domingo, 4 de março de 2018

O culto ao dinheiro

domtotal.com
Reflexão sobre o Evangelho do 3º Domingo da Quaresma - Jo 2,13-25
Não pode haver uma relação filial com Deus Pai quando as nossas relações com os outros estão mediatizadas só pelo interesse do dinheiro.
Não pode haver uma relação filial com Deus Pai quando as nossas relações com os outros estão mediatizadas só pelo interesse do dinheiro. (Jeremy Paige/ Unsplash)
Por José Antonio Pagola*

Há algo alarmante na nossa sociedade que nunca denunciaremos o bastante. Vivemos numa civilização que tem como eixo de pensamento e critério de atuação a secreta convicção de que o importante e decisivo não é o que um é, mas o que um tem. Diz-se que o dinheiro é «o símbolo e ídolo da nossa civilização» (Miguel Delibes). E de fato são maioria os que lhe rendem seu ser e lhe sacrificam toda a sua vida.

John K. Galbraith, o grande teórico do capitalismo moderno, descreve assim o poder do dinheiro na sua obra The Affluent Society: o dinheiro «traz consigo três vantagens fundamentais: primeiro, o gozo do poder que presta ao homem; segundo, a posse real de todas as coisas que se podem comprar com dinheiro; terceiro, o prestígio ou respeito de que goza o rico graças à sua riqueza».

Quantas pessoas, sem atrever-se a confessá-lo, sabem que na sua vida, num grau ou outro, o decisivo, o importante e definitivo, é ganhar dinheiro, adquirir um bem-estar material, conseguir um prestígio econômico.

Aqui está sem dúvida uma das quebras mais graves da nossa civilização. O homem ocidental se fez em boa parte materialista e, apesar das suas grandes proclamações sobre a liberdade, a justiça ou a solidariedade, apenas acredita em outra coisa que não seja no dinheiro.

E, no entanto, há pouca gente feliz. Com dinheiro pode-se montar uma casa agradável, mas não criar um lar cálido. Com dinheiro pode-se comprar uma cama cômoda, mas não um sono tranquilo. Com dinheiro pode-se adquirir novas relações, mas não despertar uma verdadeira amizade. Com dinheiro pode-se comprar prazer, mas não felicidade. Mas o crente deve recordar algo mais. O dinheiro abre todas as portas, mas nunca abre a porta do nosso coração a Deus.

Não estamos acostumados, os cristãos, à imagem violenta de um Messias fustigando as pessoas. E, no entanto, essa é a reação de Jesus ao encontrar-se com homens que, inclusive no templo, não sabem procurar outra coisa que não seja o seu próprio negócio.

O templo deixa de ser lugar de encontro com o Pai quando a nossa vida é um mercado onde só se presta culto ao dinheiro. E não pode haver uma relação filial com Deus Pai quando as nossas relações com os outros estão mediatizadas só pelo interesse do dinheiro. Impossível entender algo do amor, da ternura e do acolhimento de Deus quando um só vive procurando o bem-estar. Não se pode servir a Deus e ao Dinheiro.


IHU

*José Antonio Pagola é padre e teólogo espanhol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário