Por Assessoria de Imprensa
11 / Jun / 2013 14:19
Lançado em 1994, o Projeto Igrejas-Irmãs entre o Regional Sul 1 (estado de São Paulo) e o Regional Norte 1 (Amazonas e Roraima), já enviou cerca de 70 missionários e missionárias entre padres, religiosas e leigas que serviram de um a quatro anos, diversas dioceses e prelazias da região amazônica. Publicamos, a seguir, o testemunho do padre Antônio Luis Fernandes, que atualmente se encontra em São Gabriel da Cachoeira (AM).
A missão vista por quem chega
São Gabriel da Cachoeira é um município do noroeste do Amazonas, às margens do Rio Negro, um dos mais caudalosos do mundo. É uma cidade com 25 mil habitantes localizada na parte mais preservada da região. A economia está centrada na agricultura de subsistência e em roçados. Mas quase tudo o que se consome vem de Manaus, e isso acaba gerando inconvenientes, como a elevação do preço dos produtos devido aos gastos com transporte. Por causa do tempo que se leva para esses produtos chegarem à cidade, também nem sempre encontramos produtos frescos e saudáveis, o que gera um maior consumo por produtos industrializados. O armazenamento em casa também é precário, pois, se na cidade há luz elétrica, nas comunidades ribeirinhas não há a mesma facilidade. O gerador é ligado por um curto período durante o dia, devido ao preço exorbitante do óleo diesel.
Nas comunidades ribeirinhas o que se constata é uma grande alegria com nossa chegada. Elas gostam de nos receber, se oferecem para as pequenas e grandes tarefas e fazem do encontro uma ocasião para retomarem algumas tradições, entre elas, a da merenda coletiva na maloca central. Com relação à comida, aliás, existe uma resistência no consumo de verduras. Mas o povo amazônico come em todos os momentos. Aqui eles chamam de merenda e já me informaram que, para um evento ser bem-sucedido, é só avisar que no seu final haverá merenda. Aqui se aloja uma questão pertinente: é engano pensar que o povo amazônico tem acesso à alimentação farta por estar na floresta. O rio não é tão generoso como se pensa, e a pesca em muitos lugares está restrita a um grupo que controla o acesso ao pescado. Aqui, merendar nos encontros é uma forma de se dividir o alimento. Um segundo elemento é a consciência do amazônida de comer agora o que se tem. Em muitas situações, as pessoas se alimentam, pois não têm certeza de quando terão novamente o que comer. Dentro desse emaranhado de questões, destaca-se a cordialidade das pessoas. Fui bem tratado e acolhido pelas pessoas da Igreja e pelos demais.
Itinerância
Aqui no Rio Negro, optamos por dar o nome de itinerância às visitas que acontecem pelo menos quatro vezes por ano e não comportam o atendimento a todos os sacramentos de forma indiscriminada. Nelas, o sacerdote tem a função de animar e orientar as comunidades no seguimento de Jesus, e, a
partir daquilo que é próprio de cada lugar, ajudá-los a encontrar forças para responder à sua fé. As distâncias, de fato, são enormes e existe todo tipo de dificuldade: rio muito agitado, pedras, excesso de cachoeiras, quebra do motor, falta de combustível e de alimentação. Tudo gera receio em quem vai pela primeira vez. Em minha primeira itinerância, visitamos mais de dez comunidades, e o resultado foi positivo. O que mais me chamou a atenção foi a generosidade em acolher, o modelo comunitário das refeições após a celebração onde cada um trazia o que possuía em casa, o número de pessoas que se confessam antes da missa, o número de jovens nas comunidades e a incidência alta de alcoolismo entre a população.
Nessa realidade, a Igreja tem um papel crucial de organização e de fomentação das experiências humanas e comunitárias. A Igreja tem seu papel reconhecido como o de formadora de uma identidade cultural: é ela quem ainda incentiva o uso da língua, das tradições e do imaginário indígena. Aqui é fundamental o respeito por essa identidade, e tanto bispo, como padres e religiosas são permanentemente instados a alimentar a vida emocional dessas populações. Nesse sentido, o que percebo é uma Igreja em constante mudança na tentativa de atender aos desafios e necessidades que a realidade impõe àqueles que se dispõem à missão evangelizadora.
Padre Antônio Luis Fernandes é sacerdote da Diocese de Limeira e participante do Projeto Missionário entre os regionais Sul 1 – Norte 1 da CNBB. Publicado no Informativo do Regional Sul 1 da CNBB, n. 216, junho 2013.
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