segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mesmo sem violência, houve tensão em frente ao aeroporto



Os protestos de ontem ocorreram sem violência, mas ocupação em frente ao aeroporto manteve a tensão
Em número menor que protestos anteriores, centenas de pessoas reuniram-se, novamente, na Avenida Alberto Craveiro, com bloqueio da Policia Militar, 2Km distante da Arena Castelão. Durou menos de uma hora e, pacificamente, recuaram em direção ao Aeroporto Internacional Pinto Martins.

Apesar da tensão, não houve confronto na manifestação de ontem, que se deslocou da Avenida Alberto Craveiro para a Avenida Senador Carlos Jereissati Fotos: Kiko Silva

Cerca de 100 pessoas interditaram as duas vias da Avenida Carlos Jereissati e quem tinha voos precisou seguir a pé. A polícia manteve-se de prontidão, sem disparos, mas o clima era de tensão. Chamou a atenção o esvaziamento do grupo nos dois protestos da tarde.

Articuladores do movimento dialogaram com o coronel Batista, que comandava o policiamento, para dizer que não estavam ali para confrontos, apenas para gritar pelos direitos de todos os brasileiros. "Nós também não estamos aqui para reprimir. Vocês podem protestar, desde que de forma ordeira. Só pedimos que não passem desse ponto, tudo pode se manter pacífico", afirmou o Coronel Batista.

"Ninguém tem pauta pra entregar para o governo não. O governo tem é que atender à vida real das ruas. Chega de corrupção, chega de a Polícia estar a serviço do mercado. A Polícia tem que estar a serviço da pessoa humana", afirmou o artista plástico Carlos Ponte, entre os manifestantes que recuaram do protesto na Avenida Alberto Craveiro, onde o acesso estava bloqueado pela PM.

Os manifestantes chegaram a tocar fogo nos pneus de uma borracharia para interromper o acesso de veículos ao local

O seu comentário se une ao de outras conclusões dos próprios manifestantes: as demandas em pauta não são de natureza apenas local, mas de atendimento a todos os brasileiros: mais investimentos em saúde, educação e transporte de qualidade. Um ponto sem unanimidade poderá ser a não votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que limitaria os poderes de fiscalização do Ministério Público.

Por volta de 15 horas, com pouco mais de meia hora que estavam lá, os manifestantes se dispersaram. Quem não foi embora, seguiu para a Avenida Senador Carlos Jereissati, em frente ao Aeroporto Pinto Martins. Apesar de sentados, e sob os gritos de "sem violência", boa parte dos cerca de 90 manifestantes hostilizava a imprensa e os policiais. O carro de uma equipe de reportagem teve os pneus esvaziados, outro veículo foi pichado e um cinegrafista chegou a ser agredido fisicamente.

Esvaziamento
As mesmas pessoas que gritaram contra a imprensa pediram aos repórteres, minutos depois, que flagrassem a tentativa de motoristas furarem o bloqueio, sob o risco de atropelar manifestantes. "Estamos saindo daqui, ficou muito perigoso, esse pessoal que está aqui não representa o movimento das ruas", lamentou o estudante Guilherme Vieira e Silva. Ele e dezenas de amigos participavam do protesto, mas afastaram-se do grupo que ficou em frente ao aeroporto.

Veja o vídeo:




MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER


Acessos impedidos
Duas avenidas foram bloqueadas
Sob forte policiamento, as pessoas que precisavam viajar tiveram que ir a pé até o Aeroporto Internacional Pinto Martins arrastando suas malas pela via, devido ao bloqueio dos manifestantes. O mesmo ocorreu para acessar o Castelão pela Alberto Craveiro.


Ciro Gomes elogia onda de protestos, mas critica ação de ´oportunistas´

O ex-ministro Ciro Gomes, irmão do governador Cid, esteve ontem em frente ao Aeroporto Pinto Martins, durante o bloqueio das duas vias da avenida pelos manifestantes. Chegou a conversar com alguns militares num dos pontos de bloqueios para carros, e criticou o movimento no aeroporto.

"Eu vejo com muito entusiasmo (sobre a onda de protestos), acho que o povo brasileiro tem o direito de se expressar, pedir que mude a política brasileira, que está marcada pela podridão em Brasília, a qualificação dos serviços essenciais que o povo exige uma atitude diferente, mas temos sempre que fazer uma distinção. Aqui tem uma meia dúzia de oportunistas de partidos de esquerda que são repudiados, como o PSOL e o PSTU, que são partidos fascistas, impedindo turistas de pegarem um avião no fim da tarde. Isso significa atrapalhar o emprego de 300 mil cearenses, isso não tem cabimento", afirmou Ciro.

Partidários do PSOL repudiaram o comentário de Ciro Gomes. Para o vereador João Alfredo, o termo fascismo foi usado com má-fé para caracterizar o seu partido.

"O fascismo é nosso principal inimigo. O que eu vejo é uma tentativa irresponsável do Ciro de criminalizar os dois partidos de esquerda que talvez sejam os únicos que não foram cooptados pela oligarquia dos Ferreira Gomes. Isso porque com algumas exceções, partidos de esquerda estão coligados aos partidos dos Gomes. Fascista é o governo da família dele", afirma João Alfredo, que vê o movimento das ruas com o caráter de grande espontaneidade da própria população.

O dirigente do PSTU Lucas Scaldaferri afirma que seu partido não participou do protesto em frente ao aeroporto, mas que mesmo assim apoia os protestos. "O comentário de Ciro Gomes foi infeliz. Quem coloca a polícia para bater em trabalhador é o governo, que tem característica fascista, não o nosso partido. O PSTU respeita as manifestações, os ativistas, e entende que eles estão lutando porque estão cansado de governo que não os representam o povo. O ativismo que está na rua é de uma maioria de jovens estudantes, e nos alegra muito que essa parcela importante está lutando por justiça social", afirmou o dirigente.

Assista à entrevista com Ciro Gomes


Atrasos

Várias pessoas que seguiam para o aeroporto disseram concordar com as manifestações nas ruas, mas houve estranhamento quanto ao grupo que se dispunha na frente dos policiais. "Eles não estão nem sabendo cantar o hino, mas se fosse de partido de futebol, saberiam", criticou uma das manifestantes, envolta na bandeira do Brasil, retirando-se do pequeno grupo por acreditar que "está ficando muito hostil".

"Esse pessoal não está protestando, eles querem vandalizar", comentou o universitário Pedro Nunes, que estava em seu quinto protesto. Saiu com os amigos, não sem combinarem novo encontro na assembleia geral às 18 horas de hoje na Praça da Gentilândia. Comparando aos demais protestos realizados em Fortaleza, o movimento na frente do aeroporto mostrou-se esvaziado de propostas comuns das manifestações pacíficas dos dias anteriores. Um dos manifestantes foi flagrado com revólver.

Numa via próxima, um grupo de 12 rapazes carregou pneus de uma borracharia e ateou fogo. O protesto na frente do aeroporto encerrou-se após três horas de duração. 

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