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Imaginei um disco voador chegando pela primeira vez em nosso planeta Terra.
Habilmente disfarçado como humano, após algum tempo escreveria como um Pero Vaz de Caminha. (Reprodução)
Por Evaldo D´Assumpção*
Há 3 milhões de anos surgiu na superfície da Terra, o Australopiteco, primeiro ancestral do homem. Com diferença aproximada de um milhão de anos, ele evoluiu para o Homo habilis, depois o Homo erectus, chegando ao Homo sapiens há 200 mil anos atrás. Daí em diante foi uma questão de aprimoramento desse espécime tão sofisticado quanto complicado. Aprimoramento é uma questão de ponto de vista. Particularmente creio que houve sim, algumas melhoras, porém muita coisa nos resta dos primevos ancestrais.
Em minhas lucubrações, imaginei um disco voador chegando pela primeira vez em nosso planeta Terra, trazendo um ET pesquisador para observá-lo e a seus habitantes. Habilmente disfarçado como humano, após algum tempo escreveria como um Pero Vaz de Caminha espacial:
“O planeta é habitado por criaturas que já passaram por diversos estágios evolutivos, porém ainda se encontram bem distantes de um padrão superior de civilização. Existem guerras em praticamente todos os aglomerados do planeta, muitas vezes estendendo-se às enormes áreas tomadas pela água. Nessas águas vivem também criaturas bem diferentes, porém elas só lutam e matam para se alimentar, enquanto os seres bípedes que vivem na parte seca mostram grande satisfação em matar seus semelhantes, criando armas de enorme poder destrutivo. Não detectei com precisão a razão dessas lutas, pois existe espaço suficiente para todos se acomodarem, e condições, ainda que precárias, porém recuperáveis, para plantações alimentícias com abundância.
A água que bebem, existe em quantidade bem menor do que a que ocupa as grandes extensões do planeta, quimicamente inadequada para o uso dos humanos (assim eles se chamam). Contudo, há claros sinais de que a água de uso já existiu em quantidade muito maior. Seu desaparecimento está relacionado com outra atitude bastante estranha dos humanos: eles derrubam árvores que dão condições para a regeneração da água, e queimam áreas incalculáveis, poluindo terrivelmente a atmosfera. Além disso, perdem grande parte da água utilizando-a para coisas que poderiam ser feitas com outros meios. Por exemplo, limpar os caminhos em que transitam.
Também perdem, aparentemente sem se preocuparem com isso, grande quantidade que vaza em defeitos nos sistemas de condução da água para suas moradias. Surpreende também a quantidade de água que cai das nuvens sobre determinadas regiões, sem que haja qualquer sistema para sua captação e aproveitamento. Com isso formam-se enormes torrentes dentro de áreas habitadas, destruindo moradias e matando moradores.
Outra situação curiosa, onde demonstram seu primitivismo, são reuniões que fazem e que são chamadas de “raves”. Nelas agem como os seus ancestrais faziam em torno de fogueiras, movimentando-se desconjuntadamente e seguindo um som altíssimo e desagradável. Talvez para suportá-la, aspiram um pó branco, tomando líquidos e algumas espécies de pastilhas que os transformam e os levam a uma inacreditável agressividade. Não sei se é algum ritual mágico ou se tem outra explicação.
Misturei-me com eles, e percebi uma enorme dificuldade de relacionamento, pois vivem em constante disputa para superar um ao outro. Para isso, utilizam de qualquer meio, mas o objetivo principal quase sempre é ajuntar uma coisa a que chamam de dinheiro, que alguns poucos possuem em demasia, enquanto outros só o tem em quantidade ínfima. Isto quando possuem algum. E esse tal dinheiro serve para ser trocado por outras coisas, inclusive aquilo que utilizam como alimento. Por isso vi humanos demasiadamente largos, arredondados, e outros cujo revestimento era tão fino que era quase possível enxergar sua estrutura interna.
O mais surpreendente é que, apesar de tudo isso, quase todos se julgam conhecedores de tudo, recusando-se a aprender coisas novas, deixando de lado o que eles chamam de livros, que contém ensinamentos dos mais experientes, por uns aparelhinhos que carregam nas mãos o tempo todo, até mesmo quando estão se alimentando. Às vezes os utilizam para falar com outros humanos, mas servem mesmo é para ser dedilhados freneticamente, não entendi exatamente por que nem para que. Pareceu-me ser uma espécie de ritual, pois enquanto o utilizam ficam como que em transe, não dando atenção a ninguém nem a nada.
Diante desse comportamento autossuficiente, parece que está surgindo um novo espécime na evolução do humano: o homo omnia quae scit. (Homem que sabe tudo). Mas, pelo que observei não me parece que durarão muito tempo, nem mesmo uma fração do que viveram seus ancestrais. E como consequência, tampouco durará muito o seu planeta Terra.
Com essas observações encerro minha exploração desse planeta exótico, até meio maluco, e o deixo rapidamente, pois aqui também se corre o risco de morrer contaminado por algumas moléstias com nomes bem estranhos: dengue, zika, chikungunya e febre amarela, todas transmitidas por um outro habitante do planeta, de tamanho mínimo, que voa e zumbe por todos os lados, sem que os humanos consigam dominá-lo. Tudo muito estranho!”
*Evaldo D´Assumpção é médico e escritor
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