sábado, 14 de janeiro de 2017

O adeus da família real

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No discurso de despedida de Obama, o povo gritava: "Mais quatro anos!"
 Michelle na despedida:
Michelle na despedida: "A diversidade não é uma ameaça, é o que somos". Foto (Reprodução)

Por Marco Lacerda*

"Sim, nós podemos" ("Yes, we can"). Foi esta a frase que levou Barack Obama à Casa Branca em 2009, ano em que foi eleito o 44.º Presidente dos Estados Unidos da América. “Nós continuamos a ser a nação mais rica, mais poderosa e mais respeitada no mundo. A nossa juventude, a nossa diversidade e a nossa abertura, a nossa capacidade ilimitada de lidarmos com o risco e com a reinvenção diz-nos que o futuro pode ser nosso. Mas esse potencial só pode ser alcançado se a nossa democracia funcionar e se a nossa política refletir a decência do nosso povo.”

Foi em Chicago, onde começou sua carreira política, que ele proferiu o discurso de despedida. Foi lá que conheceu Michelle num escritório de advogados. Foi em Chicago que, jovem na profissão, ajudou a comunidade negra pobre e mais tarde deu aulas de Direito na universidade local. Foi lá onde nasceram as duas filhas, e onde se lançou como senador.

A cidade retribuiu, demonstrando sua paixão pelo primeiro presidente negro da história dos EUA. Milhares de pessoas saíram de casa de madrugada e enfrentaram temperaturas gélidas para conseguir um bilhete gratuito para o seu último discurso. A procura foi tanta que às 7 da manhã a polícia já não deixava mais ninguém entrar na fila: os bilhetes tinham esgotado. 

O primeiro presidente afrodescendente dos Estados Unidos agradeceu ao povo americano “por esta extraordinária aventura" e partilhou pensamentos sobre o futuro. Futuro esse agora entregue a Donald Trump, seu destrambelhado sucessor a quem ele já havia mandado um recado: “A ignorância não é uma virtude”.

Obama deixa a Casa Branca com alto índice de popularidade. Lembrou “a dignidade calada do povo trabalhador”, acrescentando que a mudança só é possível “quando as pessoas comuns do dia-a-dia se envolvem e juntam forças para exigir mudanças.

“Foi em bairros não muito longe daqui que comecei a trabalhar com igrejas nas sombras de fábricas fechadas, foi nestas ruas que testemunhei o poder da fé e a dignidade calada do povo trabalhador diante de dificuldades e perdas”.

O presidente recordou os seus sucessos na revitalização da economia em crise oito anos atrás, a redução drástica do desemprego, o sucesso das negociações para o fim do programa nuclear iraniano e o restabelecimento de relações com Cuba.

A primeira dama Michelle Obama não deixou por menos. Seu estilo único de se vestir fez mais pelas mulheres do mundo do que muitos discursos feministas e libertários. Michelle conseguiu conciliar classe e informalidade, alegria com discrição e firmeza com feminina sensualidade.

“A diversidade não é uma ameaça, é o que somos”, disse em sua mensagem de despedida dirigida especialmente aos jovens. “Se seus pais ou vocês são imigrantes, saibam que vocês fazem parte da mesma tradição que fez este país tão grande, não importa sua origem racial, religiosa ou sexual. Nunca deixem que ninguém os faça acreditar que vocês não têm um lugar na nossa história”.

Barack Obama disse também que uma das ameaças à democracia dos Estados Unidos é a questão da raça dos americanos. “Depois da minha eleição falou-se numa América pós-racial, mas essa visão, embora bem intencionada, nunca foi realista”, para explicar que "a questão da raça permanece como uma força divisora na nossa sociedade, mas são melhores do que eram há 10, 20 ou 30 anos”.

Obama apelou também por um maior espirito de compreensão e compromisso na cena política e por ações “mais corajosas” no combate às alterações climáticas. “Devemos e podemos discutir os melhores meios de resolver o problema, mas negar o problema não só atraiçoa as gerações futuras, como trai o espirito de inovação e de resolução de problemas que guiou os nossos fundadores”, reiterou.

Para Barack Obama, terrorismo e autocracia são mais perigosos que um carro-bomba ou um míssil. “Isso representa o medo da mudança, o medo de pessoas que falam e oram de modo diferente. E desafiou: “O Estado Islâmico pode tentar matar pessoas inocentes, mas não pode derrotar a América a não ser que atraiçoemos a nossa Constituição e os nossos princípios”.

Obama começou, foi interrompido várias vezes e concluiu seu discurso sob os gritos em uníssono da multidão: “Mais quatro anos! Mais quatro anos!”

*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal.

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