segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Centro Zanmi: amigo de quem migra

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Centro Zanmi traz no nome o espírito do seu trabalho: zanmi em crioulo haitiano quer dizer amigo, amiga.
Refugiados que vivem no Rio se unem na torcida pela equipe de judocas de refugiados.
Refugiados que vivem no Rio se unem na torcida pela equipe de judocas de refugiados. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Por Fernanda Castro*

O espírito solidário de um jesuíta transformou a vida de um grupo de haitianos que migraram para Minas Gerais e foi a semente da qual germinou o Centro Zanmi, uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que acolhe, auxilia e acompanha a população migrante, refugiada e apátrida na Região Metropolitana de Belo Horizonte, capital do estado mineiro. O funcionamento do Centro Zanmi acontece pela dedicação de uma equipe de profissionais da sociedade civil e de voluntários, e conta com o apoio financeiro das congregações religiosas das Filhas de Jesus e da Companhia de Jesus.

A iniciativa começou timidamente, em 2011, quando o jesuíta Emilio Traviesso, então estudante de Teologia da Faculdade Jesuíta (FAJE), em Belo Horizonte, assistiu pela televisão a uma reportagem que retratava a situação de haitianos em Contagem-MG, chegados ao Brasil, depois do terremoto que devastou o país, em 2010. Sensibilizado, Emilio foi em busca dessa comunidade e encontrou cerca de 20 haitianos trabalhando numa empresa alimentícia. Desde o primeiro contato, o grupo se encantou com a fluência de Emilio em Kreyòl (o crioulo, língua falada por quase toda a população haitiana). Começava, então, uma amizade que seria um alento para esses imigrantes.

Os primeiros auxílios foram em relação aos documentos para se estabelecerem no Brasil e ao aprendizado da língua portuguesa. Em 2012, os jesuítas Juan Diego Galaz e Arturo Estrada e a freira da Congregação Filhas de Jesus, Belkys Moya, passaram a colaborar com Emílio, assim como o francês Pascal Peuzé e o brasileiro Zames Souza. No final de 2012, Emílio foi transferido para a República Dominicana, mas a criação do Centro Zanmi não tardou. No ano seguinte, em 15 de novembro de 2013, a partir de um convênio firmado com as Filhas de Jesus e o Serviço Jesuíta, teve início o Centro Zanmi - Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados.

Trazendo em seu nome o espírito do seu trabalho, zanmi, em crioulo haitiano quer dizer amigo, amiga, atualmente o Centro Zanmi funciona em uma sede, no centro de Belo Horizonte, e se transformou em uma referência no acolhimento a migrantes no estado de Minas Gerais. Se em seus primórdios, atendia somente a comunidade haitiana da região metropolitana de BH, hoje migrantes e refugiados bolivianos, colombianos, argentinos, chilenos e provenientes de diversos países da África também são orientados pelo Centro Zanmi assim como pessoas sem nacionalidade, os apátridas.

Serviço amigo

O migrante que chega ao Centro Zanmi passa prioritariamente pela área de Acolhida e Documentação, onde um profissional faz uma escuta atenta da história do/a migrante/refugiado/a, apresenta a organização e encaminha os serviços documentais. Os projetos da Área Social cuidam da inserção socioeconômica dos migrantes e refugiados, colaborando para que tenham acesso a direitos fundamentais como trabalho, moradia, educação, tratamento igualitário, saúde, assistência Social, etc. A área Trabalho também colabora com essa inserção socioeconômica, elaborando currículos profissionais, organizando palestras de qualificação e intermediando as demandas de empresas e a disponibilidade dos migrantes e refugiados para as vagas de emprego.

Na área Línguas e Cultura, são oferecidos gratuitamente cursos de português e o crioulo, realizadas celebrações nacionais significativas, visitas a museus, parques e outras atividades de cunho cultural. Outra atuação importante é desenvolvida pela Área Jurídica, que atua pela proteção dos direitos humanos dos migrantes e refugiados, fazendo a defesa daqueles que sofrem com violações, agressões e ameaças a direitos individuais e coletivos. A organização também está atenta ao fenômeno migratório de modo mais global, temática que é de responsabilidade da Área Incidência.  Esse núcleo é responsável pela reflexão e desenvolvimento de ações e campanhas de defesa de migrantes e refugiados. Nessa área se insere também o serviço de Comunicação do Centro Zanmi.

Na área de Projetos e Finanças o Centro Zanmi busca a manutenção e a sustentabilidade financeira dos serviços prestados, elaborando propostas e acompanhando projetos que atendam às diversas demandas do público-alvo da organização. Por fim, há o Voluntariado, área responsável por captar, inserir e formar voluntários, seguindo o exemplo solidário do seu precursor, Emilio Traviesso.

E assim vai sendo construída a história do Centro Zanmi, uma organização que tem em sua essência o desejo de ser um ombro amigo e uma casa aberta e acolhedora para migrantes e refugiados em Minas Gerais.

Centro Zanmi

*Fernanda Castro é jornalista e voluntária do Centro Zanmi.

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