segunda-feira, 18 de junho de 2018

Recobrar a alegria e a esperança

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Que a capacidade de fazer festa não nos seja roubada, pois é festejando que ressignificamos a vida, que exorcizamos os maus espíritos.
Que festejar seja uma oportunidade feliz de nos unirmos como Nação.
Que festejar seja uma oportunidade feliz de nos unirmos como Nação. (Lucas Figueiredo/ CBF)
Por Felipe Magalhães Francisco*

O ano de 1968 ficou conhecido como o ano que não acabou, por seus muitos acontecimentos, ao redor de todo o mundo, que revelavam a efervescência sociocultural da década de 1960. Cinquenta anos depois, talvez estejamos vivendo um ano, este de 2018, como um ano que não deveria ter existido. Quiçá será assim que irá ser lembrado, futuramente. Em 2013 acompanhamos uma onda de manifestações contra tudo e contra todos, que resultou num levante conservador do qual sofremos consequências ainda. Nas eleições de 2014 vivemos um acirramento político que provocou bastante estresse em nossas relações e nos rumos do país. Em 2015, o governo eleito nas eleições do ano anterior sofreu forte reação, vinda por todos os lados, o que nos levou ao golpe jurídico-parlamentar de 2016, que está em pleno vigor.

Já escrevi, em algumas situações, neste espaço, a respeito do desânimo geral que sentimos nas ruas. Perdoem-me os leitores e leitoras a insistência no tema. Disse Jesus que a boca fala daquilo que o coração está cheio. Parafraseando-o, tenho que escrever aquilo que inquieta o coração. Estamos em plena Copa do Mundo, evento que geralmente nos mobiliza numa energia sem igual. Em 2014, quando o mau agouro desejava o fracasso da Copa no Brasil, tudo foi um sucesso. Com exceção, é claro, dos simbólicos 7x1: tudo prenúncio do que nos aguardava nos anos seguintes. Enquanto escrevo este texto, a Seleção Brasileira ainda não estreou. Confesso minha ansiedade sociológica em como tudo se dará no domingo1: não nos campos, em primeiro lugar, mas acompanhando pelas redes sociais a empolgação dos brasileiros.

Apesar das inúmeras piadas e do sem número de memes que surgiram, o choro do jogador David Luiz, após a fatídica derrota para a Seleção da Alemanha, na Copa passada, demonstrou real sentimento de tristeza. Foi um choro sincero e, também sinceras, soaram-nos suas palavras: “Eu só queria poder dar alegria para o meu povo; a minha gente que sofre tanto...”. Torço para que recobremos, tão logo, a esperança e a alegria. Que a capacidade de fazer festa não nos seja roubada, pois é festejando que ressignificamos a vida, que exorcizamos os maus espíritos, que lançamos um grito de nossa resiliência.

Que na capacidade da festa, que compreende não apenas a sua realização, propriamente dita, mas um antes – de preparo – e um depois – de arrumação – consigamos discernir nossa história, traçar novos rumos para o nosso país. Que festejar seja uma oportunidade feliz de nos unirmos como Nação, celebrando a alegria e o orgulho de fazermos parte dessa história, ainda que tão marcada de injustiças e desigualdades. Que não percamos nunca a capacidade de sonhar um sonho possível, que nos encha de entusiasmo para que construamos o Brasil que queremos e que seja para a plena realização de todos e todas.

Alegria e esperança são duas forças sem as quais a vida se descolore. Enchamos de cor nosso Brasil, a começar por nosso próprio rosto!

Nota:
1- O texto foi enviado anteriormente a estreia do Brasil

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras. E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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