segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Que primavera é esta?

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Não podemos deixar de discernir nossa história, buscando alternativas voltarmos a um caminho humanizador.
Da mesma forma que o clima e a natureza têm mudado, também o mundo, com sua história.
Da mesma forma que o clima e a natureza têm mudado, também o mundo, com sua história.

Por Felipe Magalhães*

Que o mundo esteja mudando, acredito que ninguém tenha dúvidas. Para alguns, estamos voltando, a passos velozes, para a época medieval. Preconceito puro. A história segue, para frente. Só que, ao contrário do que faz crer a inocência de muitos, ela não é linear: está mais para o resultado de um eletrocardiograma de uma pessoa viva.

Da primavera, sempre esperamos o melhor: o clima ameno, as flores, a chuva de fim de tarde, enfim, o ressurgir da natureza, após longo processo de quase-morte do inverno. Mas os tempos estão mudados e, se antes, em nosso país, as estações já não eram bem definidas, agora menos ainda.

A primavera deste ano está mais chuvosa, em Belo Horizonte, ao contrário das últimas duas primaveras. A maioria dos Flamboyants, por exemplo, ainda estão tímidos, mesmo que, bastando um se mostrar em sua total exuberância, já vale a pena ter vivido para ver. Mas essa primavera continua diferente, das que costumávamos experimentar há algum tempo atrás – vejam bem, isso não se trata de saudosismo!

Da mesma forma que o clima e a natureza têm mudado, também o mundo, com sua história, muda velozmente. Temos acompanhado, de perto, o crescimento da onda conservadora vir como um tsunami por todo o mundo, pelo menos pelo mundo ocidental. O choque dos progressistas é natural, diante de tal fenômeno: como imaginar que, em um mundo com tantas possibilidades de evolução – não apenas científica e tecnologicamente – estejamos fazendo opção pelo que há de pior em nós?

O que não podemos, certamente, é deixar de discernir nossa história, buscando alternativas para que voltemos ao caminho humano que seja, de fato, humanizador. Não dá para sentar e esperar que tudo passe, numa espécie de esperança acomodada, quando há riscos reais de que destruamos o que ainda resta de humanidade em nós, e no mundo. Mas não podemos, também, deixar que nos convençam de que esse caminho conservador – no que há de pior – seja o nosso futuro.

Nesse ritmo conservador, em plena primavera, já sabemos que muitas flores não serão contempladas. Mas, nem por isso, estamos diante do fim da primavera. Outras primaveras virão, mudadas, certamente, mas ainda primaveras. É preciso, pois, plantar mais jardins, isto é, humanizar nossa humanidade, por meio de relações que testemunhem aquilo que acreditamos: um mundo justo, fraterno, solidário, igualitário, onde as pessoas possam, de fato, realizarem-se.

Com a natureza podemos aprender, e muito, afinal, o que somos, somos porque integramos esse universo, imenso e misterioso, que nos traz uma infinidade de possibilidades. É tempo de buscar viver a sabedoria, que consiste em compreender a harmonia desse universo que nos integra. Jesus, Mestre e Poeta, despertou nosso olhar para isso: “Olhai as aves do céu[...]. Olhai os lírios do campo” (Mt 6,26.28). Não nos esqueçamos, pois, de cuidar de nossas primaveras!

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras. E-mail para contato: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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