sábado, 1 de fevereiro de 2020

Brexit: em momento histórico, Reino Unido o conclui e deixa a UE

Reino Unido se tornou o primeiro país a deixar o bloco europeu, em meio a gritos de 'Liberdade!'
Homem passeia com a bandeira britânica próximo ao Parlamento, no centro de Londres, a poucas horas antes da saída do Reino Unido da UE
Homem passeia com a bandeira britânica próximo ao Parlamento, no centro de Londres, a poucas horas antes da saída do Reino Unido da UE (AFP)
O Reino Unido deixou oficialmente a União Europeia nesta sexta-feira (31), três anos e meio depois do referendo no qual 52% dos britânicos votaram a favor do Brexit, com o desejo de recuperar a soberania plena.

Às 23h locais (20h de Brasília), meia-noite na Europa continental, o Reino Unido se tornou o primeiro país a deixar o bloco europeu, em meio a gritos de "Liberdade!" dos partidários do Brexit e à tristeza de seus detratores.

"Isso não é um final, mas um começo", disse o primeiro-ministro, Boris Johnson, em comunicado a nação.

"Sei que podemos transformar essa oportunidade em uma vitória impressionantemente", acrescentou o homem que, ao finalizar anos de crise política que culminaram na renúncia dos seus antecessores, David Cameron e Theresa May, despontou com um enorme reconhecimento.

Um relógio instalado na fachada da Downing Street fazia a contagem regressiva para o momento em que, pela primeira vez na história, a UE perdeu um membro e ganhou um forte adversário.

"Queremos que esse seja o começo de uma nova era de cooperação cordial", que organizou uma recepção em sua residência oficial regada ao melhor do vinho nacional e com aperitivos tradicionalmente ingleses.

Em Bruxelas, a bandeira britânica foi retirada da fachada do Conselho Europeu.

O acontecimento de hoje é considerado simbólico porque até a transição oficial se completar, com previsão para o final de dezembro, quase nenhuma novidade deve existir.

Felicidade e lágrimas

Com gritos de felicidade, uma maré de cidadãos pró-Brexit comemorou em grande festa em frente ao Parlamento, que por três anos foi palco de debates acalorados sobre a questão mais importante na história do país nos últimos anos.

"Somos uma nação soberana, somos britânicos e não gostamos que nos digam o que temos que fazer", disse John Moss, de 44 anos, diretor de uma empresa de RH.

Horas antes, algumas pessoas tinham queimado uma bandeira da União Europeia.

A poucos metros, os detratores do Brexit, entre eles jovens que não votaram no referendo em 2016 e agora veem o futuro incerto, derramavam lágrimas.

"Sinto pena, tristeza. É muito terrível tudo que está acontecendo", disse Katrina Graham, de 31 anos.

Na Escócia, nação semi-autônoma que votou majoritariamente contra o Brexit, a novidade não foi bem recebida.

"Essa tristeza traz muita raiva", afirmou a primeira-ministra Nicola Sturgeon, prometendo "fazer todo o possível" para realizar um novo referendo de independência.

Na Irlanda do Norte, onde se teme que o Brexit desestabilize a frágil paz que colocou fim ao sangrento conflito que durou mais de três décadas, uma faixa foi levantada em Belfast, na qual estava escrito: "Essa ilha rejeita o Brexit".

47 anos de uma relação complicada

Em 1973, o Reino Unido entrou na Comunidade econômica Europeia, antecessora a UE, após sofrer vetos da França, em 1963 e 1967, preocupada que os britânicos fossem como um cavalo de Troia para o Estados Unidos.

A relação, no entanto, sempre foi complicada: os britânicos não adotaram a moeda única e a livre circulação de pessoas, além de pedirem para contribuir com uma menor quantia para o orçamento europeu e sempre ter se mostrado contra a integração política.

Apesar desse histórico, o resultado do referendo surpreendeu a todos.

"Isolamento esplêndido"

Retomando um período de política externa britânica que remete ao século 19, quando o país se mantinha à margem do continente europeu, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou para os perigos desse "isolamento esplêndido".

A partir de agora, Johnson terá que prosseguir com a difícil missão de não somente negociar tratados comerciais com a UE, mas com o Estados Unidos.

"Agora poderão fazer as coisas de forma diferente", afirmou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ressaltando os "enormes benefícios" dessa nova liberdade.

No entanto, as negociações não serão fáceis: Washington pressionará para que Londres seja mais contornável em relação às medidas de Saúde e Ambientais, enquanto Bruxelas pedirá que os padrões laborais e ecológicos sejam mantidos.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que a Europa se manterá muito firme nessas negociações e não aceitará possíveis políticas desleais.

O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, declarou pelo Twitter que os Estados Unidos continuarão mantendo laços fortes com o Reino Unido, após sua saída da União Europeia.

"Me alegra que o Reino Unido e a UE tenham acordado um acordo do #Brexit que respeita a vontade do povo britânico. Continuaremos construindo sobre nossa relação forte, produtiva e próspera com o Reino Unido enquanto entrarem neste próximo capítulo", escreveu Pompeo.

AFP - domtotal.com

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