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'Nós também caminhamos lado a lado; tivemos um 'sínodo', disse ele, antes de oferecer um roteiro para suas vidas futuras'.
O papa concluiu sua homilia lembrando que a jornada da fé se expressa nesses três passos fundamentais no Evangelho de hoje e termina quando Jesus diz: 'Vá; sua fé te curou'. (AFP)
Por Gerard O'Connell
Há “três passos fundamentais no caminho da fé: escutar, ser próximos e dar testemunho”, disse o Papa Francisco em sua homilia na missa de encerramento do Sínodo sobre os jovens na Basílica de São Pedro, em 28 de outubro.
Ele proferiu sua desafiadora homilia sobre “o caminho da fé”, quando concelebrou a missa com os 260 padres sinodais de mais de 130 países. Também participaram da Missa os 36 jovens de todos os continentes que haviam participado ativamente deste evento histórico, e que entraram em processão na basílica em frente aos padres, bispos, cardeais e papas. Durante a missa, os jovens leram as duas primeiras leituras bíblicas em inglês e italiano e depois leram orações em hindi, espanhol, polonês, português e chinês.
Comentando a história do Evangelho de São Marcos sobre o cego, o mendigo Bartimeu, que chamou a Jesus enquanto caminhava na estrada de Jericó para Jerusalém, o Papa lembrou que depois que Jesus parou, ouviu o que ele tinha para dizer. Bartimeu fez seu pedido e Jesus devolveu-lhe a visão, o homem tornou-se discípulo e caminhou com ele e os outros discípulos para a cidade santa.
“Nós também caminhamos lado a lado; tivemos um ‘sínodo’, disse ele, antes de oferecer um roteiro para suas vidas futuras”.
Apontando como Jesus demorou para se deter e ouvir o cego, Francisco disse que “o primeiro passo para ajudar no caminho da fé é ouvir”. Somos todos convocados a “o apostolado do ouvido: ouvir antes de falar”.
Ele lembrou que muitos daqueles com Jesus “ordenaram que Bartimeu ficasse quieto”, eles consideraram essa “pessoa necessitada” como um mero “incômodo, inesperado e não planejado”. Eles preferiam seu próprio horário acima do tempo do Mestre, os seus, os discípulos, conversando e se ouvindo entre eles. Eles estavam seguindo a Jesus, mas tinham seus próprios planos em mente”.
Francisco destacou o papel dos seguidores de Jesus: “este é um risco constante do qual devemos nos proteger” e lembrou-lhes que “para Jesus, o clamor daqueles que pedem ajuda não é um incômodo, mas um desafio”. Ele apontou, também, que Deus sempre nos escuta: “Deus nunca se cansa; ele fica sempre feliz quando o procuramos”.
Então, olhando para os jovens sentados à sua frente, Francisco perguntou-lhes: “em nome de todos nós, adultos: perdoa-nos se muitas vezes não os escutamos, se, em vez de abrir nossos corações, enchemos os vossos ouvidos”.
Ele lhes assegurou: “como a igreja de Cristo, queremos ouvi-lo com amor, certos de duas coisas: que suas vidas são preciosas aos olhos de Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens, e que suas vidas são preciosas aos nossos olhos também, e de fato necessárias para seguir em frente”.
Francisco então explicou que “um segundo passo no caminho da fé é ser o próximo dos outros”. Ele lembrou como na história do Evangelho Jesus “vai pessoalmente” encontrar o mendigo cego, “ele não delega outra pessoa” para que faça isso. “É assim que Deus opera. Ele se envolve pessoalmente com o amor preferencial por cada pessoa. Através de suas ações, ele já comunica sua mensagem”, disse Francisco.
Francisco então apontou que “quando a fé apenas diz respeito a fórmulas doutrinárias, arrisca-se a falar apenas para a cabeça sem tocar o coração. E quando se preocupa apenas com a atividade, corre o risco de se transformar em mero trabalho social e moralizador”.
O Papa jesuíta explicou que “a fé é a vida: é viver no amor de Deus que mudou nossas vidas”. Somos chamados a realizar a obra de Deus à maneira de Deus: em proximidade, apegando-nos a ele, em comunhão uns com os outros, ao lado de nossos irmãos e irmãs ”. Ele enfatizou que a “proximidade” é “o segredo para comunicar fé ao coração do mundo”.
Além disso, ele disse, "ser um próximo significa trazer a novidade de Deus para a vida de nossos irmãos e irmãs" e "serve como um antídoto para a tentação de respostas fáceis e soluções rápidas". Sermos próximos significa rejeitarmos "a tentação de lavar nossas mãos”, disse ele; significa “imitar Jesus e, como ele, sujar nossas mãos”. Francisco lembrou-lhes: “Jesus se tornou meu próximo: tudo começa aí. E quando, por amor a ele, nós também nos tornamos vizinhos, nos fazemos portadores de uma nova vida e testemunhas do amor que salva verdadeiramente”.
O Papa Francisco falou em seguida sobre o terceiro passo no caminho da fé: “dar testemunho”. Relembrando a história do Evangelho, ele relembrou como Jesus enviou seus discípulos aos cegos e mendigos, “não com uma moeda para calar a boca deles ou para dar conselhos”, mas apenas para dizer-lhe: “Tome coragem; Levante-se, ele está chamando você”. Jesus “cura em espírito e corpo”, disse o Papa, “somente Jesus chama, transformando a vida daqueles que O seguem, ajudando a levantar os caídos e trazendo a luz de Deus para as trevas da vida”.
O Papa Francisco lembrou aos bispos e jovens que no mundo de hoje “existem tantas crianças, tantos jovens, como Bartimeu, que estão à procura de luz em suas vidas. Eles estão procurando por amor verdadeiro. E como Bartimeu, que no meio daquela grande multidão clamava somente a Jesus, eles também buscam a vida, mas frequentemente encontram apenas promessas vazias e poucas pessoas que realmente se importam”.
Ele disse a eles, e a toda a comunidade de crentes, que “não é cristão esperar que nossos irmãos e irmãs que buscam tenham que bater em nossas portas; devemos sair para encontrar com eles, levando não a nós mesmos, mas a Jesus. Ele nos envia, como aqueles discípulos, para encorajar os outros e para animá-los em seu nome. Ele nos envia para dizer a cada pessoa: "Deus está pedindo para você se deixar amar por ele".
O Papa Francisco comentou: “quantas vezes, em vez desta mensagem libertadora da salvação, trouxemos nós mesmos, nossas próprias 'receitas' e 'rótulos' para a igreja! Quantas vezes, em vez de falar as próprias palavras do Senhor, nós vendemos nossas próprias ideias como sua palavra!”
Ele acrescentou: “Quantas vezes as pessoas sentem mais o peso de nossas instituições do que a presença amistosa de Jesus! Nesses casos, agimos mais como uma ONG, uma agência controlada pelo Estado, e não como a comunidade dos salvos que habitam na alegria do Senhor”.
Ele concluiu sua homilia lembrando que “a jornada da fé” se expressa nesses três passos fundamentais no Evangelho de hoje e termina de uma maneira bela e surpreendente quando Jesus diz: “Vá; sua fé te curou”.
Francisco chamou a atenção para o fato de que “Bartimeu não tinha feito nenhuma profissão de fé nem qualquer bom trabalho; ele havia apenas implorado por misericórdia”, e disse: “sentir-se necessitado de salvação é o começo da fé. É o caminho direto para encontrar Jesus”.
Ele explicou que “a fé que salvou Bartimeu não teve a ver com ter ideias claras sobre Deus, mas em buscá-lo e desejar encontrá-lo”. Francisco enfatizou que “a fé tem a ver com o encontro, não com a teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro, o coração da igreja bate. Então, não se trata da nossa pregação, mas do nosso testemunho de vida, isso será eficaz”.
Concluiu agradecendo a todos aqueles que participaram do sínodo por seu “testemunho” e por terem “trabalhado em comunhão, com franqueza e desejo de servir ao povo de Deus”. Ele orou para que o Senhor “abençoasse nossos passos, para que possamos ouvir os jovens, ser seus próximos e testemunhar diante deles a Jesus, a alegria de nossas vidas”.
No final da missa, o secretário geral do sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, leu “Uma carta dos padres sinodais aos jovens”.
Mais tarde, no angelus, o Papa Francisco, depois de recordar que hoje é o 60º aniversário da eleição do Papa João XXIII, falou novamente sobre o sínodo dos jovens.
Ele o descreveu como “uma boa colheita da uva”, que já está fermentando e “promete bom vinho”, e então enfatizou que “o primeiro fruto” deste sínodo deve ser encontrado, não no documento final, mas “no exemplo de um método" que "tentamos seguir, a partir da fase preparatória". Ele explicou que esse "estilo sinodal" não tem como objetivo primário a elaboração de um documento que, é claro, "é certamente precioso e útil". Ao contrário, ele disse, "mais do que o documento [final]" é importante divulgar "em toda a igreja" um modo de ser e trabalharmos juntos, jovens e velhos, na escuta e no discernimento, para apresentar escolhas pastorais que respondam à realidade”.
O Papa Francisco deixou claro que deseja que o método de escutar, discernir e chegar às conclusões usadas no sínodo sobre os jovens seja ampliado e tornado operativo em toda a Igreja Católica, construindo assim “uma igreja sinodal”.
American Jesuit Review / Tradução Rámon Lara
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