Agências de Notícias | Fev 28, 2018

AP Foto I Joel Auerbach
Chorosos, desafiadores e rodeados de mensagens de apoio, flores e uma forte presença policial, os estudantes voltaram nesta quarta-feira (28) em sua escola em Parkland, na Flórida, onde um ex-aluno matou 17 pessoas há duas semanas.
Ao sair da escola Marjory Stoneman Douglas (MSD) nesta cidade ao norte de Miami, alguns estudantes se mostravam sombrios e falavam em tom grave e monótono, olhando para o chão.
Uma delas foi Kimberly Miller, de 14 anos, cujo professor de Geografia, Scott Beigel, foi um dos 17 mortos em 14 de fevereiro pelas mãos do ex-aluno Nikolas Cruz, de 19 anos.
“É muito trieste porque meu professor de Geografia não estava ali e tivemos que ir para outra sala e falar com as pessoas”, contou à AFP. Mas “havia muitos terapeutas e se você ficasse triste podia sair da aula e conversar com alguém para passar a dor”.
Cerca de 95% dos 3.300 alunos da MSD foram à escola nesta quarta-feira, disse em coletiva de imprensa o superintendente de escolas do condado de Broward, Robert Runcie.
“Demos um passo importante no processo de recuperação”, assinalou. Os estudantes “continuam sendo jovens inspiradores e seguem nos mostrando sua força”.
No início da manhã, dezenas de policiais e equipes da SWAT se alinharam nas calçadas para saudar os alunos, um a um, com um “bom dia”. Na saída, um grupo de policiais entregava flores e duas mulheres distribuíam biscoitos.
William, de 17 anos, não quis dar seu sobrenome. Dois de seus colegas de classe, Nicholas Dworet e Meadow Pollack, faleceram no massacre.
“Foi muito triste voltar e não ver meus amigos. (…) É tudo um pouco esmagador”, declarou.
Os professores não deram aulas convencionais, mas se dedicaram a debater o ocorrido. Cerca de 150 terapeutas estavam disponíveis se os estudantes se sentissem mal.
“O que será se isso acontecer de novo?”, se questionou Alan, de 15 anos, e que tampouco quis dar seu sobrenome.
Para animá-los, centenas de vizinhos e ex-alunos os receberam pela manhã com cartazes escritos “Nós amamos vocês” e “Estamos com vocês”.
“Pode ser muito difícil para eles voltarem às aulas”, afirmou a psiquiatra Nicole Mavrides, da Universidade de Miami e integrante da equipe de Ciência do Comportamento que enviou terapeutas de dor para Parkland.
“Mas é preciso que saibam que ninguém está esperando que seja fácil, é preciso dizer a eles que está tudo bem ter medo, e que tudo bem que sintam raiva”, afirmou Mavrides à AFP.
– #NeverAgain
O massacre gerou um novo clamor pelo controle das armas no país. A cada ano, ocorrem cerca de 33 mil mortes.
Usando o hastag #NeverAgain, os sobreviventes pressionam os políticos de Washington e da Flórida para que restrinjam o acesso às armas e proíbam a venda de fuzis semiautomáticos como o AR-15 usado por Cruz.
Durante anos, o Congresso americano esteve paralisado neste tema, ainda que as pesquisas mostrem que a maioria da dos americanos apoia um controle mais estrito.
Mas a poderosa Associação Nacional do Rifle (NRA) exerce pressão em Washington e financia políticos para garantir a livre venda e o porte de armas, assegurados na Constituição, não sejam ameaçados.
O presidente Donald Trump realizou uma reunião com políticos republicanos e democratas na Casa Branca, na qual destacou que “é preciso fazer algo a respeito”.
Trump reafirmou seu apoio a um reforço nos controles de antecedentes de compradores de armas, ao aumento da segurança nas escolas e à elevação, para 21 anos, da idade para a aquisição de certas armas.
Em determinado momento, se dirigiu a um senador republicano e disse: “você tem medo da NRA”.
Os legisladores republicanos – maioria nos Congressos de Washington e Flórida – são contrários a implementar reformas importantes na venda de armas.
No entanto, alguns comerciantes também pressionam. Nesta quarta-feira, a loja de armas Dick’s Sporting Goods anunciou que estava pondo fim imediato à venda de fuzis semiautomáticos e que não venderá mais armas para menores de 21 anos.
Já a rede de lojas de departamento Walmart anunciou a elevação da idade para a compra de armas em suas unidades para 21 anos.
Desde 2015, a Walmart já não vende fuzis de assalto semiautomáticos ou armas curtas, exceto no Alasca. Seu objetivo sempre foi atender “os esportistas e caçadores”.
– Um mundo malvado –
Trump propôs armar e treinar alguns professores para que, supostamente, possam defender os alunos em caso de ataque.
Andrew Pollack, pai de Meadow – que morreu aos 18 anos -, foi à escola em Parkland para advogar por esta causa.
“Vou fazer com que aprovem esta lei (…) Serei o rosto do último pai de um jovem assassinado”, disse a um grupo de jornalistas.
Esta semana o Congresso da Flórida discute várias medidas destinadas a limitar parcialmente o acesso às armas, embora nem estas nem um plano do governador Rick Scott contemplem proibir os fuzis semiautomáticos.
Na terça-feira, um comitê da Câmara baixa da Flórida aprovou uma proposta de armas e treinar alguns professores. Esta será incluída como parte do pacote de medidas que será discutido em plenário nesta semana.
“Se você não quer enviar seu filho a uma escola onde há alguém armado, procure uma escola livre de armas”, declarou Pollack. “Tenho um filho vivo e vou levá-lo a uma escola onde haja armas, para que fique protegido, porque vivemos em um mundo malvado”.
(AFP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário