sexta-feira, 7 de junho de 2019

Consumismo como busca pela felicidade e sua problemática


A prática consumista não responde ao anseio de felicidade humana e ainda impacta negativamente na vida da Terra.


A felicidade e a qualidade de vida têm sido cada vez mais associadas e reduzidas às conquistas materiais.
A felicidade e a qualidade de vida têm sido cada vez mais associadas e reduzidas às conquistas materiais. (freestocks.org/ Unsplash)
Por Robert Henrique Sousa Dantas*
Vivemos numa sociedade em que somos cada vez mais estimulados ao consumo e, por conseguinte, a uma exagerada produção de lixo.
Com a expansão da sociedade de consumo, amplamente influenciada pelo estilo de vida norte-americano e pelas mídias, o consumo se transformou em uma compulsão e um vício, estimulados pelas forças do mercado, da moda e da propaganda. Assim, a sociedade de consumo produz carências e desejos incessantes. Os indivíduos passam a ser reconhecidos, avaliados e julgados por aquilo que consomem, que vestem ou calçam, pelo carro e pelo telefone celular que exibem em público.
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As pessoas estão a todo instante em busca de suprir um vazio existencial ou até mesmo de uma suposta “felicidade”. Então, a mídia e o marketing têm grande influência sobre elas e não lhes permitem refletir ou se perguntar o porquê de comprar tal produto.
Percebe-se que a felicidade e a qualidade de vida têm sido cada vez mais associadas e reduzidas às conquistas materiais. Isto acaba levando a um ciclo vicioso, em que o indivíduo trabalha para manter e ostentar um nível de consumo, reduzindo o tempo dedicado ao lazer, a outras atividades e a relações sociais. Até mesmo o tempo livre e a felicidade se tornam mercadorias que alimentam tal ciclo.
Não se tem como falar em consumo e produção de lixo sem falar em relações humanas, já que este implica vários fatores sociais como exploração da natureza, do trabalho humano e violações de direitos para que um determinado produto chegue até nós. A forma que cada indivíduo consome diz muito da sua maneira de ver ou perceber o mundo, mesmo que, como ocorre muitas vezes, não se tenha consciência de que tudo está interligado.
Papa Francisco, em sua Encíclica Laudato Si’, lança um olhar filosófico e teológico sobre o cuidado com a casa comum. E em uma de suas colocações, afirma que “[...]A Terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo.”
A questão do lixo está diretamente ligada ao modelo de desenvolvimento que vivemos. Ela se vincula ao incentivo do consumo, pois muitas vezes adquirimos coisas que não são necessárias e, como todo produto consumido, produzem diversos tipos de impacto. Dentre eles consta a liberação de gases que promovem o efeito estufa e a poluição das águas, subterrâneas e superficiais.
É notável que o lixo produzido seja também um problema socioeconômico, uma vez que grandes quantias de dinheiro são destinadas à sua coleta e tratamento. No aspecto social, vários indivíduos são afetados por sua concentração nas cidades, o que causa proliferação de insetos, transmissão de doenças, poluição visual, entupimento de bueiros, entre outros.
Embora seja considerada por nossa sociedade com bastante naturalidade, é notável como a prática do consumismo pode ser exercida com compulsão e até se transformar em doença – o que já é suficiente para colocar em risco a sustentabilidade do Planeta.
Fica cada vez mais difícil escapar da pressão que é imposta pelo sistema, seja por um estilo de vida, seja por afirmação social. “A moda, o luxo, e o consumo são a versão materialista da felicidade como se ela fosse proporcionada pelo mercado. Sem dúvida, proporciona prazeres. Mas esses prazeres são a felicidade? Não! Consumir não basta. A felicidade exige outra coisa, principalmente na relação com os outros e consigo. O ser humano não pode se reduzir a um consumidor” (Gilles Lipovetsky).
Portanto, é fundamental que cada cidadão tome consciência de uma recíproca pertença, vendo-se como um indivíduo pertencente ao Planeta e não como um ser egocêntrico. É necessário aprender a separar o joio do trigo, distinguindo o que lhe é essencial daquilo que é supérfluo à sua vida. Afinal de contas, estamos consumindo para viver ou estamos vivendo para consumir?
*Robert Henrique Sousa Dantas é bacharelando em Filosofia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino e postulante da Congregação dos Missionários do Verbo Divino na província BRN (Brasil Norte). E- mail: robertprados777@gmail.com

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