domingo, 10 de março de 2019

Não desviar-nos de Jesus

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Reflexão sobre o Evangelho do I Domingo da Quaresma - Lc 4,1-13
A história das tentações de Jesus não é um episódio isolado, que ocorre num determinado momento e lugar. Elas voltarão à sua vida e dos Seus seguidores.
A história das tentações de Jesus não é um episódio isolado, que ocorre num determinado momento e lugar. Elas voltarão à sua vida e dos Seus seguidores. (Pedro Lastra/ Unsplash)
Por José Antonio Pagola*

As primeiras gerações cristãs interessaram-se muito pelas provações que Jesus teve de superar para permanecer fiel a Deus e viver sempre colaborando no seu projeto de uma vida mais humana e digna para todos. A história das tentações de Jesus não é um episódio isolado, que ocorre num determinado momento e lugar. Lucas adverte-nos que, ao terminar estas tentações, “o diabo partiu até outra oportunidade”. As tentações voltarão à vida de Jesus e dos Seus seguidores.

Portanto, os evangelistas apresentam a história antes de narrar a atividade profética de Jesus. Seus seguidores deverão conhecer bem essas tentações desde o início, porque são as mesmas que terão que superar ao longo dos séculos se não quiserem desviar-se Dele.

Na primeira tentação, fala-se de pão. Jesus resiste a usar Deus para satisfazer sua própria fome: “nem só de pão vive o homem”. A primeira coisa para Jesus é procurar o reino de Deus e sua justiça: que haja pão para todos. É por isso que ele irá um dia, pedir a Deus, mas para alimentar uma multidão faminta.

Também hoje, a nossa tentação é pensar apenas no nosso pão e preocupar-nos exclusivamente com a nossa crise. Desviamo-nos de Jesus quando acreditamos que temos direito de ter tudo, e esquecemos o drama, os medos e os sofrimentos daqueles a quem falta quase tudo.

Na segunda tentação fala-se de poder e glória. Jesus renúncia a tudo isso. Não se prostrará diante do diabo que lhe oferece o império sobre todos os reinos do mundo. Jesus nunca procurará ser servido, mas servir.

Também hoje, desperta em alguns cristãos a tentação de manter, como seja, o poder que teve a Igreja em tempos passados. Nos desviamo de Jesus quando pressionamos as consciências tentando impor à força as nossas crenças. Abrimos o caminho para o reino de Deus quando trabalhamos por um mundo mais compassivo e solidário.

Na terceira tentação, pede-se a Jesus que desça ante o povo, de forma grandiosa, apoiado pelos anjos de Deus. Jesus não se deixará enganar. Mesmo que lhe peçam nunca fará um sinal espetacular do céu. Irá dedicar-se a fazer sinais de bondade para aliviar o sofrimento e as doenças das pessoas.

Desviamos de Jesus quando confundimos a nossa própria ostentação com a glória de Deus. A nossa exibição não revela a grandeza de Deus. Somente uma vida de humilde serviço aos necessitados manifesta e difunde seu amor.


IHU

*José António Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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