sábado, 14 de janeiro de 2017

Superfícies refletoras e árvores podem reduzir a temperatura das cidades

  domtotal.com
As principais causas de ilhas de calor são a urbanização e as mudanças no uso da terra.
Urbanização faz com que extensas áreas fiquem com pouca ou nenhuma cobertura natural.
Urbanização faz com que extensas áreas fiquem com pouca ou nenhuma cobertura natural. (Divulgação)
Por José Tadeu Arantes

A mudança climática global, com seu cortejo de eventos extremos, é um processo de tão vastas implicações que obscurece o fenômeno menor das chamadas “ilhas urbanas de calor”. No entanto, esse fenômeno, que faz com que as cidades sejam em média mais quentes do que o seu entorno, não apenas contribui para o aquecimento do planeta como torna seus efeitos ainda mais sensíveis para os moradores das cidades, que constituem hoje mais da metade da população mundial. No Brasil, quase 85,7% da população já vivia em cidades em 2015, de acordo com indicadores do Banco Mundial.

Com o título “Energy saving by mitigating urban heat islands in cities”, um estudo sobre as ilhas urbanas de calor e sua mitigação foi apresentado pela pesquisadora Sahar Sodoudi, do Departamento de Ciências da Terra da Freie Universität, de Berlim, Alemanha, durante o 5º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, realizado em 29 e 30 de novembro, na Câmara Municipal de São Paulo. Promovido pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação – São Paulo (Deutsche Wissenschafts- und Innovationshaus – São Paulo – DWIH-SP), o encontro teve o apoio da FAPESP.

“As principais causas dessas ilhas de calor são a urbanização e suas consequentes mudanças no uso da terra. A remoção da vegetação, a pavimentação de avenidas e ruas e a construção de edifícios fazem com que extensas áreas fiquem com pouca ou nenhuma cobertura natural”, disse Sodoudi à Agência FAPESP. “Os materiais utilizados, como o asfalto e o concreto, possuem alta capacidade de armazenar energia térmica, que é retida durante o dia e devolvida à atmosfera depois do pôr-do-sol. É essa energia, liberada pelas superfícies horizontais e verticais, que leva à formação das ilhas de calor.”

Além disso, sublinhou a pesquisadora, a impermeabilização do solo faz com que as águas sejam rapidamente enviadas para a rede de esgotos, reduzindo a evaporação, que poderia arrefecer a temperatura. Pesquisa conduzida por ela e colaboradores em área densamente edificada do sexto distrito urbano da megacidade de Teerã, no Irã, revelou quase 97,4% de superfície impermeável e apenas pouco mais de 2,4% de superfície coberta por vegetação, arbórea ou rasteira. “O aquecimento é ainda mais intensificado pela energia térmica de origem antrópica, liberada nas chaminés das fábricas e nos escapamentos dos veículos”, acrescentou.

A pesquisa simulou várias estratégias de mitigação para as ilhas de calor. A melhor opção foi proporcionada por um cenário híbrido, combinando o uso de materiais com elevado coeficiente de reflexão (high albedo material – HAM) na pavimentação das ruas e revestimento dos edifícios e o plantio de árvores frondosas no espaço entre os prédios. “Nesse cenário, obtivemos uma redução média de aproximadamente 1,67 kelvin às 15 horas e de 1,10 kelvin às 3 horas. O máximo de resfriamento calculado foi de 4,20 kelvin na área arborizada entre os edifícios”, informou Sodoudi.

Outra variável considerada nas simulações foi a orientação espacial das avenidas e ruas. “No caso de Teerã, o alinhamento na direção Leste-Oeste mostrou-se mais eficiente do que o alinhamento na direção Norte-Sul”, afirmou a pesquisadora.


Agência FAPESP, 05-01-2017.

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