A Palavra de Deus que nos é trazida para nosso alimento
espiritual na celebração eucarística deste domingo nos convida a entrar em
comunhão com o nosso Deus, sempre pronto para nos perdoar. A bondade
misericordiosa de Deus se encontra presente nas três leituras. O Senhor Jesus
para nos dizer o quanto Deus nos ama a ponto de nunca nos negar o seu perdão
conta três parábolas num contexto bem preciso, ou seja, Ele quer com elas
justificar a sua amizade com os pecadores. Se observamos bem o desenvolvimento
de cada uma, de pronto nos damos conta que Ele quer chamar a atenção sobre
Deus, que é nosso pai. Para isso, Ele não usa de muitas palavras, mesmo naquela
mais extensa, a do filho pródigo, para descrever o pecado.
Na medida em que a história vai se desenvolvendo, o momento em
que o pastor encontra a ovelha, a mulher, a dracma e o pai o seu filho é sempre
uma ocasião de grande alegria e, para que sua alegria seja completa, chama os
amigos para festejar. O momento do reencontro é sempre narrado com muita
ênfase, o que não faz para os outros momentos das parábolas, Isto porque, se o
momento da conversão do pecador é importante, muito maior é a alegria de Deus
por tê-lo reencontrado. Vale insistir que o Senhor com as três parábolas
pretende colocar nossa atenção sobre Deus Pai.
Porque é para Jesus, que se deve olhar para entender esse imenso
amor de Deus para com todos nós. Para ver Deus é preciso ver Jesus. Por isso,
não é de se estranhar que seja o próprio Jesus a nos contar as parábolas,
porque sua pessoa faz parte de cada uma. Por detrás da pessoa de Jesus, que
acolhe os pecadores, se encontra a pessoa do Pai, de Deus. Mas, como se
encontra Deus? A resposta se encontra na vida de Jesus, através da qual, com
seus gestos, suas palavras, seus sinais, vai nos falando incansavelmente do
amor misericordioso de Deus Pai, o amor que tem a sua plenitude na cruz e na
ressurreição.
As três parábolas não são apenas um conto narrado por Jesus, mas
um profundo ensinamento, porque tem por finalidade falar de Deus, daquele Deus
anunciado por Jesus desde o primeiro momento do seu ministério pastoral, que
acolhe a todos independentemente de qualquer outra coisa. Dizer que Deus acolhe
a todos, significa dizer que Ele não se sente quieto enquanto não encontra cada
um de nós. O nosso Deus é santo, mas não se aquieta enquanto não encontra o
pecador. O nosso Deus é eterno, mas não está em paz na sua eternidade enquanto
não encontra o mais pequeno de seus filhos. Evidentemente, isto não significa
que seja melhor ser pecador, quase invejando a quem possa se encontrar afastado
do amor de Deus.
Invejar o irmão que se afasta de Deus pelo pecado é não se dá
conta da graça que se recebe quando se conhece Deus, ou seja, não se dá conta
que o afastamento de Deus é uma infelicidade para se superar e não para se
desejar. Naturalmente, o agir de Deus para conosco deve ser o mesmo modo de
nós, que cremos em Deus, agirmos com os outros. Alguém pode até se dizer ateu,
mas ele deve saber que Deus não se tranquiliza, não vive a sua paternidade e
nem quer se faça festa, enquanto não encontrar o último de seus filhos que dele
se distanciaram.
Este é o rosto do Deus de Jesus, que se encontra por detrás das
três parábolas contadas por ele para nós neste domingo. Isto deve ser para nós
um encorajamento e um consolo, porque é uma mensagem para nós; mensagem
exigente e imperiosa, porque é este Deus amoroso, misericordioso e bondoso para
com todos que nós devemos testemunhar. Daí o nosso empenho, que deve ser incansável,
como é o de Deus por nós, testemunhar com nossa vida de cristãos como é
reconfortante tudo fazer para se estar sempre na amizade de Deus e de jamais
perdemos a confiança nele, quando por maldade ou por fraqueza nos afastar
dele.
Neste domingo, o Senhor nos convida a acolher em Jesus a
misericórdia incansável de Deus para conosco; um Deus que não sossega até nos
encontrar. Mas, um Deus que nos convida também a ser misericordioso com os
outros. É triste quando experimentamos que somos pecadores, experimentamos a
bondade acolhedora de Deus para com nossos pecados e, depois, somos duros,
insensíveis e exigentes em relação aos outros. É sempre confortador quando se
percebe, como fez o filho pródigo, que somente se pode ser feliz junto de Deus,
nem que seja no último lugar. Amém.
*Doutor em Direito Canônico, Presidente do Tribunal Eclesiástico do Ceará e professor da Faculdade Católica de Fortaleza
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