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Em nova constituição da cúria romana, Francisco impõe o seu estilo pastoral e cria super órgão que coloca evangelização no centro da ação da cúria romana.

Papa em entrevista no dia 31 de março de 2019. (POOL New / REUTERS).
Seis anos de trabalho e o resultado será um documento que deixará marcas indeléveis e “franciscanas” para a posteridade. Finalmente, será publicada a constituição que promete transformar a Cúria Romana no órgão sonhado por todos aqueles que atuaram no Concílio Vaticano II. Será?
Desde o início, a intenção dos cardeais que integram o conselho criado pelo Papa Francisco - hoje C6 - era de desburocratizar a máquina e “pastoralizá-la”, por assim dizer. Um desejo antigo que, antes da eleição de Francisco, dividiu o colégio de cardeais entre os “pró-cúria” e os “anti-cúria”. O vazamento de informações vaticanas ultrassecretas, ocorrido em 2012, conhecido como Vatileaks, foi o que atenuou, de certa forma, esse clima de hostilidade. Desde então, chegou-se à conclusão de que a reforma da cúria romana não poderia mais ser adiada e deveria estar no topo da lista de prioridades do próximo pontífice. Para se ter uma ideia, a última grande reforma curial acontecera em 1988, através da constituição Pastor Bonus, de João Paulo II. Agora, estamos às portas de presenciar a promulgação de um regimento que reorienta a composição e as competências dos diferentes departamentos e organismos da Santa Sé e, o melhor: redefine o próprio papel da cúria.
Nesta semana, a revista digital Vida Nueva teve acesso ao esboço desse novo organograma da cúria, o qual se chamará Praedicate Evangelium, cujo conteúdo já foi enviado às conferências episcopais de todo o mundo para sugestões e correções. No texto, aparece a criação de um super órgão vaticano missionário e de outro dedicado à caridade, este último, em substituição à atual elemosineria apostólica. Muitos não entenderam o impacto disso, já que, no Brasil, as informações relacionadas ao assunto não receberam muito aprofundamento.
O novo “ministério” de evangelização - que na linguagem pontifícia é chamado de dicastério - será uma fusão entre o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização e a Propaganda Fide. Tal medida transformará o órgão “no primeiro dicastério vaticano”, colocando-se à frente da poderosa Congregação para a Doutrina da fé que, historicamente, assumia esse posto. Outro detalhe importante é que essa decisão acompanha a proposta de redefinição do papel da cúria, cuja missão, outrora interpretada como “a de auxiliar o papa no governo da Igreja”, será ampliada para “estar a serviço do colégio episcopal”.
“A evangelização será o centro de tudo o que acontece na cúria. Por isso esse dicastério será o primeiro”, disse o cardeal Oswald Gracias, um dos membros do C6, em entrevista ao jornal espanhol que divulgou a nova constituição.
Caso alguém questione essa reviravolta promovida por Papa Francisco, é importante salientar que tais mudanças somente confirmam que “o cristianismo é, primeiramente, um encontro, não uma sequência de normas a serem seguidas”, como já dizia Bento XVI. Redefinir o papel uma estrutura já considerada caduca que, por pouco, não pôs a perder o próprio Concílio Vaticano II, é uma resposta do papa aos anseios daqueles que desejam ver a Igreja não somente como uma instituição poderosa que se consolidou ao longo dos séculos, mas como o cenáculo onde Deus, todos os dias, se revela a seus discípulos: e foi ali que tudo começou.
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