quinta-feira, 26 de outubro de 2017

As distintas mensagens sobre o valor da vida humana

"Se não tivermos paz, é porque nos esquecemos de que pertencemos um ao outro".


Cena do filme
Cena do filme "Uma razão para viver". (Divulgação)
Por Haley Stewart
Um homem bem-sucedido e bonito no auge da vida sofre uma paralisia do pescoço para baixo. No seu desespero, ele deseja a morte, mas a bela mulher que o ama se recusa a deixá-lo desistir sem lutar. A descrição corresponde ao filme "Como eu era antes de você¹" ou a obra "Uma razão para viver".
Mas, apesar das semelhanças, os filmes compartilham mensagens diferentes sobre o valor da vida humana. 
"Como eu era antes de você" foi (com razão) criticado pela comunidade de pessoas com deficiências por glorificar a eutanásia e descartar a verdade de que há valor para toda vida humana. No filme, Will Traynor, um homem rico com uma família atenciosa e uma namorada dedicada, escolhe a morte.

Confira o trailer!


"Uma razão para viver²", por outro lado, baseia-se na verdadeira história de Robin Cavendish, que, através do amor e da tenacidade de sua esposa, encontra significado na vida, apesar de sofrer uma paralisia do pescoço para baixo depois de contrair uma poliomielite. "Uma razão para viver" não cometeu o erro de romantizar a experiência dos Cavendish ou de mascarar o sofrimento, mas revela que através do amor dedicado e o compromisso de honrar a dignidade da pessoa humana, a alegria e a realização são possíveis.
Contudo, nenhum dos filmes se alinha com a doutrina da Igreja que proíbe a eutanásia. "Uma razão para viver" enfatiza o dom da vida. Quando Robin (Andrew Garfield) adoece algumas semanas antes do nascimento de seu primeiro filho, seus sentimentos de desespero e prisão na vida hospitalar o deixam implorando a morte.
"Eu queria morrer, mas minha esposa me disse que eu tinha que viver", ele explica mais tarde. Diana (Claire Foy) insistia que ele era necessário e insubstituível para ela e seu filho recém-nascido - não porque ele pudesse cuidar de sua família da maneira que ele imaginou, mas porque ele tem um valor em si mesmo que não pode ser diminuído por sua condição médica.

Em vez de dar lugar à depressão compreensível de Robin ou concordar com o conselho médico unânime de que Robin deveria permanecer no hospital para toda a vida, Diana com muita coragem, começa uma missão para melhorar a qualidade de vida de Robin. Ela começa a levá-lo da enfermaria para a casa para cuidar dele - uma possibilidade que nunca havia sido tentada por alguém com o grau de paralisia de Robin.
À medida que seus amigos se reúnem em torno deles, Diana e Robin trabalham lado a lado com o inventor Teddy Hall (Hugh Bonneville) para criar uma cadeira de rodas com um respirador móvel que permitisse que Robin saísse de sua cama e se juntasse a seus amigos e familiares ao sol no jardim ou mesmo para algumas viagens internacionais.
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Diana vê Robin como um ser humano inteiro composto de corpo e alma, enquanto o médico encarregado do seu caso o vê apenas como um corpo quebrado. Uma e outra vez, os Cavendishes devem lutar para ajudar Robin a não "apenas sobreviver", mas "realmente viver". A magnitude do que eles conseguem é evidente quando visitam um hospital para deficientes físicos na Alemanha. Enquanto mantém a vida dos pacientes com tecnologia de ponta, a instalação desprezou a personalidade de seus pacientes. Diana empurra Robin através de uma sala branca e estéril de pacientes empilhados em pulmões de ferro semelhantes a caixões, seus rostos apontando para o teto, enquanto homens de laboratórios fazem anotações, mas nunca conversam com eles.
Enquanto pretendia ser um lugar para proteger a vida, a instalação é um exemplo da incapacidade da comunidade médica de ver cada paciente como uma pessoa humana inteira. Diana e Robin tornam a missão deles de defender as pessoas com deficiência em um "abrir os portões e liberá-los". Enquanto "Como eu era antes de você" mostra Will Traynor se concentrar, interiormente, no seu próprio sofrimento, o amor de Diana ajuda Robin a se afastar. O trabalho deles e a invenção de Teddy Hall levam milhares de pessoas de cuidados hospitalares permanentes a experimentar a vida no mundo.
"Uma razão para viver" nos lembra da verdade cristã de que não somos nossos. Nós pertencemos a Deus e, como Diana Cavendish mostrou ao marido, a outras pessoas. A Santa Madre Teresa de Calcutá rezava da seguinte forma: "se não tivermos paz, é porque nos esquecemos de que pertencemos um ao outro". Diana não deixa Robin esquecer isso. "Sua vida é minha vida", ela diz a ele quando ele começa a ter mais complicações pelas décadas vivendo com um respirador e começa a contemplar a eutanásia.

Para uma história que depende da escolha da vida, é doloroso aprender que, em seus últimos anos, Robin Cavendish escolheu acabar com sua própria vida (com permissão, mas contra os desejos de Diana). Mas, como o produtor do filme Jonathan Cavendish (filho de Robin e Diana) aponta no final do filme, "Uma razão para viver" é uma homenagem ao dom da vida que lhe permitiu conhecer seu pai. "Uma razão para viver" nos faz lembrar que as maravilhas são possíveis se reconhecermos que pertencemos um ao outro, que toda vida humana é valiosa e que possui dignidade em si mesma e que o amor pode nos levar à luz quando perdemos toda esperança.
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¹ Me before you é um filme do diretor Thea Sharrock lançado no Brasil em junho de 2016. O tema principal é o da eutanásia.
² Breathe é um filme do diretor Andy Serkis lançado no Brasil em outubro de 2017. Também trabalha o tema da eutanásia.

America The Jesuit Review. Tradução: Ramón Lara.

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