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Centro Zanmi traz no nome o espírito do seu trabalho: zanmi em crioulo haitiano quer dizer amigo, amiga.
Refugiados que vivem no Rio se unem na torcida pela equipe de judocas de refugiados. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Por Fernanda Castro*
O espírito solidário de um jesuíta transformou a vida de um grupo de haitianos que migraram para Minas Gerais e foi a semente da qual germinou o Centro Zanmi, uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que acolhe, auxilia e acompanha a população migrante, refugiada e apátrida na Região Metropolitana de Belo Horizonte, capital do estado mineiro. O funcionamento do Centro Zanmi acontece pela dedicação de uma equipe de profissionais da sociedade civil e de voluntários, e conta com o apoio financeiro das congregações religiosas das Filhas de Jesus e da Companhia de Jesus.
A iniciativa começou timidamente, em 2011, quando o jesuíta Emilio Traviesso, então estudante de Teologia da Faculdade Jesuíta (FAJE), em Belo Horizonte, assistiu pela televisão a uma reportagem que retratava a situação de haitianos em Contagem-MG, chegados ao Brasil, depois do terremoto que devastou o país, em 2010. Sensibilizado, Emilio foi em busca dessa comunidade e encontrou cerca de 20 haitianos trabalhando numa empresa alimentícia. Desde o primeiro contato, o grupo se encantou com a fluência de Emilio em Kreyòl (o crioulo, língua falada por quase toda a população haitiana). Começava, então, uma amizade que seria um alento para esses imigrantes.
Os primeiros auxílios foram em relação aos documentos para se estabelecerem no Brasil e ao aprendizado da língua portuguesa. Em 2012, os jesuítas Juan Diego Galaz e Arturo Estrada e a freira da Congregação Filhas de Jesus, Belkys Moya, passaram a colaborar com Emílio, assim como o francês Pascal Peuzé e o brasileiro Zames Souza. No final de 2012, Emílio foi transferido para a República Dominicana, mas a criação do Centro Zanmi não tardou. No ano seguinte, em 15 de novembro de 2013, a partir de um convênio firmado com as Filhas de Jesus e o Serviço Jesuíta, teve início o Centro Zanmi - Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados.
Trazendo em seu nome o espírito do seu trabalho, zanmi, em crioulo haitiano quer dizer amigo, amiga, atualmente o Centro Zanmi funciona em uma sede, no centro de Belo Horizonte, e se transformou em uma referência no acolhimento a migrantes no estado de Minas Gerais. Se em seus primórdios, atendia somente a comunidade haitiana da região metropolitana de BH, hoje migrantes e refugiados bolivianos, colombianos, argentinos, chilenos e provenientes de diversos países da África também são orientados pelo Centro Zanmi assim como pessoas sem nacionalidade, os apátridas.
Serviço amigo
O migrante que chega ao Centro Zanmi passa prioritariamente pela área de Acolhida e Documentação, onde um profissional faz uma escuta atenta da história do/a migrante/refugiado/a, apresenta a organização e encaminha os serviços documentais. Os projetos da Área Social cuidam da inserção socioeconômica dos migrantes e refugiados, colaborando para que tenham acesso a direitos fundamentais como trabalho, moradia, educação, tratamento igualitário, saúde, assistência Social, etc. A área Trabalho também colabora com essa inserção socioeconômica, elaborando currículos profissionais, organizando palestras de qualificação e intermediando as demandas de empresas e a disponibilidade dos migrantes e refugiados para as vagas de emprego.
Na área Línguas e Cultura, são oferecidos gratuitamente cursos de português e o crioulo, realizadas celebrações nacionais significativas, visitas a museus, parques e outras atividades de cunho cultural. Outra atuação importante é desenvolvida pela Área Jurídica, que atua pela proteção dos direitos humanos dos migrantes e refugiados, fazendo a defesa daqueles que sofrem com violações, agressões e ameaças a direitos individuais e coletivos. A organização também está atenta ao fenômeno migratório de modo mais global, temática que é de responsabilidade da Área Incidência. Esse núcleo é responsável pela reflexão e desenvolvimento de ações e campanhas de defesa de migrantes e refugiados. Nessa área se insere também o serviço de Comunicação do Centro Zanmi.
Na área de Projetos e Finanças o Centro Zanmi busca a manutenção e a sustentabilidade financeira dos serviços prestados, elaborando propostas e acompanhando projetos que atendam às diversas demandas do público-alvo da organização. Por fim, há o Voluntariado, área responsável por captar, inserir e formar voluntários, seguindo o exemplo solidário do seu precursor, Emilio Traviesso.
E assim vai sendo construída a história do Centro Zanmi, uma organização que tem em sua essência o desejo de ser um ombro amigo e uma casa aberta e acolhedora para migrantes e refugiados em Minas Gerais.
Centro Zanmi
*Fernanda Castro é jornalista e voluntária do Centro Zanmi.
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