sexta-feira, 10 de maio de 2019

Feminicídio: o Cristianismo precisa falar sobre isso!


Compostas majoritariamente por mulheres, as comunidades de fé precisam se compromissar mais com a defesa de suas vidas e a salvaguarda de seus direitos.


Cuidar para a erradicação da violências contra a mulher é também papel das religiões.
Cuidar para a erradicação da violências contra a mulher é também papel das religiões. (Rosie Fraser/ Unsplash)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Muitas mulheres são mortas, por homens, pelo fato de serem mulheres. Mulheres são mortas por serem mulheres. A repetição deixa mais que claro o absurdo! A discussão sobre gênero é fundamental em todos os ambientes. E isso não é ideologia: é necessidade para que mais vidas não sejam ceifadas por más compreensões adoecidas sobre as relações. Em muitos discursos, vemos a insistência no refrão de que somos todos iguais, mas nossa sociedade vive imersa no machismo, na misoginia, no racismo, na intolerância religiosa e na LGBTfobia.
Relações adoecidas começam dentro de casa. Crianças, muitas vezes, são deseducadas convivendo com as relações tóxicas entre seus pais; crescem tratadas em situações desiguais, no que se refere ao tratamento dispensado às meninas e aos meninos... O machismo é estrutural e precisa ser combatido nas bases, e esse combate precisa ser assumido por muitas frentes, inclusive pelas religiões. É mais que urgente o investimento em relações mais saudáveis entre os gêneros, de modo a superarmos toda e qualquer pretensão de apropriação da vida, numa pretensa superioridade masculina. O próprio lar deve ser um lugar seguro para as mulheres, que já vivem sob o medo constante nas ruas.
Se fizermos o teste do pescoço, esticando-o para dentro das diversas igrejas cristãs, perceberemos que o maior número de fiéis é composto por mulheres. Essas igrejas têm o dever ético, nascido da fé e pautado no humanismo, de propor iniciativas de cuidado e proteção desta importante e majoritária parcela do povo de Deus. Nessa esteira, é preciso superar discursos equivocados, pretensamente bíblicos, e investir numa hermenêutica capaz de despertar, nos fiéis, a sensibilidade para relações pautadas na igualdade, na equidade e na justiça. O feminicídio, como apontado nos artigos que compõem este Dom Especial, é o ato último de uma série de violências de todos os tipos. Cuidar para a erradicação dessas violências, anteriores ao ato último e trágico do assassinato de mulheres, é também papel das religiões.
Aprofundamentos
Camila Marçal abre a série de três artigos, levantando questões importantes e urgentes sobre as relações que temos construído em nossa sociedade, no artigo Feminicídio: questões fundamentais. A autora nos ajuda a compreender essa dura realidade do feminicídio e nos interpela com uma série de perguntas, que nos ajudam a refletir sobre as estruturas adoecidas que temos insistido, na prática social, em manter.
A Bela e a Fera na versão cristã é o artigo proposto por Karen Colares, no qual reflete sobre o papel do Cristianismo, majoritário no cenário religioso nacional, em contribuir com relações mais equânimes entre homens e mulheres. Tendo como base o conto da literatura universal, Karen reflete sobre o desvio das relações entre os gêneros, sob o perverso incentivo de igrejas cristãs, numa má compreensão do texto bíblico, bem como propõe, ainda, uma lúcida interpretação bíblica sobre as relações.
Essa realidade da violência contra a mulher pode ser superada. Tânia Mayer, no artigo Feminicídio tem cura, faz uma leitura de nosso cenário e aponta, pastoralmente, caminhos nos quais as comunidades cristãs podem trilhar, para a superação da violência contra as mulheres e o seu consequente extermínio, por parte de homens adoecidos em sua masculinidade.
Boa leitura e inspiração!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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