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Jornalista italiano que não toma notas ou registra suas conversas com o papa recria na memória seus diálogos, incluindo o material que coloca entre aspas. Segundo ele, Francisco teria lhe teria dado outra teoria sobre o destino das almas em pecado.
Em 2014 o papa já teria sido vítima de uma 'fake news' similar. (CNS/ Paul Haring)
Por Junno Arocho Esteves*
O Vaticano disse que os comentários atribuídos ao Papa Francisco, negando a existência do inferno, são produto da "reconstrução" não fiável de um jornalista italiano às observações do Papa e não uma transcrição fiel das palavras reais de Francisco.
Eugenio Scalfari, co-fundador e ex-editor do La Repubblica, um jornal italiano, disse que o Papa Francisco - com quem teve várias conversas telefônicas e encontros face a face - o convidou para sua residência em 27 de março.
Durante a conversa, Scalfari, de 93 anos de idade e ateu declarado, afirma que o Papa disse que, enquanto as almas dos pecadores arrependidos "recebem o perdão de Deus e vão para o grupo das almas que o contemplam, as almas daqueles que não se arrependem, e assim não podem ser perdoadas, desaparecem".
"O inferno não existe, o desaparecimento das almas pecaminosas sim", disse Scalfari, segundo seu apontamento das palavras do Papa Francisco na entrevista publicada em 29 de março.
O jornalista italiano explicou em mais de uma ocasião que não toma notas ou registra suas conversas com o Papa. Ele as recria depois na memória, incluindo o material que ele coloca entre aspas.
O Vaticano divulgou uma declaração logo após a publicação do artigo, dizendo que o Papa recebeu Scalfari "em uma reunião privada" para trocar saudações de Páscoa, mas não "deu a ele uma entrevista".
Sobre as supostas palavras do Papa, que também foram publicadas em um artigo similar escrito pelo jornalista em 2014, o Vaticano disse que o artigo de Scalfari "é um produto de sua própria reconstrução, no qual as palavras pronunciadas pelo Papa não são citadas".
"Nenhuma citação do artigo mencionado deve, portanto, ser considerada como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre", disse o Vaticano.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, "imediatamente após a morte, as almas daqueles que morrem em estado de pecado mortal descem ao inferno, onde sofrem as punições do inferno e o fogo eterno".
"A principal punição do inferno é a eterna separação de Deus, em quem o homem pode possuir a vida e a felicidade para as quais foi criado e pelas quais anseia", diz o catecismo.
As alegadas citações atribuídas ao Papa Francisco contradizem diretamente as muitas observações públicas que ele fez em homilias e discursos confirmando a existência do inferno.
Encontrando um grupo de crianças e adolescentes durante uma visita à paróquia de Roma em 8 de março de 2015, uma escoteira perguntou ao Papa: "Se Deus perdoa a todos, por que o inferno existe?"
O Papa elogiou a pergunta, dizendo que era "muito importante", bem como "uma pergunta boa e difícil".
Francisco garantiu às crianças que Deus é bom, mas lembrou-lhes que também havia um "anjo muito orgulhoso, muito soberbo, muito inteligente e invejoso de Deus. Você entende? Ele tinha inveja de Deus. Ele queria o lugar de Deus. E Deus queria perdoá-lo, mas ele disse: "Eu não preciso do seu perdão. Eu sou bom o suficiente!"
"Isso é o inferno: é dizer a Deus: 'Você cuida de si mesmo que eu cuido de mim mesmo'. Eles não te mandam para o inferno, você vai lá porque você escolhe estar lá. O inferno está em querer ficar distante de Deus porque a pessoa não quer nem aceita o amor de Deus. Isso é o inferno. Você entende?"
Em outras ocasiões, o Papa descreveu o inferno como o destino daqueles que escolhem continuar pecando e fazendo o mal.
Falando às famílias das vítimas da Máfia, em 21 de março de 2014, o Papa fez um apelo a todos os homens e mulheres da Máfia para que parassem, transformassem suas vidas e se convertessem.
"Convertam-se, ainda há tempo para não acabar no inferno. É o que espera vocês se vocês mesmos continuarem neste caminho", disse o Papa.
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