sexta-feira, 26 de abril de 2019

Papa decide: evangelização primeiro, não doutrina

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Em nova constituição da cúria romana, Francisco impõe o seu estilo pastoral e cria super órgão que coloca evangelização no centro da ação da cúria romana.
Papa em entrevista no dia 31 de março de 2019.
Papa em entrevista no dia 31 de março de 2019. (POOL New / REUTERS).

Seis anos de trabalho e o resultado será um documento que deixará marcas indeléveis e “franciscanas” para a posteridade. Finalmente, será publicada a constituição que promete transformar a Cúria Romana no órgão sonhado por todos aqueles que atuaram no Concílio Vaticano II. Será?

Desde o início, a intenção dos cardeais que integram o conselho criado pelo Papa Francisco - hoje C6 -  era de desburocratizar a máquina e “pastoralizá-la”, por assim dizer. Um desejo antigo que, antes da eleição de Francisco, dividiu o colégio de cardeais entre os “pró-cúria” e os “anti-cúria”. O vazamento de informações vaticanas ultrassecretas, ocorrido em 2012, conhecido como Vatileaks, foi o que atenuou, de certa forma, esse clima de hostilidade. Desde então, chegou-se à conclusão de que a reforma da cúria romana não poderia mais ser adiada e deveria estar no topo da lista de prioridades do próximo pontífice. Para se ter uma ideia, a última grande reforma curial acontecera em 1988, através da constituição Pastor Bonus, de João Paulo II. Agora, estamos às portas de presenciar a promulgação de um regimento que reorienta a composição e as competências dos diferentes departamentos e organismos da Santa Sé e, o melhor: redefine o próprio papel da cúria.

Nesta semana, a revista digital Vida Nueva teve acesso ao esboço desse novo organograma da cúria, o qual se chamará Praedicate Evangelium, cujo conteúdo já foi enviado às conferências episcopais de todo o mundo para sugestões e correções. No texto, aparece a criação de um super órgão vaticano missionário e de outro dedicado à caridade, este último, em substituição à atual elemosineria apostólica. Muitos não entenderam o impacto disso, já que, no Brasil, as informações relacionadas ao assunto não receberam muito aprofundamento.

O novo “ministério” de evangelização - que na linguagem pontifícia é chamado de dicastério - será uma fusão entre o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização e a Propaganda Fide. Tal medida transformará o órgão “no primeiro dicastério vaticano”, colocando-se à frente da poderosa Congregação para a Doutrina da fé que, historicamente, assumia esse posto. Outro detalhe importante é que essa decisão acompanha a proposta de redefinição do papel da cúria, cuja missão, outrora interpretada como “a de auxiliar o papa no governo da Igreja”, será ampliada para “estar a serviço do colégio episcopal”.

“A evangelização será o centro de tudo o que acontece na cúria. Por isso esse dicastério será o primeiro”, disse o cardeal Oswald Gracias, um dos membros do C6, em entrevista ao jornal espanhol que divulgou a nova constituição.

 Caso alguém questione essa reviravolta promovida por Papa Francisco, é importante salientar que tais mudanças somente confirmam que “o cristianismo é, primeiramente, um encontro, não uma sequência de normas a serem seguidas”, como já dizia Bento XVI. Redefinir o papel uma estrutura já considerada caduca que, por pouco, não pôs a perder o próprio Concílio Vaticano II, é uma resposta do papa aos anseios daqueles que desejam ver a Igreja não somente como uma instituição poderosa que se consolidou ao longo dos séculos, mas como o cenáculo onde Deus, todos os dias, se revela a seus discípulos: e foi ali que tudo começou.

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