sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Morreu Salvatore ‘Toto’ Riina, o mais poderoso dos chefes mafiosos

Paulo Alexandre Amaral - RTP17 Nov, 2017, 11:25 | Mundo
Morreu Salvatore ‘Toto’ Riina, o mais poderoso dos chefes mafiosos |
 Reuters
Morreu Salvatore ‘Toto’ Riina, o mais poderoso dos chefes mafiosos
Salvatore ‘Toto’ Riina morreu esta sexta-feira, aos 87 anos, na unidade hospitalar do centro prisional de Parma onde cumpria 26 penas de prisão perpétua. Condenado por dezenas de homicídios, apesar de se acreditar que tenha ordenado mais de centena e meia, aquele que foi o mais poderoso dos chefes mafiosos da Sicília terá sucumbido a um cancro, de acordo com a BBC. Até ao fim manteve-se fiel ao código de silêncio da Cosa Nostra, mantendo um selo de pedra sobre os anos em que liderou a mais poderosa estrutura do crime organizado em Itália.


Na folha de Salvatore ‘Toto’ Riino estão não apenas oponentes de base, como chefes mafiosos que desafiou nos primeiros anos de ascenção na Cosa Nostra e dois magistrados italianos que ganharam notoriedade na luta contra a máfia: Giovanni Falcone e Paolo Borsellino. Vistos como a mais séria ameaça à sua organização, Riino rebentou com o carro do primeiro em Maio de 1992 e o do segundo em julho do mesmo ano. Morreram ambos e com eles oito guarda-costas, além da mulher de Falcone. 

São vários os cognomes por que podia ser chamado: Toto, a Besta, Tirano ou Baixote, pela baixa estatura. São mais adjectivos do que substantivos, adjectivos ganhos à custa da crueldade com que fez o caminho até ao topo da Cosa Nostra, a organização que espalhou o seu domínio de terror a partir da Sicília.

Dizem as várias notas biográficas da imprensa de hoje que aos 13 anos perdeu o pai, um agricultor pobre, quando este tentava livrar-se dos explosivos do resto de uma bomba deixada pela Segunda Guerra Mundial. 

Seis anos depois, aos 19, entra para a Máfia em Corleone, a localidade italiana que serviria de inspiração ao escritor norte-americano Mario Puzo para nomear a personagem de O Padrinho, adaptada ao cinema por Francis Ford Coppola.

‘Toto’ Riina matou um membro de um gangue rival numa escaramuça, o que lhe valeu a primeira passagem pela cadeia. Seis anos. Um ritual obrigatório, a senha de entrada para o mundo da Máfia. Estávamos no pós-guerra.Salvatore 'Toto' Riino nasceu em 1930 no seio de uma família de agricutores pobres de Corleone, na Sicília.

As décadas seguintes escrevem-se com páginas de brutalidade e assassínios a sangue-frio. Riina vai eliminando oponentes dentro da própria Cosa Nostra até chegar à cadeira mais alta da organização, que cimenta o seu poder (financeiro) em cima do negócio da droga destinada à América do Norte).

É, no entanto, a crueldade do “capo dos capos”, o regime de terror que impõe na Cosa Nostra, que determinará a sua queda, depois de no início da década de 80 ter dado início a uma operação sangrenta para se livrar dos outros “capos”, os grandes chefes mafiosos.

Num período que ficará para a história como “a carnificina”, foram vários os homicídios ordenados por ‘Toto’ Riina. Durante um par de anos, correu um banho de sangue dentro da estrutura, uma eliminação natural para eleger o melhor de todos eles. No caso, o pior.

Temendo tanto os métodos como os objectivos do novo chefe, foram vários os mafiosos que quiseram proteger-se, a si e às suas famílias. Aconteceu então o impensável para a máfia. Quebraram a omertà, o código de silêncio, “nem uma palavra quando questionados pela polícia acerca da organização”. Seguiram-se denúncias atrás de denúncias que permitiram a Falcone e Borsellino por dezenas de mafiosos atrás das grades.

A história também não acabou bem para os dois magistrados. Numa tentativa de estancar a sangria que estava a ser feita à Cosa Nostra, ‘Toto’ Riino ordena a execução de Falcone e Borsellino.

Um ano depois, em 1993, após um quarto de século de fuga às autoridades, é capturado. Nunca mais seria um homem livre. Condenado a 26 penas perpétuas por dezenas de mortes, foi submetido a um regime de detenção estrito, tendo sido cortados praticamente todos os contactos com o exterior, para não permitir que continuasse a liderar a organização a partir da prisão.

Morreu esta sexta-feira aos 87 anos. Tinha complicações de coração, um cancro no rim e doença de Parkinson. Ao contrário dos seus rivais, nunca quebrou a omertà. Com ele partem segredos não apenas acerca da organização mafiosa que chefiou em Palermo, mas que podem envolver negociações com Roma, a sede do governo italiano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário