Vanderlei de Lima | Jan 08, 2018
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Uma séria revisão de vida com sua escala de valores é fundamental
Já estamos, prezado(a) leitor(a), com a graça de Deus, vivendo o primeiro mês de um novo ano. Esta vivência é importante, pois nos dá a rica oportunidade de sermos, no presente (2018), um elo vivo entre o passado (2017) e o futuro (2019).
Ora, tudo isso nos leva a importantes reflexões. Elas começam pelo próprio nome do mês em que estamos, janeiro. Ele vem do Latim Ianuarius que se prende ao termo Ianua, porta. É, portanto o mês da entrada, do início, do recomeço.
Por que é assim? – poderá perguntar alguém mais atento. Porque, respondemos, Ianua (porta) vem de Ianus, o deus de todo começo da mitologia latina sempre apresentado nas moedas romanas com duas faces: uma olha para trás, contemplando o passado, e a outra para frente, tentando projetar o futuro.
Pois bem, tudo isso quer dizer o seguinte: já os antigos romanos tinham consciência de que, em determinados períodos da vida, é preciso parar e fazer um balanço de nossa caminhada. Balanço que, naturalmente, significa avaliação, ou seja, ver o que foi bom para continuar a melhorar ainda mais e observar, atentamente, o que foi ruim a fim de não repeti-lo nesta nova etapa da caminhada.
Contudo, para fazer uma avaliação equilibrada do passado e um planejamento seguro do futuro é preciso ter presente em nossa mente a meta (termo grego que lembra algo além) ou o objetivo a ser, sadiamente, perseguido, pois sem rumo seguro somos como navios desorientados sujeitos a naufragar no mar tempestuoso da existência terrena.
É certo que ao falarmos de avaliação ou de balanço da vida não são poucos os que pensam nas possibilidades de conseguirem mais bens materiais (carro, casa, dinheiro etc.) no ano novo. São bens legítimos, sem dúvida, por isso pedimos, na oração do Pai-Nosso, que o Senhor nos dê o “pão nosso de cada dia” (cf. Mt 6,11), pão que significa não só o alimento do corpo, mas também tantos outros meios materiais necessários para vivermos dignamente. Todavia, só isso não basta.
É preciso desejar, de um modo especial, bens que não passam tais como a fé, a honra, a dignidade etc., pois, como ensina Blaise Pascal, filósofo francês do século XVII, o ser humano foi feito para superar infinitamente a si mesmo. Ora, é certo que só conseguiremos esse objetivo se nos desprendermos das amarras materiais que nos escravizam.
Sim, o apego a qualquer coisa é uma escravidão. Não importa se essa coisa é um patrimônio de bilhões de dólares ou se é um pequeno livro de estimação. Se deixarmos que esse trampolim passageiro seja “nosso senhor”, seremos “seus escravos” e continuaremos, sempre, na mesquinharia do presente com o grande risco de perder a herança futura reservada por Deus a cada um de nós (cf. 1 Tm 2,4).
Disso tudo decorre que uma séria revisão de vida com sua escala de valores é fundamental, uma vez que o Senhor Jesus bem nos alerta: “Onde está o teu tesouro aí estará também teu coração” (Mt 6,21). Como remédio salutar para a mesquinharia e a pequenez de alma temos o generoso desprendimento recomendado pelo Apóstolo São Paulo ao escrever: “Sabei que quem semeia pouco, também colherá pouco, e quem semeia com largueza também com largueza colherá; Deus ama quem oferta com alegria” (2Cor 9,6-7).
Certamente, se eu e você, prezado(a) leitor(a), agirmos assim teremos um ganho não só quantitativo (2016, 2017, 2018…), mas também, e sobretudo, qualitativo, pois o passar cronológico dos anos deve nos estimular ao progresso espiritual a fim de que deixemos de ser crianças e nos tornemos adultos em Cristo (cf. Ef 5,13).
Esse amadurecimento não deixa de nos instigar a sermos grandes promotores da paz, cujo dia mundial, celebramos no início do ano novo.
Tal data quer significar que só com o crescimento interior é possível ter a verdadeira paz definida como a tranquilidade da ordem: primeiro, interior e, depois, exterior, ou seja, o mundo não mudará sem a conversão do nosso coração.
Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo.
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