terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Florescerão os sonhos

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Cada ser em si traz consigo a força para se recriar, aproveitando o momento oportuno para tal.
Tal como na natureza, em nós acontece algo semelhante. Há um momento e um tempo propício para nossas estações.
Tal como na natureza, em nós acontece algo semelhante. Há um momento e um tempo propício para nossas estações. (Reprodução/ Pixabay)
Por Tânia da Silva Mayer*

Embora estejamos vivendo dias bastante chuvosos, a primavera pode ser sentida por todos nós. Basta lembrarmos a secura dos jardins, das árvores e das matas que contemplávamos poucos meses atrás para nos darmos conta de como a vida insiste em florescer, faça chuva ou faça sol. Na mínima chuva primaveril, o verde voltou a reinar majestoso e as flores, uma a uma, foram encontrando outra vez o seu lugar. A vida renasceu! Tudo isso se descortinou aos nossos olhos apressados pelo vaivém dos automóveis e da vida agitada e corrida que estamos vivendo. Há olhos que ainda não vislumbraram as transformações ocorridas.

No princípio, a chuva veio timidamente e logo a natureza se encheu de formas, cores e perfumes. A chuva foi somente um motivo para que as radicais mudanças ocorressem na natureza. A força para transformar a ausência da vida em vida abundante estava escondida dentro de cada ser e esperava uma oportunidade para mostrar seu poder. Nenhuma pessoa de boa vontade provocou o florescimento no quintal, também não foi alguém bem intencionado que devolveu às serras o verde que as cobrem agora. Cada ser em si traz consigo a força para se recriar, aproveitando o momento oportuno para tal, nesse caso, as primeiras gotas que orvalharam dos céus.

Tal como na natureza, em nós acontece algo semelhante. Há um momento e um tempo propício para nossas estações. E não é difícil encontrar quem esteja vivendo um rigoroso inverno mesmo quando já é primavera, mesmo quando os sinais de vida se tornam mais abundantes a nossa volta. O fato é de que temos vivido tempos difíceis e de muitas crises. Nesses momentos corremos sérios riscos de perder a esperança e o sentido de nossas existências, é quando nos percebemos mais depressivos e o desânimo nos furta o desejo de ir além e de avançar rumo a outros horizontes. Quando não é possível dar a volta por cima com as nossas próprias forças, é fundamental procurar a ajuda daqueles que nos querem e nos fazem bem.

Para superar os tempos invernais, precisamos buscar em nós a força para florescer, mesmo em tempos não propícios como estes. O caos hodierno tende a nos deixar desesperançados, sem perspectiva de melhora e cegos para nosso potencial de mudança. A transformação que o mundo necessita experimentar deve começar em nós, dentro de nós. Essa formulação não pode ser clichê. As mudanças exteriores só podem ser operadas graças à força transformadora, inventiva e re-criadora que trazemos em nós como marcas profundas. O ser humano não pode abrir mão da vocação a que é chamado: de promover vida plena e abundante.

Mas para isso, não podemos deixar de sonhar e de nos esperançarmos apesar das muitas dificuldades que enfrentamos. Nosso coração precisa ser embalado pela utopia e o desejo de transformar situações de dor em momentos de alegria. O poeta sábio é aquele que sabe que os “sonhos não envelhecem” e que as pessoas que sonham possuem grandes possibilidades para florescer, em tempos de primavera ou em qualquer outra estação. Enquanto mantivermos em nós o hábito de projetar a vida para além da sua imediatez, cultivaremos os sonhos que podem transformar o mundo em outro mundo possível. Nós, os cristãos e as cristãs, que esperamos pela vinda do Senhor, e todos que se encontram às portas da conclusão de mais um ano civil, deixemos florescer em nós os sonhos e com eles a força para acolhermos a vida que nos brinda nas cores e flores da primavera.

*Tânia da Silva Mayer é mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE); graduanda em Letras pela UFMG. Escreve às terças-feiras. E-mail: taniamayer.palavra@gmail.com.

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