terça-feira, 29 de agosto de 2017

Pode a dança proporcionar significado à vida? O filme 'Polina' nos deixa esta pergunta.

domtotal.com
O filme 'Polina' enfoca o que significa encontrar o sentido da vida, particularmente como um convite à dança.
'Polina' entra em cartaz no Brasil no dia 02 de Novembro de 2017.
'Polina' entra em cartaz no Brasil no dia 02 de Novembro de 2017. (Copyright Capelight)
Por Raymond A. Schroth*

O que é dançar? É apenas uma expressão física e rítmica de um sentimento ou ideia, o corpo falando pelo que a mente e o coração sabem? Com o clássico filme britânico "The Red Shoes" e Fred Astaire como inspiração, uma equipe de destacados atores, diretores, escritores e dançarinos russos e franceses contaram a história de uma jovem no novo filme chamado: "Polina". Dirigido e escrito por Valérie Müller e Angelin Preljocaj, e anteriormente publicado como uma novela escrita, o filme enfoca o que significa encontrar o sentido da vida, particularmente como um convite à dança.

A história começa como um relato sobre o mundo do balé, mas para segui-lo, devemos pensar no que os americanos e outros experimentaram no cinema, no palco, na ópera, em Broadway, no balé, na dança irlandesa, no jazz de Nova Orleans e na marcha militar. Assistir e ouvir um newsreel do goose-stepping1 do exército da Coréia do Norte - entrando na praça da cidade e comemorando o míssil em exibição. Prestar atenção à música de fundo em filmes como "Star Wars", filmes que contêm cenas de duelo que incluem o movimento do corpo.

Quando encontramos por primeira vez a Polina (Veronika Zhovnytska, uma moça jovem, Anastasia Shevtsova como uma jovem adulta), ela é uma aluna em aulas de balé se preparando com outros alunos para se juntarem ao Ballet Bolshoi em Moscou. Os pais dela, particularmente o pai, estão determinados a fazer dela uma bailarina profissional. Seu professor Bojinski (Aleksei Guskov), um perfeccionista, tem o porte de um sargento, que leva seus alunos à perfeição no balé.

Durante o filme, ouvimos que o governo não está completamente feliz com a escola. Uma e outra vez, vemos a classe assumindo rigidamente a mesma postura. Sentimos, inclusive, que o filme está fazendo uma declaração política. Uma noite nevada, vemos a Polina se dirigindo para casa através dos bosques e entrando em uma dança espontânea, pulando, curvando-se, girando - não mais a dançarina rígida e obediente que vimos na aula. Em seu devaneio, também percebemos as torres de uma usina nuclear.

De repente, Polina se muda para Aix-en-Provence, na França, em parte para seguir um namorado, mas também para estudar com Liria Elsaj (Juliette Binoche), mestre de dança moderna. Polina e a professora Liria parecem se conectar. A inquieta Polina conta a sua mãe ao telefone que suas performances em algumas das grandes cidades da Europa foram bem recebidas. Na verdade, ela mudou-se para Antuérpia, na Bélgica, onde, sem dinheiro, ela trabalha o dia inteiro em um bar cheio até que um dia colapsa em seu apartamento. Enquanto isso, sob a direção de um jovem francês Karl (Jérémie Bélingard), vemos surgir seu novo estilo de dança, impulsionado pelos seus sentimentos.

Seu pai, que se envolveu em atividades ilegais para arranjar dinheiro para ela, viaja de Moscou até Antuérpia para vê-la. Podemos vê-los juntos, mas não dá para acompanhar a conversa. Ele viveu e se sacrificou com a esperança eterna de que sua filha dançaria com o Ballet Bolshoi. Por razões que não são claras, passamos para uma cena em que Polina e seu pai vão caçar na neve. Um veado emerge, mas eles não percebem isso. Eles se deitam na neve como para descansar, e então seu pai atira em um animal muito pequeno que mal podemos ver. O cervo reaparece mais tarde, novamente sem ser notado, e se afasta. Ele representa algo que acontece no interior das emoções emudecidas da Polina?

A morte de seu pai a liberta da tensão de negar seus sonhos de dançar no Bolshoi. Voltando a Aix-en-Provence e à inspiração de Lira, desta vez acompanhada por Karl, seu parceiro de apartamento e mentor, vemos os dois, umas vezes em silêncio e outras vezes na beleza de responder com seus corpos a pergunta que nunca compartilhou Polina: o que ela fará com a vida dela? Em outra cena de neve, observamos uma dança sem camisa de Karl e Polina com novas músicas, esta vez lentas, metódicas e livres. Cada um deles está abrindo seus braços. Do seu giro emerge um abraço novo, quente e profundo. Dizem que o aluno supera o mestre. Eles dançaram a sua coreografia juntos até o final.

[1] Em disciplina militar de alguns países se conhece como passo de ganso e é usado nas marchas dos desfiles militares onde os soldados esticam as pernas até o mais alto possível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário