quinta-feira, 7 de junho de 2018

Mística e revolução: dois caminhos que não se contrapõem

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A autêntica experiência mística mostra os seus verdadeiros frutos quando ela reflete em crescimento espiritual também para aqueles que estão à nossa volta.
Em Jesus, o caminho místico e o caminho revolucionário não se contrapõem. Ao contrário. São dois lados da mesma experiência humana e transcendental.
Em Jesus, o caminho místico e o caminho revolucionário não se contrapõem. Ao contrário. São dois lados da mesma experiência humana e transcendental. (Reprodução/ Pixabay)
Por Carlos Cesar Barbosa*

E se o cristão de hoje trilhasse o caminho místico e o caminho revolucionário como opções sérias de transformação de si e do meio em que vive? Karl Rahner, um dos grande teólogos católicos do século XX, certa vez afirmou que “o cristão do século XXI ou será místico ou não será cristão, desde que não se entendam por mística fenômenos parapsicológicos raros, mas uma experiência de Deus autêntica, que brota do interior da existência”.  Sobre o convite a ser revolucionário, um outro jesuíta, o papa Francisco, pediu aos jovens em sua despedida do Brasil, na Jornada Mundial da Juventude em 2013, que fossem revolucionários, que fossem contra a corrente e que se rebelassem contra a cultura do provisório. O papa concluiu dizendo ainda para que tivessem a coragem de ser felizes.

Trilhar o caminho místico como alternativa para a transformação de si e da sociedade é entender que tal caminho é o caminho interior cujo destino não é um perder-se em si mesmo, nem simplesmente abraçar uma divindade. Ter a mística como caminho é sim, tocar o Transcendente, mas é também ir além das preocupações e interesses do meu próprio eu. A autêntica experiência mística mostra os seus verdadeiros frutos quando ela reflete em crescimento espiritual também para aqueles que estão à nossa volta. Ser místicos, nos dias de hoje, é fazer da compaixão, solidariedade e justiça, possibilidades humanas. É fazer da nossa oração não um ornamento piedoso que me isola, meramente intimista, mas sendo fôlego de nossa existência humana, lança-nos ao encontro, àquilo que é novo e ao serviço ao outro.

Trilhar o caminho revolucionário é transcender a nossa condição humana. Tal caminho é também caminho de conversão para este nosso tempo. Portanto, ser revolucionário hoje é conscientizar-se de que não basta mais escolher entre o nosso mundo atual e outro mundo melhor.  O revolucionário se coloca diante da escolha entre mundo nenhum e mundo novo, pois sabe que nem sempre basta podar árvores e cortar galhos, mas é preciso arrancar as raízes, para fazer brotar o novo. Ser revolucionário hoje, na Igreja, na sociedade, na política, nas relações é fazer com que a vida seja governada pela solidariedade, pelo amor e por novos caminhos de comunicação e diálogo. 

Em Jesus, o caminho místico e o caminho revolucionário não se contrapõem. Ao contrário. São dois lados da mesma experiência humana e transcendental. Como revolucionários somos desafiados a sermos místicos de coração, assim como todo místico de coração é chamado a ser revolucionário e a tirar o véu da ilusão da sociedade. Mística e revolução são duas faces da mesma tentativa de promover uma mudança radical, seja em nós mesmos seja na sociedade ou grupo em que estamos inseridos.

Jesus é a expressão plena de que a revolução não se separa na busca humana pela transcendência. Sua vida e missão nos mostram claramente que transformar o coração humano e transformar a sociedade humana não são tarefas isoladas, mas são tão interligadas e carregadas de sentido quanto os dois eixos da sua cruz.

Podemos aprender com Jesus a sermos revolucionários sem sermos extremistas. Jesus não ofereceu nenhuma ideologia. Ofereceu sua própria vida. Como místico, Jesus tinha a sua íntima relação com o Pai não como fuga dos males e medos, mas como sinônimo de entrega, de serviço e doação. Pelos caminhos da mística e da revolução, uma vez aprendidos de Jesus, seremos capazes também de trilhar o caminho para a liberdade e para a libertação.

O mundo novo com que sonhamos está à espera de místicos e revolucionários.

*Carlos César Barbosa é graduado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Estudou na Universidad de La República (Uruguai). Atualmente estuda na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. (FAJE); Jesuíta. E-mail: carloscesarsj@outlook.com

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