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Maria, em sua tenra juventude assumiu corajosamente uma gravidez sem estar formalmente casada.
Mãe que está sempre de braços abertos para acolher seus filhos. (Reprodução)
Por Evaldo D' Assumpção*
Aproxima-se o Natal, e com ele sempre vem um questionamento: quem foi Maria? Os quatro Evangelhos canônicos, são bastante econômicos no que se refere à sua história. Já alguns textos apócrifos, como o Evangelho de Pseudo Tomé, o Proto-Evangelho de Tiago, o texto de Pseudo-Melitão de Sardes, entre outros, contam coisas maravilhosas a seu respeito. Lendas, existem muitas. Mas, ainda assim permanece a pergunta: realmente, quem foi Maria?
Alguns a colocam como uma jovem de profunda espiritualidade, residindo com seus pais Joaquim e Anna na cidade de Nazaré. Era dedicada à oração e ao serviço do Senhor. Outros a pretendem órfã e dedicada ao Templo, onde morava e fora educada. Histórias e lendas. Mas, quem foi Maria?
Seu voto de castidade representava suas núpcias com o Senhor, Deus do Universo. Não se entregaria a homem algum. Contudo eram tempos messiânicos. Esperava-se o Messias. Por isso, todas as jovens deviam se casar, pois não se sabia através de qual delas deveria vir o Ungido de Deus. E Maria, sempre obediente à vontade do Senhor, aceitou o marido que Ele lhe destinou: José, o carpinteiro. Para uns um jovem casto de trinta e poucos anos, para outros um viúvo idoso e já com alguns filhos. Não importa. Ele a recebeu e respeitou seu voto de castidade. Viveram o amor, na plenitude divina.
Fecundada pelo Altíssimo, Maria deu à luz ao menino Jesus. Tornou-se, inequivocamente, a Mãe de Deus. Em grego, Theotókos. Assim Maria foi reconhecida e proclamada pelo Concílio de Éfeso, pelo papa Celestino I, no ano 431. Contudo, para ser a Mãe de Deus, Maria não podia ser, como muitos a veem, uma mulher passiva, vivendo praticamente num mundo superior e fora da realidade dos homens.
Pelas imagens que frequentemente a representam, ela aparece como uma mulher passiva e cabisbaixa, outras vezes de olhar voltado para o alto, como se alheia a tudo que ocorria à sua volta. Nada que demonstre sua verdadeira personalidade, como ela realmente era, conforme podemos deduzir pela sua presença na vida de Jesus, narrada pelos Evangelhos.
Maria, em sua tenra juventude assumiu corajosamente uma gravidez sem estar formalmente casada. Mas, não sem antes questionar o anjo mensageiro que lhe trazia a notícia de sua maternidade. Aceitou-a, não passivamente, porém decidida a fazer a vontade de Deus. Depois, enfrentou os preconceitos da época e até mesmo a possibilidade de uma rejeição de seu marido, José. Se fosse por ele repudiada, poderia até ser morta por apedrejamento. Nem isso a amedrontou. O seu SIM era consciente, consequente e definitivo.
Sabendo quem era o filho que crescia em seu ventre, não se deixou levar pela vaidade de ter sido a escolhida de Deus, mas colocou-se em total disponibilidade e serviço. Assim foi quando dirigiu-se à casa de sua prima Isabel, esposa de Zacarias, ajudando-a nos últimos meses de sua gravidez de João Batista (Lc 1,39-56).
Depois, na apresentação do seu pequeno menino no Templo, ouviu de Simeão a mais dura profecia: “Uma espada te atravessará a alma!” (Lc 2,35) E Maria não se curvou. Ela era a Serva do Senhor e em suas mãos colocava toda a sua confiança.
Na jornada a Jerusalém, descoberta a falta de Jesus, foi ela quem retornou com José à cidade santa, e encontrando-o no Templo sem que tivesse falado com seus pais, não se omitiu em sua condição de mãe e educadora, repreendendo-o pelo seu comportamento.
Nas Bodas de Caná, quando tudo estava para se transformar num grande fracasso, foi Maria que chamou o seu filho e, atenta ao drama dos noivos, intercedeu por eles sem que ninguém desse conta de que o vinho estava terminando: “Filho, eles já não têm vinho” (Jo 2,3). E deixou uma inolvidável lição para todas as gerações: “Fazei tudo o que ele vos disser!” (Jo 2,5)
Na dolorosa jornada para o Calvário e aos pés da cruz, Maria jamais abandonou seu filho. As dores de Jesus eram as suas dores, as lágrimas de Jesus eram as suas lágrimas. Enquanto os discípulos se escondiam, Maria, silenciosamente ficava ao lado de seu filho e acompanhava seus terríveis sofrimentos. Por isso nos foi dada como mãe de todos os homens, ouvindo de Jesus, agonizando na cruz, sua entrega na pessoa de João: “Filho, eis aí a sua mãe!” (Jo 19,27)
Descobrimos então quem foi Maria, quem é Maria: a mulher forte, a mãe solidária, aquela que estava e ainda está atenta a todas as nossas aflições, as aflições de seus filhos. Nós, homens e mulheres de todos os tempos que, repetindo Caná, estamos ficando sem o vinho da fé, sem o vinho da ternura, sem o vinho da esperança, sem o vinho da paz. Contudo, temos uma mãe que vela por nós. Mãe que não se rende às investidas da ganância, das ambições, das vaidades e das infidelidades. Mãe que está sempre de braços abertos para acolher seus filhos, como acolheu Jesus e o reclinou na manjedoura, como abraçou seu filho morto, descido da cruz. Esta é a verdadeira Maria: não uma deusa, como alguns pensam que a veneramos, porém a Mãe de Jesus, a Mãe de Deus, a nossa mãe! Que, católicos, não adoramos, mas amamos profundamente, e ouvimos atentamente, como filhos, por ela sempre amados.
Quem sabe neste Natal possamos conhecê-la e ouvi-la melhor?
*Evaldo D'Assumpção é médico e escritor
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