segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O papel do intelectual hoje


"Sem dúvidas a figura do intelectual vai se tornar mais rara com o passar do tempo".
Qual o papel do intelectual em uma sociedade pragmática, utilitarista, materialista e conformada? Parece que há uma grande dificuldade em situar esta emblemática figura no mundo atual. Claro que o intelectual sempre foi considerado um pária da sociedade. Como não esquecer a simbólica figura de Giordano Bruno (1548-1600), queimado como herege no século XVI por não abrir mão de suas ideias? O que ocorreu com Bruno simboliza a perseguição inerente ao verdadeiro pensador.

No mundo hodierno o próprio intelectual tem dificuldade em se situar. Se alguma profissão não for contabilizada nas engrenagens utilitaristas não serve. Mas em um tempo essencialmente plural, como o nosso, há espaço e necessidade para profissões de cunho mais teórico, tão desvalorizada.

O que vêm ocorrendo, no entanto, é a própria entrega do intelectual dentro dessa engrenagem. Percebe-se uma necessidade que o homem de ideias tem de participar da vida ativa para se sentir útil, e tornar sua profissão mais “prática”. Em alguns países, como a França, por exemplo, o “engajamento” atual do intelectual depende de sua atuação em áreas governamentais ou do terceiro setor. Alguns se tornam políticos profissionais, enquanto outros criam ONGs a fim de terem voz ativa.

No Brasil não vem sendo diferente, muito pelo contrário. Enfatizado pela nossa falta de tradição no campo das ideias, o que vem ocorrendo é que o intelectual com algum renome aceita cargos burocráticos nos governos vigentes, o que lhe faz calar ante as calamidades ocorridas. Criam-se situações absurdas, pois o intelectual, preso a ideologias e governos, não tem coragem de explicitar os erros cometidos, calando com certa conveniência.

Há intelectuais que, apesar de estarem presentes em veículos de comunicações de massa, acabam adequando seu discurso em prol daquilo que aparece como mais palatável para a opinião pública. Outros intelectuais, por sua vez, com necessidades de “mudar o mundo” se entregam ao pragmatismo vigente, atuando no campo prático.

A própria academia contribui para que o intelectual se esqueça do campo das ideias, ao dar uma importância ímpar a publicações que, em sua maioria, não passam de remendos de textos já publicados (já dizia um antigo sábio professor que excelentes textos dependem de tempo e reflexão!).

Sem dúvidas a figura do intelectual vai se tornar mais rara com o passar do tempo. Os burocratas, os medíocres e os especialistas dos especialistas representam bem os homens do nosso tempo. O intelectual é um homem perdido no tempo. Seu papel no mundo atual é pífio. Venceram os burocratas!

Émilien Vilas Boas Reis é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre e Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de Filosofia do Direito e Metodologia de Pesquisa na Escola Superior Dom Helder Câmara. 

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