas de um tempo e tocou não só o âmbito da estética, pela influência que teve na arte e na moda, mas também no campo da ética, da sexualidade, etc. Paralelo a isso, viu-se na América Latina regimes ditatoriais e muita gente lutando pela liberdade. Até mesmo a Igreja buscou se arejar por meio do concílio Vaticano II e surgiram teologias contextuais, preocupadas mais com a realidade do que com a manutenção do status quo.
Ora, após tempos de abertura e luta por tal, quando a sociedade chegou a um patamar em que teria condições de gozar dos avanços conquistados, uma geração se levanta conservadora, fechada, retrógrada. Trata-se de um fenômeno mundial que passa pelos protestos na França contra o casamento civil igualitário; pela campanha xenófoba de Trump, nos Estados Unidos; pelas vozes que querem um governo militar no Brasil ou Bolsonaro como presidente. Parece que o passado recente foi esquecido e as leituras da história se tornaram superficiais.
Talvez a insatisfação com o presente, bem como o medo do futuro tenham gerado desconfiança sobre os passos que se deu no passado próximo e agora se queira recuar ao que estava bem antes. Não é atoa que a moda e o design atual tenham tanto apreço pelo retrô e o vintage; que se veja, no catolicismo, a volta de Missas no rito tridentino; que a política recue nos direitos sociais conquistados. Como um adolescente que contesta os pais e busca apoio nos avós, a presente geração tem medo do futuro e não sabe para onde está indo, mas olha para o passado de modo anacrônico. Contudo, como diz a canção, “o novo sempre vem” e a busca de modelos anteriores nunca será sua exata repetição, já que os contextos são outros.
Inseridos na lógica da aceleração, as leituras do passado são superficiais e de conclusões rápidas e fáceis. Elogiar a ditadura militar e romantizar os regimes socialistas são faces da mesma moeda: a falta de olhar atento e leitura crítica. O excesso informativo sem o tempo devido de assimilação formou uma espécie de cegueira branca, em que não é possível filtrar a luz. O excesso de visualidades nos cegou e, sem tempo para processar as informações do passado, ficamos confusos no presente e nos lançamos em futuros obscuros. Saramago estava certo em seu “Ensaio sobre a cegueira”. Ou paramos para ler os sinais dos tempos ou o futuro será apocalíptico.
Tempo de Caymmi
Cada vez fazemos mais coisas. O suposto conforto de um trabalho “home office” só trouxe mais trabalho para dentro de casa, perdendo-se o espaço do descanso. O tempo que se perdia no trânsito agora é tempo útil para mais serviço. Sem pausa, entraremos em colapso; sem ócio, ficará difícil a criatividade; sem tempo, não poderemos amadurecer. Urge o saber parar, dizer não ao excesso de tarefas, até mesmo para que se possa aprofundar sobre qualquer coisa. Que tal parar e deixar-se afetar pelo belo? Quem sabe, ir num parque ou prestar atenção nas letras de músicas antigas?
Dia 03 será possível ir para o parque e ouvir Caymmi. A Mostra de Intérpretes de BH (MIBH) terá em sua primeira edição o grupo Baianas Ozadas, no parque Lagoa do Nado (Desembargador Lincoln Prates, 240, Itapoã), às 16h, apresentando as canções de Dorival. Ele que é o homenageado da mostra, receberá interpretações de músicos de diferentes vertentes da cena belo-horizontina. Além do evento no parque, que será sua abertura, outras apresentações acontecerão no Teatro Alterorsa (Av. Assis Chateaubriand, 499, Floresta), a preços populares. Eles já estão à venda no site do sympla e na bilheteria do teatro, por R$5 e R$2,50 (meia). A apresentação do Baianas Ozadas será gratuita.
PARQUE LAGOA DO NADO
MIBH: Baianas Ozadas interpreta Caymmi
Baianas Ozadas
3 de setembro, sábado – 16h
TEATRO ALTEROSA
MIBH: Canções Praieiras
Sérgio Pererê e Vitor Santana
8 de setembro, quinta – 21h
MIBH: Precursor da Bossa Nova
Dona Jandira e Affonsinho
22 de setembro, quinta – 21h
MIBH: Sambas de Caymmi
Diza Franco, Mauro Zockratto e Senta a Pua Gafieira
6 de outubro, quinta – 21h
Gilmar P. da Silva SJ
Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.
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