Político propôs um acordo de delação premiada, mas os membros da Lava Jato não aceitaram pois os delatados não eram alvo de interesse.
Cunha tinha informações sobre crimes, mas MPF ignorou. Conduta dos procuradores pode ser considerada crime. (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Em mais uma revelação de conduta suspeita de procuradores da República da Força Tarefa da Lava Jato, mensagens vazadas apontam que o Ministério Público Federal (MPF) ignorou denúncia feita pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) de fraude no parlamento. O político propôs um acordo de delação premiada, mas os membros da Lava Jato não aceitaram pois os delatados não eram alvo de interesse da força tarefa. Segundo juristas, isso pode ser considerado crime, pois o Ministério Público não pode escolher o que investigar e o que não investigar.
O relato da suposta fraude foi feito pelo próprio ex-deputado ao propor delação premiada. O procurador da Lava Jato Orlando Martello mencionou supostas "bolas mais pesadas no sorteio da relatoria" do Conselho de Ética em mensagens do Telegram obtidas pelo site The Intercept Brasil e analisadas pelo UOL. Clique aqui para ler a notícia na íntegra.
As mensagens do aplicativo Telegram foram trocadas em um grupo chamado "Acordo Cunha". Neles, participavam procuradores das forças-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Rio de Janeiro, Natal e na Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília. Também participavam investigadores da Operação Greenfield, em Brasília.
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O grupo foi criado por um procurador da PGR em junho de 2017, quando o advogado de Eduardo Cunha, Délio Lins e Silva Júnior, trouxe uma oferta de colaboração premiada. Ele havia falado com o cliente no presídio, em Pinhais (PR), na região metropolitana de Curitiba. A maioria dos procuradores que se manifestaram no grupo de Curitiba achava melhor rejeitar a tratativa de acordo com Cunha. No entanto, o procurador Orlando Martello disse que deixar de investigar a denúncia da manipulação de relatores seria "lamentável".
A rejeição à denúncia de Cunha se deu porque ele não tratou de outras pessoas e fatos de interesse do Ministério Público. Eles queriam informações e acusações sobre Carlos Marun (MDB-MS), ex-ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer (MDB), autoridades do Judiciário do Rio de Janeiro, fatos de suposta compra de votos para a eleição à Presidência da Câmara e repasses de dinheiro feitos pelo lobista Júlio Camargo e pelo empresário Joesley Batista, da JBS. Cunha também "concorria" com a colaboração premiada do doleiro Lúcio Funaro, em negociação na mesma época. Os procuradores avaliavam se era necessário fechar acordo com um ou com os dois.
A proposta de colaboração de Cunha continha denúncias contra o então presidente da República, Michel Temer (MDB), que sofria processos criminais que poderiam levar a seu impeachment. Além disso, Cunha teria informação sobre 70 deputados na Câmara. Por fim, os procuradores rejeitaram o acordo.
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Redação Dom Total e Uol
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