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Cristianismo nunca mais foi o mesmo, assumindo muitos rostos e possibilidades. Cinco séculos depois, ainda é preciso pensar sua missão no mundo, diante da urgência do Reino.
Refletir sobre o protestantismo na atualidade, à luz do movimento que gestou essa tradição, é, entre outras coisas, reafirmar a missão da única Igreja de Cristo. (Marc-Olivier Jodoin/Unplash).
Celebra-se, no próximo dia 31, 500 anos da Reforma Protestante, simbolizada pelo gesto de Lutero de pregar as suas 95 teses na porta de uma capela no castelo de Wittenberg. O movimento de Lutero, bem como dos outros Reformadores, desinstalou o cristianismo, engessado numa postura que, de fato, carecia de uma flexibilização. O cristianismo, diante disso, nunca mais foi o mesmo, assumindo muitos rostos e possibilidades. Protestantismo e Catolicismo permanecem vivos, em seus caminhos e descaminhos. Na celebração dos 500 anos da Reforma, uma possibilidade se abre ao cristianismo: pensar sua missão no mundo, diante da urgência do Reino de Deus: a reforma continua!
Seja esta celebração uma oportunidade ecumênica. Que protestantes, evangélicos e católicos possam voltar à sua origem, que é o Evangelho, fonte da unidade do Reino, que quer alcançar a todos e todas. Refletir sobre o protestantismo na atualidade, à luz do movimento que gestou essa tradição, é, entre outras coisas, reafirmar a missão da única Igreja de Cristo, que comporta a todos os cristãos e cristãs. Unidos em torno dessa ocasião, os cristãos e cristãs de todas as igrejas podem fazer memória daquilo que os identifica, na união com o Cristo: o serviço ao Reino, que está para além das confissões religiosas, mas que se configura num novo modo de viver, segundo o amor de Deus.
O primeiro artigo de nossa matéria especial, Lutero e um gesto que ainda ressoa, do Drdo. Fabrício Veliq, propõe uma leitura do simbolismo do gesto de Lutero, em pregar as 95 teses na porta da capela. No artigo, o autor analisa o valor do diálogo, presente no simbolismo de Lutero, que convida à reflexão, por amor à verdade. Analisa, ainda, o valor profético de tal gesto, em sua denúncia dos males que assolavam os pobres, vítimas da instituição religiosa que havia perdido o horizonte de sua verdadeira missão. Tais valores continuam a ressoar em nosso meio cristão, protestante e católico, como convite a que nos interpelemos pelos sinais dos tempos, em verdadeira fidelidade ao Evangelho.
O segundo artigo, Justificação pela fé, da Ms. Flávia Gomes, reflete a respeito de um dos pontos mais centrais da Reforma Protestante, o tema da justificação, isto é, da salvação. Diante da religião praticada em seu tempo, Lutero reflete, a partir da Carta de São Paulo aos Romanos, o tema da salvação, que não é possível ser alcançado por méritos das obras, mas somente mediante a fé, dado que a justificação é dom. Tal reflexão se mostra bastante necessária, quando cristãos e cristãs de todas as igrejas se veem tentados a suprimir a graça de Deus, confiando em seus próprios méritos.
Fechando nossa matéria especial, o Dr. Carlos Cunha nos propõe o artigo 500 anos da Reforma, e agora?, no qual reflete sobre as perspectivas que a Reforma nos trazem para a atualidade dos cristãos e cristãs. A Igreja é, constantemente, chamada à reforma de suas próprias estruturas, desinstalando-se frente aos poderes do mundo. No processo de deixar-se reformar, atenta aos sinais dos tempos, a Igreja percorre um caminho de fé, no qual é possível proferir uma Palavra de vida, sempre sensível à urgência da libertação do mundo.
Que os 500 anos da Reforma inspirem em nós, cristãos e cristãs desse nosso tempo, a coragem evangélica de contestar as estruturas que oprimem e que impedem o acontecimento do Reino de Deus!
Boa leitura!
Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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