sábado, 22 de junho de 2019

Chico Buarque a jornal francês: "Tenho muitas reservas ao PT"

Por Redação Tribuna Online

Em conversa com o jornal Le Monde, o músico e escritor Chico Buarque explicou que está em Paris escrevendo, como faz normalmente, falou também sobre sua relação com o Partido dos Trabalhadores e como enxerga a atual crise política no Brasil. Chico afirma que ela vem de longe, mais especificamente, desde o impeachment de Dilma Rousseff.

"Tenho muitas reservas ao PT, o partido teve episódios de corrupção, como os governos precedentes", disse. "Mas depois da derrota da direita nas eleições presidenciais, o PT foi incrivelmente estigmatizado".

O escritor também fala sobre o processo da escrita, na cidade francesa, e como o clima é diferente de quando esteve exilado no país, em 1969. "Simplesmente porque em Paris estou mais tranquilo, tenho mais tempo, por exemplo, para me concentrar em escrever o livro que comecei no início deste ano. Em 1969, havia um regime militar no poder, com perseguição concreta e direta aos artistas", disse.

Chico também falou sobre o atual cenário político, em relação aos artistas no Brasil, afirmando que eles não são mais "bem-vindos" e nem "bem vistos" pelo governo. "Uma cultura de ódio se espalhou de maneira impressionante", afirma. O mais novo ganhador do prêmio Camões, tem críticas ao atual governo e o quanto o cenário é de desprezo à cultura. Mas, ainda assim, afirma que pretende continuar a viver no Brasil: "Não posso viver longe do meu país", apesar do pedido de visto francês.

Sobre os supostos erros cometidos pelo partido, o escritor afirmou que o PT renunciou a muitos de seus ideais, porque o ex-presidente Lula estava cansado de perder eleições.

“Ele decidiu fazer do PT um partido de governo. Por isso fez concessões, acordos com forças que o PT não teria aceito em tempos normais. O PT deixou de ser um partido de esquerda para se tornar uma formação social-democrata.”

Chico também afirma que o governo Bolsonaro pode ser considerado como neofascista, uma vez que compartilha muitas práticas com os regimes de extrema direita. O cantor também cita as inadequações, como, por exemplo, a influência de Olavo de Caralho sobre o atual presidente, ou um "ministro da Educação contra a educação" e um "ministro do Meio Ambiente contra o meio ambiente", além de um chanceler "louco". "Esse homem ai contra a história de excelência da diplomacia brasileira", diz Chico sobre o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Analisando o cenário explicado, Chico Buarque afirma que "Às vezes me difo que é melhor não ter ministro da Culturs neste governo. A cultura já é atacada de toda parte, se tivesse um ministro, a situação seria ainda pior".

Buarque afirma ainda que as mobilizações fora do Brasil, contra o atual presidente são válidas, mesmo sendo difícil medir quão eficazes são essas iniciativas. "O prestígio do Brasil é quase zero no exterior". "Não sei como tudo isso vai acabar. O fracasso desse governo me parece óbvio", finalizou.

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