sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Cidadãos de que pátria?

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Refugiados revelam ao mundo a situação desumana na qual lutam por sobreviver.
Refugiados, vítimas do descaso, do abandono e da não hospitalidade.
Refugiados, vítimas do descaso, do abandono e da não hospitalidade.

Por Felipe Magalhães Francisco*

A situação dos refugiados sempre foi grave. Ultimamente, no entanto, tem ganhado atenção essa questão, sobretudo por causa dos refugiados sírios, vítimas do descaso, do abandono e da não hospitalidade. São condenados à morte, se não têm sorte: se ficam na própria terra, morrem vítimas dos conflitos; se partem, e sobrevivem às travessias, morrem socialmente, excluídos e confinados em campos e sem direitos à cidadania no mundo. Enquanto muitos morrem nas travessias e revelam ao mundo a situação desumana na qual lutam por sobreviver, muros e cercas são levantados e, pela ausência de um carimbo, são impedidos de entrarem noutros países. O drama dos refugiados, uma questão humanitária, é uma questão que precisamos refletir.

De fato, não há resolução fácil para a situação. É preciso transformar as realidades que promovem circunstâncias que fazem com que milhares e milhares de pessoas partam de sua terra, em busca de sobrevivência. Enquanto países poderosos continuarem a exercer influência nos países frágeis, em vista da manutenção do poder hegemônico e movidos pela sede de poder econômico, muitas vidas serão ceifadas.

A situação dos refugiados em todo o mundo nos leva a pensar na globalização. O mundo todo está conectado, mas as pessoas continuam privadas da livre circulação pelo mundo, quando a situação é a busca por uma sobrevivência em paz. A globalização falhou, em não garantir a cidadania universal às pessoas, e o modelo mais promissor disso, a União Europeia, já começou a ruir. A liberdade global é a liberdade econômica, na qual os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais explorados. Abordando o tema da globalização, o doutor em Teologia, Carlos Cunha, propõe o artigo McMundo e as sementes do Reino de Deus: os lados da globalização, no qual chama a atenção para os frutos da globalização, bem como os riscos do seu lado oculto.

A Bíblia tem muito a contribuir com o processo de humanização de nossas relações, mesmo para os que não têm fé. Nesse sentido, o artigo A verdadeira hospitalidade bíblica: amar os imigrantes, os estranhos e os inimigos, da doutora em Teologia, a Ir. Aíla Pinheiro de Andrade, ajuda-nos a perceber como a hospitalidade é imperativo a nortear as relações humanas, no Antigo e no Novo Testamentos. Nesse sentido, a hospitalidade é sinal concreto da humanização de nossa humanidade e de aperfeiçoamento de nossa sociedade global.

Os cristãos e cristãs se consideram cidadãos da pátria celeste, herdeiros do Reino de Deus, por participarem da vida filial de Jesus. Essa esperança cristã não deve significar uma desatenção às questões sociais, ao cumprimento das leis e ao respeito às autoridades civis, por exemplo, como consequência do amor. "Pois a vontade de Deus é precisamente esta: que, fazendo o bem, caleis a ignorância dos insensatos. Conduzi-vos como pessoas livres, mas sem usar a liberdade como pretexto para o mal. Pelo contrário, sede servos de Deus" (1Pd 2,15-16). Nesse sentido, a esperança para a realização do Reino para além da história e a busca pela realização da justiça no mundo corresponde a importantes dimensões da espiritualidade cristã. Que isso nos inspire na busca pela civilização do amor, situação na qual todos e todas tenham cidadania!

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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