(Foto: Reprodução) |
A sociedade brasileira manifesta timidamente sua indignação frente aos disparates cometidos pelos poderes da República. Com o esvaziamento das manifestações de rua, esbravejamos no sofá diante da TV e nas mesas dos bares contra a corrupção, a violência, as injustiças, o cinismo. Compartilhamos milhares de postagens nas redes sociais. Derramamos indignação no trânsito e nas relações cotidianas.
Contudo, nada é tão ruim que não possa piorar. De repente, a injustiça pode entrar em nossa casa e se sentar no sofá ao nosso lado, atingindo as pessoas que amamos. Ninguém está imune a essa realidade. Quando isso acontece, não basta se indignar em desabafos estéreis.
No momento em que a injustiça nos atinge diretamente na carne e no espírito, é preciso entrar em ação. Nessa hora, constatamos as dificuldades e nossa impotência diante de um sistema jurídico caro, ultrapassado, desumano e burocrático.
Estado negligente
Absurdos são cometidos pelas instituições que deveriam cumprir a lei e praticar justiça. Autoridades assinam negligentemente documentos que definem, de forma nauseantemente arbitrária, o destino de pessoas comuns, impotentes e indefesas diante de um estado negligente.
No sistema judiciário brasileiro o cidadão comum se transforma em bode expiatório, sendo ignorado como ser humano. Indivíduos sem sobrenome importante, sem parentes poderosos ou dinheiro para custear sua defesa, mofam nas filas dos tribunais.
Basta ser acusado por uma autoridade de ter cometido algum delito para que uma pessoa, mesmo sem provas e sem antecedentes criminais, seja privada de sua liberdade, tendo que aguardar julgamento nas cadeias públicas e sendo obrigada a conviver com profissionais do crime. As prisões estão lotadas de pequenos delinquentes, tratados com todo rigor, enquanto grandes criminosos gozam de privilégios e desafiam, escancaradamente, a lei.
Embora legais, embargos infringentes mostram-se imorais na medida em que privilegiam alguns com critérios que não se estendem a todos. No Brasil, a “presunção de inocência” só se aplica às classes dominantes. O cidadão comum é sempre suspeito. Tanto que, para conseguir um trabalho, precisa apresentar folha corrida e atestado de bons antecedentes criminais.
Absurdos da lei
Enquanto isso, estupradores atuam na Casa Civil, homofóbicos nos Direitos Humanos, corruptos na Comissão de Direito e Justiça da Câmara. Ao que tudo indica, um currículo de delitos contribui para a qualificação do político brasileiro.
Por outro lado, pessoas comuns e suas famílias sofrem um impacto devastador quando abordadas como suspeitas. A prisão preventiva resulta em perdas profissionais, pessoais, emocionais e sociais que não se limitam ao momento presente, mas podem acompanhar o indivíduo ao longo da vida. Já o “representante do povo” responde por seus crimes em liberdade e continua exercendo o cargo do qual se aproveitou para desviar dinheiro público. A ele nada acontece.
Eis os absurdos da lei! No Brasil, a Justiça escolhe suas vítimas. Cegos são aqueles que cobrem de privilégios os ricos e poderosos, abandonando à própria sorte o cidadão comum.
Vânia de Morais Psicóloga, doutoranda em Linguística (PUC Minas, bolsista pela Fapemig), mestre em Ciências da Saúde (UFMG), pesquisadora em cognição e linguagem. Concentra seus estudos nas questões relativas à linguagem em psicoterapia. Professora em cursos de capacitação de psicoterapeutas e de Especialização em Terapias cognitivas da UFMG.
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