quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Mães que trabalham fora



O movimento feminista modificou profundamente a mentalidade da mulher moderna (Foto: Divulgação)
Necessidade estrita ou realização humana? Algumas mães não conseguem sustentar fisicamente os filhos, se não trabalharem. São muitas no mundo dos pobres. Mães solteiras, mães abandonadas pelos esposos, mães de maridos desempregados. Como deixar as crianças morrerem de fome, não terem as condições mínimas de vida?

A gama de tais mães aumenta nos dias de hoje à medida que os salários se aviltam, o custo de vida sobe. Pais, que até então sustentavam com seu trabalho a família, já não o conseguem. Necessitam de acréscimo que lhes fornece o salário da esposa.

Paralela e transversalmente a essas necessidades estritamente salariais, surge fator cultural de enorme peso. O trabalho faz-se fundamental na vida da mulher, independentemente da situação financeira familiar. Não se trata, em primeira linha, de trazer mais dinheiro para dentro de casa, embora esse discurso quase sempre circula. Dinheiro tem tal força de atração que ninguém, até os mais ricos, julga que já o tenha suficiente. Só por opção de outra natureza que se renuncia a aumentar a renda familiar.

No entanto, suponhamos que a conversa de dinheiro seja recessiva. Os caracteres dominantes soam realização profissional, independência da mulher também economicamente diante do marido no presente e, em possível separação, hoje cada vez mais comum. Nenhuma mulher arrisca ficar dependente unicamente do salário do marido, mesmo que carregue grande parte da educação dos filhos e do cuidado da casa. Prefere pagar outra pessoa para isso e buscar-se um emprego. Isso já está acontecendo até entre famílias relativamente pobres. Empregadas domésticas que contratam outra doméstica para sua casa, enquanto elas trabalham para patroa que lhes pague mais.

O movimento feminista modificou profundamente a mentalidade da mulher moderna. Cresce o número de profissionais. São mães e profissionais. Necessitam conjugar a dupla função. Cada vez menos mulheres preferem deixar a vida profissional só para cuidar dos filhos e da casa. Assumem vida diária pesada. No máximo conseguem forçar o marido a dividir com elas tarefas educativas e domésticas. Tudo leva a crer que se caminha por tal via. No mundo profissional o fato de ser mãe não tem sido limite para trabalhar fora. Antes incentivo.

Com a maternidade acrescem-lhes as obrigações e tarefas de tal modo que as mulheres-mães se desdobram em encontrar alternativas: maior envolvimento do marido, outra pessoa que as ajude, sobrecarga de trabalho na esperança de que seja durante tempo limitado, renúncia a muitos lazeres e passeios para dar conta do recado.

E os filhos? Já não se educam nos mesmos moldes das famílias de mães domésticas, sem trabalho fora. O custo humano mede-se com dificuldade, já que os pontos de comparação desaparecem. As escolas e a sociedade encontram-se em face de geração de crianças e adolescentes com menor presença física dos pais. Certamente menos seguras. Irritadiças e carentes. Adquirem cedo autonomia inclusive para relações sexuais. Não se estranha que as estatísticas apontam idades sempre mais jovens para as primeiras experiências sexuais, o crescimento de gravidez de adolescentes. O fator da ausência dos pais não é o único. Há toda uma cultura permissiva, o efeito-demonstração de novelas, revistas e colegas. Mas, sem dúvida, faltando a presença-referência de pai e mãe, os filhos sem clareza sobre os valores fundamentais circulam perdidos pelo mundo.

João Batista Libânio é teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação. 

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