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Noto que as pessoas (incluo-me nesta lista) estão cansadas de ver tanta corrupção e tanta impunidade por parte do governo e do judiciário brasileiros.
Ilustração de Marguerita Bornstein
Aprender a pensar, raciocinar por si próprio, é tão fundamental como o ar que respiramos. Foi mais ou menos assim que disse a filósofa alemã, Hanna Arendt. Temos que educar as nossas crianças para que elas aprendam a pensar. Só assim, elas poderão ter uma certa autonomia na vida quando adultos. Isto vale para tudo: indivíduos, nações, instituições etc.
Vejam vocês a Alemanha, por exemplo. Ela só pode se reerguer após o desastre da Segunda Guerra Mundial depois que julgou oficialmente os culpados do regime nazista de Hitler, na cidade de Nuremberg. O julgamento durou de 20 de novembro de 1945 até primeiro de outubro de 1946. Só então, os alemães puderam reiniciar as suas vidas e virar aquela página negra de sua história. Não foi só uma coisa simbólica, mas visceral, mais que necessária para se seguir em frente.
Na minha caminhada matinal refletia sobre tudo isto. Temos que saber dos fatos, a história e aprender com ela. Não é por nada que comecei a falar no assunto. O Brasil de hoje vive um trauma, não tão grande quanto o da Alemanha após guerra, mas também intenso e funesto. Noto que as pessoas (incluo-me nesta lista) estão cansadas de ver tanta corrupção e tanta impunidade por parte do governo e do judiciário brasileiros.
Um amigo digital, Arnaldo Battaglini, escreveu em sua página na internet uma desabafo que aqui transmito literalmente: “Chega de tanta educação e temperança para com quem não tem qualquer educação ou temperança para lidar com o que deveria ser o bem comum e virou exercício de corporação para manter privilégios de Corte, em pleno século 21. Ou seja: basta!”
Ele transmitiu exatamente o que estava pensando no início da minha caminhada nesta manhã. Temos que sobreviver à catástrofe desta corrupção sistêmica e colossal que se abalou sobre o Brasil nestes últimos 14 anos. Para isto, temos que julgar Lula, Dilma, Renan, Sarney, Gleisi e muitos outros envolvidos, para se ter um marco oficial do fim de tudo, tal qual os alemães o fizeram. Ao longo da história da humanidade, denomina-se isto de ‘expurgo do mal’, no nosso caso, a corrupção.
Na Alemanha, a alavanca de tudo isto foi o fato dos nazistas terem perdido a guerra. No Brasil, tivemos uma coisa melhor ainda: a conscientização da população para com o fato de que grande parte de nossos políticos e empresas do país ‘estavam’ roubando bilhões dos cofres públicos, sem nunca se importar com a nação ou o povo. “Ao rei e aos amigos o luxo e ao povo o SUS”, palavras de uma comentarista da TV brasileira. Verdade. Esta conscientização se deve à existência de uma instituição que já ficou famosa no exterior, pelo combate à corrupção: a Lava Jato.
Não é só a história que nos dá o exemplo das grandes catástrofes a serem evitadas ou digeridas e deixadas para trás, mas também a literatura. Em a ‘Divina Comédia’, o grande mestre italiano das letras, Dante Alighieri, nos alertou para os ‘estágios da vida’. A primeira parte chama-se Inferno, a segunda Purgatório e a terceira Paraíso. No Brasil, já estamos no inferno há muito tempo e temos que trocar de ‘estágio’ rapidinho e galgar rumo ao purgatório. Para tal, tem-se que processar e prender os culpados desta catastrófica situação. Só assim, pode-se virar esta página negra de nossa história recente e ressarcir o Estado do rombo em suas finanças.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.
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