sábado, 3 de novembro de 2018

Resistência e religiões monoteístas: resistir como questão de fé

domtotal.com
A organização comunitária é importante para a resistência: trata-se de defender aquilo que é comum e, mais que isso, aquilo que dá sentido identitário para o grupo.
Há muitas formas de resistir e tais formas revelam a capacidade criativa que o ser humano encontra de apontar para o valor daquilo que acredita.
Há muitas formas de resistir e tais formas revelam a capacidade criativa que o ser humano encontra de apontar para o valor daquilo que acredita. (Helena Lopes/Unsplash)
 Por Felipe Magalhães Francisco*

Resistir é exprimir o direito pela existência. Mas não qualquer existência. É o grito por existir com dignidade, de forma legítima. A resistência se dá, quando a existência está ameaçada, e tal ameaça pode vir de várias frentes, com níveis de violência diferentes: pontuais e físicos, simbólicos, psicológicos, culturais... Não resistir significa ceder ante a força do outro, que é capaz de liquidar com a existência. Há muitas formas de resistir e tais formas revelam a capacidade criativa que o ser humano encontra de apontar para o valor daquilo que acredita e para a sobrevivência do seu próprio existir, pessoal e comunitário.

Uma das questões importantes a respeito da resistência, para a qual fazemos questão de chamar a atenção, é o seu aspecto comunitário. Certamente, a comunitariedade da resistência não é regra: pode-se resistir sozinho, de forma igualmente legítima. Contudo, é impressionante como a organização comunitária é importante para a resistência: trata-se de defender aquilo que é comum e, mais que isso, aquilo que dá sentido identitário para o grupo. É aqui que as religiões têm muito a nos ensinar a respeito da resistência. No caso brasileiro, por exemplo, temos a importância da resistência das religiões afro-brasileiras: minoritárias, elas enfrentam todo tipo de reação e preconceito, e sua forma de resistir se dá na reafirmação de seus valores, sobretudo, pela forma de viver de seus fiéis.

Chamamos a atenção, em nossa matéria especial, para as três religiões monoteístas, de raiz abraâmica: judaísmo, cristianismo e islã. Essas são três religiões sólidas, em suas dimensões teológicas, doutrinárias, simbólicas e políticas. Essa solidez, entretanto, não se deu sem mais. Ela é fruto, inclusive, da dimensão da resistência. O cristianismo, à guisa de exemplo disso, para passar de um movimento marginal à religião que é hoje, precisou de muita resistência frente, sobretudo, ao judaísmo, religião da qual passava por rompimento, e ao poder romano.

Se observamos a história do judaísmo, poderemos perceber o quanto a resistência da fé é elemento fundamental. Ao acompanharmos a história do povo da Bíblia, veremos o quanto as dominações hegemônicas suscitaram formas de resistência que propiciaram um melhor desenvolvimento teológico e, por isso, melhor compreensão da fé. Reflete a este respeito, Teófilo da Silva, no artigo: Jacó-Israel: povo que carrega a resistência no nome, no qual reflete, teologicamente, a partir da própria significação do nome do povo que se compreende a partir de sua relação com Deus.

A resistência não se dá, apenas, frente a uma ameaça externa. Muitas vezes, no seio do próprio grupo, há o risco da perda de valores fundamentais, que trariam uma real descaracterização da identidade comunitária. Abordando essa questão no cristianismo, Flávia Gomes propõe o artigoCristianismo e resistência: só há um evangelho. No texto, Flávia traz como horizonte de sua reflexão, a situação da comunidade da Galácia, na qual Paulo precisa intervir, chamando a atenção para o perigo da desvirtuação do evangelho.

Compreender a resistência, no Islã, pressupõe a compreensão de dois valores fundamentais para essa tradição religiosa: o senso de comunidade e o sentido da justiça. A este respeito, ajuda-nos na reflexão Patrícia Prado, no artigoUma pequena reflexão sobre a resistência na concepção do Islã. A partir dos dois valores fundamentais, a concepção islâmica de resistência se dá no direito à vida, na insistência para que esta seja digna. Isso tem muito a nos ensinar!

Boa leitura!

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